A vida está sempre a ensinar-nos e a pregar-nos partidas. Às vezes - quase sempre - ligamos a pormenores e esquecemos o essencial. A vida é um bem precioso, fundamental e é em vida que devemos honrar as pessoas que nos dizem algo de positivo.
Ontem à noite fiquei sobressaltado com a notícia da morte, em condições trágicas, do Sr. Elísio Moura.
Adversário político desde (para mim) há cerca de 20 anos, ainda nas últimas eleições tivémos episódios quentes. Bem quentes, desagradáveis e talvez evitáveis. Mas nem por isso deixei de o considerar como até então.
Num desses momentos vividos em plena campanha, contou-me o decano dos autarcas de freguesia do nosso concelho que um militante do PSD se lhe tinha ido oferecer para fazer parte das listas do PS. Ouvi, incrédulo e talvez também duvidoso. Mas ouvi. Como o ouvi escarnecer de alguns dos nossos candidatos, apontando-me aquilo que considerava serem alguns defeitos. Não o fazia por mal, era assim, frontal.
Por uma ou outra vez também o ouvi apontar defeitos e pronunciar críticas a algumas opções e escolhas do seu partido, o PS. O que ele me disse fica guardado para mim.
Noutro episódio, em pleno acto eleitoral, o Sr. Elísio Moura entrava e saía da assembleia de voto, nos Quinchosos, sem credencial e dava "indicações de voto" aos eleitores. Isso motivou vários protestos dos delegados do PSD na mesma assembleia de voto e uma reclamação no Tribunal, no momento do apuramento. Ao contrário de eventuais semelhantes situações no passado que nunca evidenciadas, desta vez foi colocado fora da assembleia de voto por dela não poder fazer parte.
A custo, lá arranjou uma credencial e regressou à assembleia de voto.
Sempre tive uma boa impressão do Sr. Elísio Moura, sempre me tratou com respeito e habituei-me a vê-lo como fazendo parte da paisagem urbana do Centro Histórico.
Conversávamos amiudadas vezes sobre a cidade, o PSD e o PS, as alegrias e as tristezas, o seu passado profissional, a sua saúde (invejável), enfim, coisas mundanas. Um dia confessou-me a tristeza de um dos seus filhos ter sido "menos bem considerado" pelos responsáveis da autarquia. Dor de pai, percebi.
Nem o episódio eleitoral já relatado contribuiu para afectar a imagem que ainda possuo deste democrata dos quatro costados, para quem tive o privilégio de co-propor uma Medalha de Mérito Municipal, aliás chumbada pela maioria socialista na Assembleia Municipal.
Gostava do homem. Não era difícil, era afável e cordial. E tínhamos em comum o amor à nossa terra e ao nosso concelho.
Foi um autarca de Abril, presidente de Junta, que perdeu para o professor Heitor e que viria a reganhar, ajudando sempre Alfredo Santos a ser Presidente da Junta de Freguesia de São João.
Sempre que olhar para o retrato do irmão, médico, justamente colocada na Extensão de Saúde de Santa Margarida, lembrar-me-ei dele.
O seu alegado assassinato, conforme relata a Antena Livre, deixa-me triste. Vou (vamos) sentir a sua falta, com as suas qualidades e defeitos, com as suas histórias (excelente contador de histórias e de uma boa anedota), os seus passeios e os seus cigarros. Tranquilo, sereno, educado, vou continuar a imaginá-lo passeando pelas agora mais desertas ruas do seu e nosso Centro Histórico.
As ruas e as praças de Abrantes vão sentir falta dos passos e da respiração do Sr. Elísio Moura.
Que encontre a paz que merece e a sua família possa atravessar este período infeliz e trágico.
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