segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Fim de semana prolongado

Um fim-de-semana mais prolongado faz sempre bem. Perdemos algum contacto com o Mundo, gahamos algum contacto connosco e com aqueles que vão connosco durante esses dias.
É bom. Carregamos baterias, descansamos a mente, fugimos da rotina, quebramos com o stress da agitação da vida profissional, familiar, do leva e trás as crianças à escola, à natação e demais actividades extra-curriculares.
Podemos libertar a pressão que nos invade no quotidiano e nos impede, tantas vezes, de sermos suficientemente lúcidos para não cairmos nas rotinas e não conseguirmos evitar a melancolia derivada das rotinas que se impõem com hercúlea força.
Regresso, por período curto, a um sítio que já aqui recomendei e que merece muitas e muitas visitas. Parabéns ao(s) autor(es). É o "olhares", uma notável e enorme galeria de fotos.
Vou lá e "peço" emprestada uma foto para ilustrar este escrito. Uma foto simples, harmoniosa, tranquila mas, ao mesmo tempo, com força. Todos a remar em sincronia e para o mesmo lado.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Acordar

A cidade de Abrantes é bonita. Tem perspectivas muito interessantes e agradáveis.
No próximo Sábado, muda a hora, o que significa que o amanhecer passará a ser mais cedo, por volta das 6 da manhã. Felizmente, ao longo desta semana, ainda amanheceu por volta das 7, o que proporcionou a possibilidade de captar os primeiros raios de sol a partir do Alto de Santo António.

Há locais que são acessíveis a todos e outros que são reservados.
Há lugares para onde, normalmente, não olhamos mas que são igualmente bonitos.

No "meu mundo" tenho lugares reservados, que habito e que têm importância na minha vida.
Uns são públicos, outros são, naturalmente, privados. É assim com todos nós.

Por debaixo da minha janela, penso e procuro compreender o "meu mundo". Tento; não sei se consigo - mas tento e continuo tentando.

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

Antes de comprar um novo par de sapatos, pare e pense

Quantas vezes compramos coisas de que não precisamos?

O mundo em que vivemos leva-nos a não pensar muito nos problemas que seres humanos sentem na pele todos os dias.

Vivemos, trabalhamos, temos o nosso ordenado, compramos coisas necessárias e úteis e vamos seguindo a nossa vida.

Porém, quantas vezes cedemos e compramos algo de que não precisamos MESMO?

Por exemplo, um par de sapatos. É um exemplo. Há pessoas que têm armários cheios de sapatos com poucas horas de uso. Vale a pena olhar para a imagem que se segue.

Uma fotografia que já venceu 3 prémios internacionais e que dispensa comentários. Só nos remete para uma reflexão sobre o sentido da vida e dos nossos gastos supérfluos e desnecessários.

Cá vai, mais uma vez agradecendo ao meu amigo Nuno Romão pelo seu envio.

Lamento não poder creditar a foto, mas desconheço o seu autor. Peço desculpas por isso. Se viesse creditada, aqui ficaria o registo. Como sempre faço.

domingo, 23 de outubro de 2005

O Código Da Vinci

Comecei a lei, apenas na passada sexta-feira, o livro de Dan Brown, composto de 536 páginas.




































Bem sei que já muita gente o leu antes de mim mas, embora me tenha sido oferecido há cerca de um ano, ainda não tinha tido oportunidade de o começar a ler.
É fantástico, muito interessante. Vou na página 316, ao cabo de dois dias. Quanto mais se lê, mais se quer ler.
Lembrei-me da sua forte ligação à Ordem do Templo, aos Templários, cuja presença foi forte na nossa região.
Haverá algum fundamento de verdade nesta história? Haverá?
Eis um belo exemplar arquitectónico da sua obra (dos Templários).

Que relação pode existir entre este Castelo e o Sangreal, ou Santo Graal? Estou apenas a especular e a tirar gozo do que ando a ler, independentemente da verdade de fundo que possa, ou não, existir. Fiquei, fã da ficção de Dan Bronw, pelo menos isso...

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

A Diferença entre o Paraíso e o Inferno...

O QUE É O PARAÍSO?
.
É um lugar onde:
- a polícia é britânica;
- os cozinheiros são franceses;
- os mecânicos são alemães;
- os amantes são portugueses;
- e tudo é organizado pelos suíços.
.
O QUE É O INFERNO?
.
É um lugar onde:
- a polícia é alemã;
- os cozinheiros são ingleses;
- os mecânicos são franceses;
- os amantes são suíços;
- e tudo é organizado pelos portugueses.

(Obrigado Nuno Romão e um abraço)

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Por Abrantes, Por Justiça!

O Dr. José Amaral abordou-me há cerca de duas semanas, para me dar conta de uma situação relativa (ainda) à sisa da Central do Pego.
Inteirei-me do assunto e fiquei, desde logo, disponível para o ajudar no que fosse preciso.
Na passada semana, o Dr. Amaral informou-me que a solução seria o recurso a uma petição a enviar para o Tribunal Constitucional.
A aposta será, assim, recolher o máximo de petições que for possível.
Aceitei, uma vez mais, o desafio cívico. Ontem mesmo, comecei a difundir o texto que recebi, fazendo o resumo da história. Recebi também (e reenviei) a minuta da petição - uma por pessoa, residente no concelho de Abrantes, maior de 18 anos de idade.
*
Aqui vai o texo de introdução, para que todos possam ter acesso ao mesmo:
POR ABRANTES, POR JUSTIÇA!
APELO AOS CIDADÃOS

1. Como é do conhecimento geral, o Governo concedeu isenção de sisa à venda da Central Termo-Eléctrica do Pego, feita pela EDP à TEJO ENERGIA, no ano de 1993.
2. Na Lei do Orçamento Geral do Estado para o Ano de 1994, então aprovada pela Assembleia da República, não foi considerada a obrigação de compensar o Município de Abrantes pela perda de receita resultante da isenção concedida, conforme impunha o artigo 7º, nº 7, da Lei das Finanças Locais, tendo sido rejeitadas as propostas apresentadas pelos então Deputados Jorge Lacão e Luís Peixoto, no sentido de se inscrever no Orçamento a correspondente verba.
3. À parte dos processos instaurado pela Câmara Municipal de Abrantes nos Tribunais Administrativos, o Advogado José Amaral, invocando diferentes argumentos, instaurou ele próprio, no tribunal comum, no dia 15 de Setembro de 1994, uma acção popular.
4. Nessa acção é pedida a condenação do Estado, não já propriamente a cumprir a obrigação de compensação, prevista na Lei das Finanças Locais, o que importaria, em sua opinião, violação do princípio da separação de poderes, mas sim no pagamento de uma indemnização ao Município de Abrantes, pelo seu não cumprimento, por um valor que levasse em linha de conta os financiamentos comunitários que a Autarquia poderia ter obtido, se lhe tivesse sido atribuída a verba compensatória, a que tinha direito, de 2.700.000 contos.
5. Nesse processo, ficou definitivamente assente, em 1ª instância, que o prejuízo consequentemente sofrido pelo Município de Abrantes se cifra no valor da indemnização pedida, de 10.800.000 contos.
6. A acção foi, todavia, julgada improcedente, com o argumento, utilizado no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 1996, sobre o caso da Câmara Municipal de Braga, segundo o qual a Lei do Orçamento, ao não observar o artigo 7º, nº 7, da Lei das Finanças Locais, tacitamente o teria revogado.
7. No seu processo de acção popular, o Advogado José Amaral, logo na 1ª instância, invocou a inconstitucionalidade dessa interpretação da Lei do Orçamento Geral do Estado, cuja elaboração e aprovação pela Assembleia da República estão sujeitas às obrigações decorrentes de todas as leis em vigor.
8. Segundo o acórdão do caso da Câmara de Braga, porque a Lei do Orçamento não observou a obrigação de compensação prevista pelo artigo 7º, nº 7, da Lei das Finanças Locais, isso implicaria que estaria a revogar essa específica norma de lei, mas só naquele momento, instantaneamente, para aquele ano, visto que admite que o preceito legal, não expressamente revogado, volta depois a entrar em vigor, logo a seguir à aprovação de cada Lei do Orçamento que o ignore, e não aplique.
9. Reputando de inconstitucional esta interpretação, que em termos puramente lógicos se percebe ser falaciosa, o Advogado José Amaral recorreu do acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça, no processo da acção popular que instaurou para o Tribunal Constitucional.
10. O Juiz-Conselheiro relator decidiu, porém, não tomar conhecimento do recurso, mandando arquivar o caso, com o falso argumento de que a questão de inconstitucionalidade não teria sido suscitada durante o processo.
11. O Advogado José Amaral reclamou dessa decisão, sendo a reclamação para a conferência normalmente decidida apenas por três Juízes-Conselheiros.
12. No entanto, a lei admite que, em certos casos, quando tal se justifique em razão da natureza da questão a decidir, o Presidente do Tribunal Constitucional determine a intervenção de todos os Juízes-Conselheiros.
13. O Tribunal Constitucional deve ser confrontado com as suas responsabilidades, pois que aos Tribunais compete administrar a Justiça em nome do Povo, com absoluta imparcialidade e total transparência.
14. Apela-se, assim, a todos os cidadãos, e em especial a todos os Cidadãos Abrantinos para que assinem a petição dirigida ao Presidente do Tribunal Constitucional, no exercício do direito consagrado no artigo 52º da Constituição, no sentido de que seja determinada a intervenção do plenário no julgamento da reclamação para a conferência apresentada pelo Cidadão José Manuel das Neves Amaral, no processo da acção relativa à indemnização pelo Estado, a favor do Município de Abrantes, pela não atribuição de verba orçamental compensatória da isenção de sisa, na venda da Central Termo-Eléctrica do Pego.
*
De seguida, vai o texto da petição, que pode ser copiado deste blog, colado em Word, impresso e entregue no consultório do Dr. José Amaral ou enviado directamente para o Tribunal Constitucional.
Exmº Senhor
Presidente do Tribunal Constitucional


______________________________________________________________________________________ residente em _____________________________________________________________________________________________
titular do Bilhete de Identidade número _____________________________,
- ao abrigo do disposto no artigo 52º da Constituição da República, exercendo o direito de petição, e dentro do absoluto respeito pelo princípio da independência dos Tribunais, que não é posto em causa, uma vez que se trata de actuar um poder discricionário, vem solicitar a V. Exª, e, por seu intermédio, a esse Alto Tribunal, seja determinado o julgamento com intervenção do plenário da reclamação para a conferência apresentada pelo recorrente JOSÉ MANUEL DAS NEVES AMARAL, no processo pendente pela 2ª Secção, sob o número 414/05 (acção popular tendente à indemnização ao Município de Abrantes, pela não compensação orçamental da isenção de sisa concedida pelo Governo, em 1993, à transmissão para a TEJO ENERGIA da Central Termo-Eléctrica do Pego) – porquanto tal se justifica em razão da natureza da questão a decidir, e assim o permite, por identidade de razão, o disposto no artigo 79º-A, nº 3, da Lei Orgânica do Tribunal Constitucional.


a) _________________________________________________________________
*
Com base no exposto, inicia-se aqui um período de recolha de assinaturas para que o maior número possível de peticionários exerçam um direito que a Constituição da República Portuguesa lhes consagra. Uma tarefa difícil mas que temos de tentar.
Esta intervenção cívica de todos os abrantinos, de todos os quadrantes políticos, de todas as associações, de todos os cidadãos, é urgente e fundamental.

Uma imagem vale mais do que mil palavras

Eis a descrição política de Abrantes, no momento actual, numa simples imagem.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

Há quem diga...

Há quem diga que aquilo que escrevo é psicologia, mas não deixam de ler atentamente.
Há quem diga que me falta objectividade, mas não vejo quem o possa dizer.
Há quem diga que o que escrevo não tem interesse. Então, porque sou lido justamente por essas pessoas?
Tenho pena da falta de sentido ético da vida que vejo em algumas pessoas.
Tenho pena que tenham deixado de ser felizes com a vida.
Tenho problemas (como toda a gente, ou até talvez mais do que a média) mas vivo bem, feliz, em minha casa com a minha mulher e os meus filhos, no meu mundo pequenino.
E esses, que me criticam, como é?
São felizes? Gostam de si mesmos? Gostam dos outros? Gostam do mundo?
Não me preocupam as respostas, por isso não permito comentário ao post.

domingo, 16 de outubro de 2005

Ressaca do Benfica

SLB! SLB! SLB! SLB! SLB! GLORIOSO, SLB! GLORIOSO, SLB!

Não vi o jogo, porque estava no fogo de conselho dos Escuteiros. Mas fui ouvindo o relato e, quando cheguei a casa, ligei-me na SIC Notícias e vi o resumo na TVI.
Boa malha. Nuno Gomes em forma.

E o Pinto da Costa (que é quem menos aprecio no FCP) a ficar mal. Paciência...
Mas o Benfica ainda está mal classificado na tabela da I Liga. É preciso continuar a recuperar. E ganhar já contra o Villareal para a Liga dos Campões.
Obrigado, jornal Record, pelas imagens usadas.

sábado, 15 de outubro de 2005

Fim-de-semana de Outubro

O Pedro Afonso foi para um acampamento de escuteiros.
A Mafalda foi brincar com o Tomás.
A campanha acabou. Um certo vazio.
Um casal amigo convida-nos para almoçar e acabamos por passar lá a tarde, conversando e confraternizando.
Foi fácil e foi agradável.
Chego a casa e ligo o computador, antes de sair para ir ao fogo de conselho do Jamboree, em São Lourenço. Parece que os escuteiros não foram autorizados a acampar no local onde decorreram as Festas de S. Lourenço. Não me quero aborrecer com isso. Paciência. Não vou pedir contas a ninguém da Câmara sobre isso.
Navego pelos blogs habituais, à procura de textos interessantes e pensamentos a reter na memória.
Vou ao Quarta República e encontro uma imagem que vou publicar, com respeito pelo crédito de colocação original.

Uma bela imagem, sem dúvida.

Continuo a navegar e chego ao Extranumerário, um blog fantástico sobre poesia contemporânea. Vale a pena uma visita. O seu autor, Gonçalo Nuno Martins, que não conheço, tem veia artística.

Não resisto, após as eleições autárquicas, a transcrever o pema "A quadrilha". Cá vai:

Avelino já tem dentes do siso

Concorre com os “Malucos do riso”

E quando não vai ao bordel

Fica a ler Maquiavel

Ainda quer roubar mais vezes

Nada resta no Marco de Canavezes

O people de Felgueiras axa cool

A doutora Fátima e o saco azul

“Ela vai à bola todas as semanas

E no final paga o fino e as bifanas”

Ó Fatinha fazias cá uma falta

Nada como uma ladra pra animar a malta

Valentim é o maior do campeões

Oferece varinhas-mágicas e televisões

Festa e sardinhada na avenida

E que se lixe a câmara falida

Que o major está bem de vida

O Isaltino é um queridinho

Guarda o dinheiro do sobrinho

E ao Domingo vai à missa

Rezar pelas contas da Suíça

E se a eleição der para o torto

Compra um táxi e rouba no aeroporto

Ó ladrõezecos deixem-se de modas

O vosso problema é falta de fodas.

Não fui eu que escrevi. Mas está interessante.

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

O que me pediram

Pediram-me hoje ao almoço que não escrevesse sobre coisas tristes e deprimentes. Que escrevesse antes sobre coisas alegres, sobre o prazer da vida. A história do exaurido Miguel era, de facto, triste.
Percebi, de imediato, que era uma boa verdade. Fingi não prestar muita atenção, mas quem me avisou tinha razão.
Sempre fui uma pessoa alegre, bem disposta, que tem prazer em viver.
Um outro amigo, que guardo desde a infância, mandou-me um mail a desafiar-me para, no próximo fim de semana, irmos ao autódromo do Estoril, ver a fórmula alternativa à F1 - a A1. O nosso concorrente, qualquer coisa Parente (apelido) está mal colocado na tabela mas é sempre uma promessa a parece que promete fazer qualquer coisa de interessante a correr em casa. É uma boa opção. Talvez aceite o repto e lá iremos até à AML.
Outro amigo, ex-Secretário de Estado, bem como outro amigo, seu ex-Chefe de Gabinete, telefonaram-me ontem a desafiar-me para um jantar em Lisboa, a meio da próxima semana. Sou capaz de aceitar o desafio.
Sei que tenhos bons amigos, que se preocupam comigo, que me querem ver bem disposto. E isso é muito importante e extraordinariamente gratificante na vida.
Vale a pena ter família e amigos. É meio caminho andado para a nossa felicidade. Para a minha, é. De certeza!
Bom fim de semana.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Miguel, o exaurido - Conto de ficção

Miguel vinha exaurido.
As pernas tremiam que nem varas verdes. Nunca havia pensado que poderia assistir a uma cena daquelas.
Sentou-se. Levantou-se. Sentou-se. Voltou a levantar-se. Lavou a cara no bebedouro público onde, a custo, conseguiu afastar os pombos que por ali costumam habitar em dias de calor.
A escola havia-a deixado aos dez anos de idade, quando resolveu partir com os homens dos carrinhos de choque, no final de mais uma Feira Anual. Desde então, nunca mais pegou em livro algum. Mal sabia ler ou escrever, mas em contas de cabeça era um ás, ninguém o conseguia enganar. Talvez por isso ganhou o epíteto de ministro da droga.
Essa era a sua actividade. Comprar e vender, traficar, roubar. Nunca matou e não tomava drogas duras. Sabia que não o poderia fazer, pois isso seria o seu fim. Fumava uns charros, não dispensava a sua ganza.
Nunca esteve preso. Uma vez, de noite, em pleno Inverno, após o início de novo ano, conseguiu fugir por uma vala de esgoto, após uma rusga em Almada. Andou desaparecido durante quase uma semana e, quando surgiu em casa de Matilde, a namorada, ia doente. Esteve internado durante mais de um mês no Hospital, com difteria e tuberculose. Nunca mais foi o mesmo, ficou para sempre franzino, seco de peles e de olhar, sorriso triste e pose deslombada.
Porém, naquela noite, teve de se fazer forte e corajoso.
Entrara em casa de Matilde, como habitualmente, em busca do seu sossego e de um pouco de conforto no regaço da sua amiga de infância, auxiliar num lar de crianças abandonadas. Uma mulher pobre mas honrada, amargurada pelos azares que a vida lhe trouxe mas séria, triste mas digna. Nunca disse a Miguel que uma certa vez, abortou, impedindo que o filho de ambos chegasse a nascer. Estava de esperanças há 8 semanas quando decidiu que o rebento nunca haveria de conhecer este mundo, nem o pai, nem a mãe. Para não ter de cair na mesma vida, na mesma miséria, na mesma desgraça. Fê-lo por amor.
Miguel procurou Matilde mas não a encontrou. Por isso, sentou-se e ligou o televisor. Enrolou mais um charro, que tragou com uma mini e adormeceu ainda antes do final da primeira parte do jogo entre o Benfica e o Sporting, um clássico que não lhe despertou interesse. O seu desinteresse era devido a outros interesses da sua vida.
Quando acordou, pelas quatro da madrugada, estava amarrado a uma cadeira, a casa revolvida e Matilde, em frente de si, enforcada com um bilhete pendurado no vestido e o seio pendurado por fora do vestido rasgado.
Ao longe, Miguel conseguiu ler: “NUNCA MAIS VENDAS DROGA IMPURA. ÉS O PRÓXIMO”. A assinatura era de Cajó, um cliente, que agiu assim zangado com a falta de pureza do ‘cavalo’ que Miguel lhe havia vendido.
Atrás de si, um rastilho consumia-se em direcção a uma botija de gás. E ele amarrado, impotente para se mover, sem força para sair dali.
Conseguiu ir buscar forças onde nunca pensou que elas estariam guardadas e atirou-se para o chão, rastejando em direcção à porta da rua. Estava fechada. Restou-lhe fazer novo esforço e atirar-se da janela.
Caiu do primeiro andar no pavimento de terra batida e a cadeira, partiu-se. Conseguiu fugir mais uns metros e, ao olhar para trás, viu desaparecer num colorido vermelho, amarelo e laranja, toda uma existência, uma vida e conforto.
Correu o mais que pode e foi assim que o encontrei.
Miguel vinha exaurido.

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Dias do futuro

No passado Domingo, foram criadas condições para mudar a minha vida, as minhas rotinas, os meus objectivos.
Posso agora olhar com mais detalhe para outras coisas que tenho deixado descuradas: a minha família, por exemplo.
O meu filho mais velho perguntou-me na Segunda-feira de manhã se eu tinha vencido ou perdido as eleições. Quando lhe respondi que perdi, ele soltou um sonoro "FIXE!".
Quis saber do seu contentamento e ele respondeu que, assim, bem vistas as coisas, eu passaria a ter mais tempo para ele, para a irmã e para a mãe.
É verdade. Tive de concordar.
Tenho pena de não logrado vencer mas já passou.
Paciência. Não foi essa a vontade dos eleitores, aceito-a. Propus um modelo diferente, as pessoas não o quiseram, sem ressentimentos as coisas seguem o seu destino. O futuro dirá se bem ou mal. Oxalá bem!
Vou, então, dar mais valor à família, à amizade, às viagens, ao trabalho, à leitura, à escrita, ao cinema, aos espectáculos de música e teatro, ao desporto.
Sobretudo, gosto imenso de escrever. E tenho tanto para passar a escrito. Experiências de vida, episódios, pensamentos, gostos, histórias...
Já (re)comecei a escrever. Para mim. Para a minha gaveta. Para meu consumo. Sinto-me bem quando escrevo e encontro o meu outro eu, do lado de lá do papel ou do monitor do computador a falar comigo e é nesse diálogo entre o ego e o alter-ego que construo as minhas mensagens.
Vou viajar quando puder e tiver disponibilidade de tempo e de dinheiro para tal.
Vou cuidar do corpo e da mente.
Vou dar mais tempo aos meus filhos e à minha mulher. E à minha restante família também.
É isso que vou fazer. Sem deixar de exercer os meus direitos cívicos. Sem deixar de, quando oportuno, exprimir a minha opinião e a minha visão dos acontecimentos. Sem deixar de participar na vida da comunidade, a diversos níveis de envolvimento, nomeadamente associativo.
Mas, sobretudo, vou tentar obter da vida o maior gozo que ela me poder proporcionar, junto daqueles que me são mais queridos e mais gostam também de mim.
Olho para a rua e vejo a chuva.
Gosto dos dias de chuva. Sim, é verdade. Gosto dos dias de chuva, mas não gosto deles frios, antes os prefiro mornos ou mesmo quentes.
A neblina do chuvisco, num dia austero de chuva forte outonal com o céu forrado a seda cinzenta impede-me de ver os recortes precisos do horizonte. Tudo fica desfocado. Tudo fica diluído e perde-se a nitidez da linha do horizonte e parte da amplitude da vida.
Quando chove, viro-me mais para dentro de mim e aproveito para pensar, para reflectir, para amadurecer ideias e conceitos, para me conhecer melhor.
Procuro encontrar melhor o horizonte, mesmo sem o ver nitidamente. Imagino-o, idealizo-o e vejo-o, sinto-o, por vezes até o consigo cheirar.
Não preciso de ver o sol para saber que ele existe. Pode estar tapado pelas nuvens mas sei que ele está lá e chegará o dia e a hora, depois das chuvas em que ele ressurgirá brilhante para mim e para todos. Não o quero só para mim. Sei que o sol faz falta, como o faz a chuva, o orvalho, a vida florescente na Primavera e todos os equilíbrios da natureza.
Não preciso de ver a linha do horizonte todos os dias porque sei que ela existe, ainda que por vezes escondida.
Serão estes os dias do meu futuro.