terça-feira, 10 de maio de 2005

Hiperdelírio

É normal fazerem-se projectos. É, diria mais, absolutamente necessário. Sem projectos, dificilmente as boas coisas surgem.
Fazem-se projectos de tudo: de vida, de obras, profissionais, de alcance social, políticos e muitos mais.
É à vontade do freguês.
Mas os projectos devem ser exequíveis.
Pensar que, em política, se pode desejar vencer todas as freguesias, reforçar o peso na câmara, quando a realidade que todos conhecem diz justamente o contrário, é algo que pisa o risco do bom senso.
Já não bastava a pose altiva, o ar superior com que a maioria olha e trata a oposição - e cada vez mais os próprios munícipes, como se sabe -, a soberba que é inimiga da proximidade face aos eleitores, agora já não chega a maioria - deseja-se a hegemonia, deseja-se o surgimento do partido único.
É verdade: afirmar que é bom, saudável, desejável e útil liderar todas as freguesias, bem como a câmara e a assembleia traduz, na prática, a visão totalitária, de silenciar vozes incómodas mas legítimas, que alguns apregoam nestes novos tempos.
Não é a ambição que está em causa: é a forma como se deseja ser hegemónico.
Todos sabemos o que surge na sequência das hegemonias.
Mais a mais, todos sabemos que a realidade sócio-política, hoje, no concelho de Abrantes, está longe de ser aquilo que alguns pensam.
Em geral, os abrantinos estão saturados destes 12 anos de gastos sem aumento da qualidade de vida, sem projecção de futuro, sem criação de empresas e de emprego, em que o nosso concelho, à medida que fica sem os milhões que Bruxelas nos dá, fica igualmente mais hipotecado para o futuro e perde todos os dias posições quando comparado com muitos outros concelhos da nossa área geográfica de influência.
Por isso, quando o sonho é desmedido, pode tornar-se pesadelo.
Por isso, quando o sonho não é uma emanação do dia-a-dia, torna-se ficção do subconsciente.
Por isso, nada do que esses sonhos traduz tem aderência à realidade.
Por isso, o hiperdomínio desejado pode não ser mais do que...
...hiperdelírio!

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