Fui abordado por algumas pessoas, que me questionaram porque motivo não tenho escrito com assiduidade neste espaço.
Confesso que a vontade não é sempe igual.
Confesso que me fui desinteressando e esquecendo.
Confesso que a vontade inicial que sentia foi ficando cada vez mais fraca.
Confesso que deixei de sentir a necessidade de partilhar com os outros os meus pensamentos e os meus sentimentos (pelo menos os partilháveis...).
Confesso que me senti um pouco cansado de ser mal interpretado - de perceber que há pessoas que estão sempre à espera de uma palavra minha para nela encontrarem um reflexo de fraqueza, insegurança, amargura ou tristeza.
Confesso que não tenho tido paciência para me expor.
Confesso que fui encontrando outros motivos de interesse - leitura, estudo, música, jantares-convívio (especialmente nesta época do ano).
Confesso que não sinto que seja relevante para ninguém eu escrever ou deixar de o fazer.
Confesso que há muitas coisas com interesse na vida - mais do que um blog, um simples e singelo blog, de autoria conhecida (os anónimos suscitam muito interesse), sem temas delicados (erotismo, violência, sexo, racismo, doutrina política, arte, cultura ou outros temas sectarizantes).
Este espaço está para a blogoesfera como as antigas "vendas" de aldeia estão para o comércio modernos nos grandes centros urbanos: é menos sofisticado mas mais genuíno e, sobretudo, mais barato, onde podemos encontrar um pouco de tudo.
Confesso que talvez não quisesse assumir isto, mas assumo.
Perguntam-se, também, com alguma frequência se estou bem, se estou emocionalmente estável e equilibrado após a derrota nas eleições de Outubro.
Estou. Sem a euforia exagerada que costuma tomar conta dos que estão mal e afirmam estar no melhor dos mundos nem a confrangedora trsisteza e melancolia daqueles não conseguem evitar "estar na fossa".
Estou bem, estou equilibrado, estou com bom senso, a reencontrar razões para (re)definir um projecto de vida, menos egoísta, mais centrado numa vontade partilhada com a família e alguns amigos chegados.
Longe vai a angústia, a mágoa ou a incompreensão.
Outros tempos virão. Que quero olhar de frente e usufruir, com prazer e qualidade.
Tenho hoje uma visão sobre a vida mais tolerante, menos apaixonada (menos colérica), mais racional.
Dou por mim a rir para dentro quando vejo outros a usar da palavra para transmitirem angústias, revoltas, sentimentos muito negativos, como ainda ontem à noite numa cerimónia a que assisti.
Penso para comigo: será que já fui assim? Será que aquilo que eu pensava, na ocasião, ser o mais correcto de dizer era, afinal, um exagero de lamúrias e suspiros de desespero?
Percebo que talvez sim. Por isso, não tenho o direito de criticar os outros.
Mas sinto que estou, nesse aspecto, diferente, menos revoltado, menos inconformado, mais tranquilo, mais tolerante, apesar de todos os problemas que afligem a minha vida (como afligem a vida de toda a gente, não é verdade?), mais "macio", menos rude, menos agreste.
Sobretudo, deixei de dar importância ao que não a tem, sejam factos, sejam pessoas.
Já não me irrita quem quer mas apenas quem eu deixo.
É isso, talvez, que deixa perplexas algumas pessoas que ter-se-ão, porventura, habituado a ver-me e a ouvir-me em permanente estado de intranquilidade e busca do inacessível.
Ainda tenho sonhos, ainda tenho devaneios, ainda tenho utopias. Contudo, mais controladas e mais comedidas.
É isso, talvez, que conduz algumas pessoas a pensarem que estou abalado e que não consegui reencontrar-me.
Deixá-los pensar. Nem me vou dar o trabalho de os desdizer ou mesmo de tentar demonstrar o oposto. Já nem ligo quando dizem: "não estás bem". Fico indeferente e gozo o momento, sozinho.
Carpe Diem.
Sem comentários:
Enviar um comentário