segunda-feira, 31 de julho de 2006

Revolta dos prisioneiros no Brasil

Todos temos acompanhado - se calhar com algum distanciamento - a luta dos prisioneiros do Brasil e o poder que possuem no sistema social brasileiro.
Pessoa de família enviou-me há dias a entrevista dada por Marcola, líder dos prisioneiros, ao jornal "Globo, conduzida por Arnaldo Jabor.
Não farei comentários; ficam para si....
P- "Você é do PCC?"
R- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias. A solução que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...
P- Mas... A solução seria...
R- Solução? Não há mais solução, cara... A própria ideia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento económico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até Conference Calls entre presídios...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
P- Você não têm medo de morrer?
R- Você é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… Mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, Internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
P- O que mudou nas periferias?
R- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... Ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
P- Mas o que devemos fazer?
R- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atómica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?
P- Mas... não haveria solução?
R - Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa… na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem porquê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogni speranza voi che entrate!" – Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.

Regresso

Regressei.
Estive no cumprimento da minha época estival. Ou seja, estive na praia, com a minha família.
Não foi uma fuga às responsabilidades deste blog mas, desa vez, quis estar verdadeiramente afastado, distante dos compromissos quotidianos.
Voltei mas confesso que ainda não li a imprensa local e regional e, por isso, não sei se há ou não novidades relevantes neste concelho e nesta região.
Confesso que se trata de uma sensação, ao mesmo tempo estranha e agradável, conseguir manter algum distanciamento relativamente a tudo isto.
Aos poucos, vou voltar à vida normal, às questões do hospital, da governação do concelho, da actividade desportiva, cultural, social, económica e outras, relativas ao nosso concelho.
Para já, fiquem bem.
I'm back!

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Ainda o Hospital de Abrantes

Todos os dias parece haver novidades.
Ontem foi dia de novas decisões quanto ao futuro do Hospital de Abrantes.
A partir do próximo dia 24 de Julho, Ortopedia, Otorrinolaringologia e Cirurgia vão ter de sair de Abrantes. Pelo menos, provisoriamente. Porquê?
Parece que, faz hoje oito dias, foi desbloqueada finalmente a verba para a realização das obras tão necessárias e tão urgentes no bloco operatório de Abrantes. Ainda bem que assim é.
Tecnicamente, faz sentido que, durante as obras (período aproximado de 3 meses) os serviços que requerem utilização do bloco operatório tenham de ser transferidos para outras unidades do CHMT. Otorrino vai para Torres Novas, Ortopedia e Cirurugia para Tomar.
Abrantes não tinha tecnicamente condições para continuar a manter aqui esses serviços, porque resta o bloco de partos. Manifestamente insuficiente, apesar de alguns profissionais de Abrantes terem feito alguma pressão nesse sentido. A Directora Técnica do CHMT terá argumentado bem e a sua posição prevaleceu. Disseram-me que é uma posição que, do ponto de vista técnico, é inatacável.
Coisa diferente é levar os serviços atrás. Aí poderão não existir argumentos tão sólidos que o justifiquem. Explico melhor: aceita-se que as cirurgias de ortopedia sejam feitas em Tomar mas que sentido faz levar o internamento pré e pós-operatório também para Tomar (ou para Torres Novas, no caso da Otorrino)? Porque foram disponibiliadas 26 camas em Tomar e arranjaram carrinhas para transportar os enfermeiros e demais pessoal do serviço de Ortopedia para Tomar? O serviço podia ser mantido aqui. Deslocando o serviço, vão as rotinas do serviço atrás e, depois, como assegurar o regresso do serviço a Abrantes?
Já existe historial de a Ortopedia fazer cirurgias em Tomar mas mantendo-se o internamento em Abrantes. O que agora querem fazer é diferente e não concordo, enquanto cidadão atento às questões da saúde.
Sabe-se que as urgências destas valências regressarão (aliás, a urgência de Cirurgia vai manter-se aqui durante todo o tempo), mas regressarão as rotinas e os serviços depois de terem sido transferidos para Tomar e Torres Novas?
"Gato escaldado de água fria tem medo!"
Este é que o cerne da questão: por detrás de um motivo de natureza técnica, podem estar a preparar mais um golpe, um rude golpe, para as aspirações do Hospital de Abrantes. Se assim for, será uma forte machadada no futuro do Hospital de Abrantes dentro do CHMT.
Por isso, resta-nos uma alternativa: o Ministro da Saúde ou, no mínimo um Secretário de Estado da tutela, tem de prestar garantias que os serviços agora transferidos provisoriamente, com argumentos técnicos válidos a sustentar essas decisões, após a realização das obras no bloco operatório de Abrantes, regressam à sua origem, por inteiro.
É este o desafio presente e mais premente para os profissionais de saúde, a população, o poder local e os partidos políticos. Todos juntos temos de conseguir garantir este compromisso da parte do Governo. Só o Governo o pode garantir; já não nos podemos ficar pelas palavras e boas intenções dos dirigentes locais/regionais. Até porque já vimos o que sucedeu com a Urologia, em que nos garantiram que uma coisa ia acontecer e, na prática, sucedeu o seu contrário.
Estamos mais atentos do que nunca mas será a população capaz de reagir com iniciativa e vigor?

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Hospital de Abrantes - Mais uma reflexão

Afinal, já não vai realizar-se a sessão da Assembleia Municipal sobre o Hospital de Abrantes no seio do CHMT. Vai ser apenas uma reunião com representantes dos vários partidos com eleitos na AM, no dia 21, pelas 17 horas. Vamos ver o que sai dali.
Há uns dias, o Major-General Bernardes (penso que foi ele) veio com a história de criar um Hospital Militar no lugar do Manoel Constâncio. Ouvi com atenção e fiquei a pensar.
Ontem, o Dr Rui Coelho veio falar comigo, com a mesma opinião.
Alto lá! Fiquei a reflectir melhor e conclui que, se calhar, não é má ideia. É tudo uma questão de falar com a instituição militar, que parece ter pretensões de diminuir a sua presença hospitalar na cintura da AML para valorização imobiliária (entre outras razões) e assegurar esse futuro.
O CHMT ficaria só com Tomar e Torres Novas, Abrantes seria Hospital Militar de apoio a Santa Margarida, Abrantes, Tancos e Entroncamento, para além dos militares em geral, com abertura à população desta área de influência e tal, e tal e tal.
Às vezes as boas ideias surgem assim - há que amadurecê-las e testar junto das tutelas (Saúde e Defesa Nacional) a sua exequibilidade.
Pode estar aqui a solução, é o que vos digo. Sem euforias, com realismo e racionalidade, vamos começar a estudar esta possibilidade, OK?

segunda-feira, 10 de julho de 2006

CHMT 2

No encontro realizado na Junta de Freguesia de São Vicente e já aqui descrito no passado dia 4 no essencial, ficou dito pelo Director de Serviços Dr. Paulo Vasco que apenas as cirurgias iriam ser deslocalizadas para Tomar.
Se assim é:
- Porque motivo é que as marcações de novas consultas já estão TODAS a ser feitas para Tomar e apenas as consultas que já estavam marcadas se irão realizar em Abrantes?
- Porque razão vão os exames de urologia fechar em Abrantes no final do ano, ficando apenas Tomar com os mesmos?
- Porque é que temos de ser enganados, mesmo que isso viole as regras e despachos proferidos pelo Conselho de Administração?
Lembro apenas que ontem foi mesmo o último dia de internamento de urologia em Abrantes. No piso 8, há camas que (para já) ficam vazias. Sim, porque ontem mesmo eram mais de uma dúzia os internados de urologia e apenas um de outras especialidades cirúrgicas (presumo que otorrinolaringologia).
O que é que ainda precisamos de fazer? Porque é que o que foi dito na Junta de Freguesia de São Vicente pelo Dr. Paulo Vasco, na presença do Dr. Silvino Alcaravela (sublinho este por ser o Presidente do CHMT) não está a ser cumprido, com claro prejuízo para Abrantes e concelhos circundantes?

Dentro e fora

Preferi esperar pelo final do Campeonato do Mundo para me pronunciar sobre o mesmo.
Fiquei a sentir-me menos mal com a derota dos franceses. Malditos! E era Portugal que jogava violento e tinha jogadores fiteitros?!? Bem-feito! Tiveram o que mereceram e ainda foi pouco.
Aquele Zidane, cujo génio e talento é enorme, mostrou de que massa são feitos os franceses no futebol.
Portugal cumpriu a sua missão e quase cumpriu um sonho.
No jogo decisivo, contra a francesa, ganhou a imprensa, a mesma imprensa (má) que andava a dizer, por todo o lado, que Portugal jogava futebol pouco ou nada bonito, que tinha jogadores agressivos e que o plantel era formado por uma cambada de fiteiros. Démos bailinho, jogámos bonito, poucas faltas e tirando um ou outro "mergulho" (Postiga, sobretudo) tudo correu bem, menos o resultado. A França, beneficiada pelo árbitro, marcou de penalty (outra vez, tal como ontem com a Itállia). Faltas sobre jogadores franceses nunca ofereceram dúvidas àquele árbitro asiático; faltas sobre Portugal raramente eram assinaladas.
Cristiano Ronaldo não ganhou o prémio de melhor jogador jovem mas mostrou contra a Alemanha e contra o vencedor desse prémio, que foi de facto o melhor.
Enfim, como habitualmente resta-nos o prémio de consolação. E de agradecer ao Scolari e aos atletas, mandando saudades ao Figo e ao Pauleta (que me perdoem mas não percebo porque é que o Nuno Gomes jogou tão pouco...).
Agora, voltemos ao país real e às dificuldades que Portugal atravessa. Ficou o exemplo de superação nas dificuldades, dado pela selecção; assim a generalidade dos portugueses o saiba seguir (o que muito duvido).
O ministro da Economia vai anunciar nos próximos dias a nova vaga de industrialização do país. Portugal industrial é algo de que tenho dúvidas mas pode ser que se consiga arranjar qualquer coisa de novo. Bem precisamos de um novo impulso e todas as acções positivas nesse sentido são meritórias. Precisamos de ganhar músculo interno para ganharamos força internacional; o mesmo que fizeram as selcções de futebol nos últimos vinte anos, com resultados assinaláveis.
Horta Osório é outro exemplo de força internacional. Singrou no grupo Santander, afirmou-se como líder em Portugal do Totta Santander, com quarenta e poucos anos e agora vai assumir a liderança do Abbey National em Inglaterra, um banco com sete vezes mais créditos concedidos que o Totta Santander e três vezes mais funcionários.
Boa sorte! Se bem que a sorte dá muito trabalho a alcançar...

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Desvarios no centro e centro direita ou como escrever direito por linhas tortas...

A oposição a José Sócrates tem sido errática, por vezes algo populista e inconsequente.
Gosto - sempre gostei - de Marques Mendes, sempre foi simpático comigo e sempre acedeu a todos os pedidos de colaboração que lhe pedi; simpatizo até com Ribeiro e Castro. Mas nem um nem outro têm sido capazes de acertar o passo. Há qualquer coisa que não joga certo. Não são eficazes e seguros na forma de fazer oposição e tendem a ceder ao facilitismo imediatista.
No episódio do granizo de Junho que deu cabo de parte da produção vinhateira no Douro, o Ministro da Agricultura aconselhou os agricultores a fazerem seguros. Estes dizem que não, porque isso custa muito dinheiro (mais a mais parece que esses seguros são subsidiados pelo Estado em 75%, pasme-se!) e que só aceitam subsídios a fundo perdido.
Quando o PSD deveria exibir sentido de responsabilidade, Marques Mendes, sabe-se lá porquê, vem colar-se aos "coitados" dos produtores e exigir que o Governo os apoie nesta hora difícil. E se fosse ele o ministro? É assim que se ganha credibilidade?
Quem mais parece estar a querer fazer oposição ao Governo de José Sócrates são alguns sectores do PS: soaristas, gamistas, e outros "istas" que por aí há em todos os partidos democráticos.
Gama irrita o Governo e alguns sectores do PS na Assembleia da República com a sua indefinição sobre a metodologia da votação da lei da paridade, que hoje regressa a Plenário.
Vieira da Silva pressiona Sócrates a deixar a coordenação nacional do PS.
Manuel dos Santos, ex-deputado do PS, incita ao aparecimento de alternativas a José Sócrates na liderança dos socialistas, no próximo congresso. Defende ainda este político que João Soares "merece e seguramente virá a ter um papel determinante na condução futura do PS".
Parece que a ala esquerdista do PS começa a intolerar, cada vez mais, as medidas liberalizantes e de envergonhamento aos socialistas que José Sócrates tem vindo a implementar, com sacrifícios cada vez maiores pedidos (impostos, literamente!) aos portugueses.
Talvez tenham ficado elucidados de vez quando leram o relatório apresentado pela Comissão Técnica do PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Pública). É que aí se pode ler que "o grande objectivo da reforma" é um "Estado cada vez menos prestador directo de serviços e, cada vez mais, regulador, o que obriga ao reforço das funções de planeamento, controlo, avaliação e responsabilização". Ora, no planeamento somos razoáveis, no controlo e avaliação medianos e na responsabilização é o que se sabe - a culpa morre sempre solteira.
Deixar de prestar serviços essenciais, nomeadamente na saúde e na educação, sem termos uma cultura de rigor, que faça do controlo, avaliação e, sobretudo, responsabilização, uma atitude colectiva plenamente assumida, além de visão neoliberal pura e dura do papel do Estado, pode ser um contributo decisivo para o caos.
Veja-se o exemplo recente da Madeira: o outsourcing na área da saúde conduziu a um aumento significativo dos preços para os utentes, na medida em que o sistema ficou mais pesado e mais caro.
O mesmo relatório do PRACE diz ainda, sobre a externalização de serviços essenciais da função prestadora do Estado, que "a transferência de funções para terceiros poderá assumir diversas formas que vão desde a empresarialização pública da função (sector público empresarial, que é um passo intermédio para a privatização futura), à privatização total (entrega ao sector privado) e pelas parcerias público-privadas".
Se assim for, fiquem descansados: a natureza encarregar-se-á de devolver o espaço natural de afirmação de PSD e CDS; mesmo que os seus líderes nada façam para merecer tamanha sorte, poderão aguentar-se de pedra e cal (até porque ninguém quer avançar antes do tempo para as lideranças dos dois partidos do centro e centro-direita) e até poderão ser bafejados pela oportunidade que, neste momento, todos admitidos como altamente improvável: a implosão do Governo, todo moidinho por dentro.

É mesmo ali ao lado!

España!
Um exemplo para Portugal.
Basta ler aqui.
Se eles conseguem, porque é que nós não fazemos o mesmo?
Até quando?, oh triste fado!

terça-feira, 4 de julho de 2006

CHMT

Em primeiro lugar, uma referência em tom de agradecimento. Obrigado aos que aqui postaram comentários e aos que me telefonaram dizendo que eu deveria continuar a escrever.
Obrigado, sinceramente. Quando disse que um destes dias iria deixar de escrever foi porque me começa a faltar tempo e tema. Já para não falar na falta de talento. Safo-me bem mas gostaria de saber escrever melhor, muito melhor.
Faz hoje oito dias, participei numa sessão-debate sobre o futuro do Hospital de Abrantes integrado no Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Durante uma semana, andei a consolidar o que ouvi lá, o que já tinha visto e ouvido antes e o que vi e ouvi depois.
Começo a ter mais do que leves suspeitas de que nos estão a querer fintar e que o 'Cavalo de Tróia' de que alguém falou nesse dia e nessa sessão, está mesmo cá dentro da nossa comunidade e dentro do nosso hospital.
Lá disse-se muita coisa, sobre valências básicas, sobre partilha de especialidades, entre o que é ambulatório e o que são consultas externas, etc, etc, etc.
Certo, certinho, ficou dito que a Urologia iria para Tomar para permitir reduzir a lista de espera das cirurgias (SIGIC), porque se iriam fazer 3 vezes mais cirurgias do que era possível fazer em Abrantes. Lá disse-se que o povo de Abrantes pode continuar a revelar incompreensão mas que, afinal, esse decisão resulta de uma atitude altamente altruísta do Director de Serviços, por sinal abrantino, o Dr. Paulo Vasco, em nome dos interesses dos utentes (o valor da cada cirurgia, no SIGIC, para aqui não importa...).
Lá ficou dito que apenas as cirurgias da Urologia iriam para Tomar e que Abrantes, tal como Torres Novas, continuariam com as consultas externas e eventuais exames necessários aos utentes. O problema era mesmo a lista de espera para cirurgia, que envergonha o país. E, em nome do elevado e supremo interesse dos utentes, toca a levar as cirurgias - e só isto, todos ouvimos - para Tomar.
Então, se assim é:
- O que fazia a carrinha do Hospital de Abrantes, na tarde da passada sexta-feira, carregada até ao cimo com dossiês, documentos e mobiliário da Urologia, com destino a Tomar?
- Porque motivo as consultas externas de sexta-feira foram desmarcadas?
- Vamos mesmo continuar a ter consultas externas e exames em Abrantes?
- Quem manda, afinal?
- Qual foi o montante de equipamento adquirido pela Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes (coloquei Abrantes a negrito e não escrevi CHMT) que corre o risco de ser transferido de unidade?
- Alguém pode garantir-nos que, afinal, apenas estamos a ler tudo ao contrário e que, em rigor, nada de especial se está a passar?
- Será verdade o que foi dito nessa sessão, nomeadamente que estão a desviar grávidas de Abrantes para outras unidades, no norte alentejano e no litoral (Leiria) e que isso irá colocar em questão a sobrevivência futura da Maternidade em Abrantes e de toda a sua força de Saúde Materno-Infantil?
- Terá viabilidade a Urgência Médico-Cirúrgica e a grande urgência em Abrantes sem as especialidades?
- Alguém já leu o Plano Estratégico de 1998?
- Um plano com 8 anos continua actual?
- Quem pode garantir que a futura grande urgência de Abrantes irá contar com a presença regular de especialistas de pneumologia, cardiologia, gastroenterologia e ortopedia, entre outras?
- O investimento de 7 milhões de euros apresentado em Março/Abril de 2005 como sendo necessário para repor a capacidade hospitalar do nosso hospital vai ser feito?
- Qual o papel dos nossos deputados e dos governantes da nossa terra no exercício da sua magistratura de influência para que não continuemos a ser continuamente espoliados?
- Para quando uma rede eficaz de transportes urbanos que minimize os prejuízos de deslocação aos utentes e aos profissionais?
São cada vez mais as dúvidas que urge esclarecer. Dia 21, na Assembleia Municipal, com a presença do Conselho de Administração do CHMT, muitas delas, já para não dizer todas, terão de ser respondidas, sem dúvidas para ninguém.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Escrever e Ler

Este blog tem poucos leitores diariamente. Raramente ultrapassa as 60 leituras diárias. Está longe – muito longe – da leitura que têm os blogs de referência nacionais.
Nem por isso deixo de escrever. Escrevo porque me dá prazer. Gosto de escrever, sempre gostei, porque isso me treina a escrita e o pensamento estruturado.
Gostava de um dia ter a qualidade suficiente para poder escrever um livro. Confesso que já iniciei vários mas não sinto ter (ainda) a qualidade necessária para poder um dia editar algum texto. Escrevo muito para consumo próprio, guardo, não rasgo logo mas, passado algum tempo, releio o que iniciei e concluo não ser material de qualidade. E assim, invariavelmente, pouco é o espólio que resiste e que ainda guardo. Jogar com as palavras, brincar com as letras, arrumá-las num pequeno texto é diferente, muito diferente, de elaborar um texto com qualidade literária. Exige muito conhecimento de estilos, gramática, semântica, técnicas apuradas de domínio do verbo. Tudo aquilo que (ainda) não tenho e não sei se algum dia terei.
De tempos a tempos alguém me diz que gosta de ler o que escrevo e assim lá vou conhecendo os leitores deste espaço, um a um e aumentando o meu ego. Não devo escrever mal, concluo. O que é diferente de ter consciência de escrever bem. Isso sei que não tenho porque seria errado e falacioso constatar uma inexistência.
A maioria dos que visitam este espaço gravita em torno da política: Assembleia da República, Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, militantes de partidos políticos. Às vezes sou confrontado com alguém que se diz leitor atento e até admirador da minha forma de escrever – o que, confesso, me deixa com muitíssimo pouco à-vontade – que é outsider dos jogos da política.
Não discuto nem escolho que me visita. A todos pretendo apenas deixar vincada a minha forma de pensar e de reflectir.
Claro que todos reflectimos e todos nos questionamos sobre milhares de pequenas coisas com que o universo e a vida nos presenteiam. Apenas alguns não sentem vergonha, pudor ou reserva de partilharem a sua visão do mundo por escrito, em espaço aberto e acessível em qualquer ponto do planeta.
É o meu caso.
Escrever é uma grande responsabilidade. Porque nos vincula a ideias e nos amarra o pensamento.
Por vezes, escrevo em tom sarcástico ou bem disposto. E fico feliz quando me dizem que se divertem com aquilo que escrevo. É essa, também, uma das razões da existência deste espaço.
Um dia destes, porém, não sei ainda quando, vou terminar a minha escrita e as minhas reflexões.
Não sei ainda ao certo o dia nem a hora, mas é cada vez mais uma certeza.

domingo, 2 de julho de 2006

PORTUGAL!!

Custou, sofremos muito mas passámos os ingleses.
Não terá sido um bom jogo mas Scolari advertiu desde o início: prefere o resultado à exibição.
Ricardo fez o que nós mais queríamos naquela hora: mesmo falhando dois penaltys (Hugo Viana e Petit), graças a Ricardo, que defendeu 3! (três), Portugal despachou os ingleses.
E agora venha a França, a mais experiente das selecções em competição. Acabaram-se os prognósticos, agora não é tempo de pensamento frio e racional – tudo pode acontecer. O certo é que temos pela frente ainda dois jogos, o primeiro contra a França, o segundo para disputar, ou o 1º lugar (Domingo) ou o 3º lugar (Sábado).
Vamos continuar a acreditar.
Isso não me faz esquecer os problemas que temos para resolver. Mas imagino que uma pausa nas chatices da vida faz sempre bem a toda a gente.