Li no Diário Digital que o Presidente da República, Jorge Sampaio (na foto, igualmente copiada do jornal em suporte digital) falou claro sobre as receitas municipais, a sua qualidade, a necessidade de os municípios passarem a ser mais auto-sustentáveis sem se basearem nas receitas provenientes do ramo imobiliário (IMI, IMT, Licenças de Obras, etc).
Passo a citar a notícia publicada: "Jorge Sampaio aconselhou hoje os autarcas a preocuparem-se mais com as receitas geradas nos municípios valorizando o turismo em vez da especulação imobiliária. O recado do Presidente da República foi feito no âmbito da presidência aberta dedicada ao turismo".
E depois o Presidente falou de outro aspecto que reputo de interessante. Mais do que gastar a massa, é preciso olhar para a qualidade dos projectos e para o seu efeito na alavancagem do crescimento e de mais investimento para os municípios. Disse o homem que "os desafios da competitividade só se conseguirão vencer pela qualidade dos projectos que formos capazes de levar a cabo". Algo que não tem sucedido. Os projectos são aprovados e ponto final. Os organismos que gerem os fundos comunitários querem é execução, os autarcas querem é obra feita e votos, muitos votos. A conta há-de chegar um dia para pagar. Aliás, já está a chegar.
E falou do potencial do turismo. Claro, é um dos sectores-chave da nossa economia.
O problema é que, modéstia à parte, estes argumentos são, no essencial, aqueles que defendi na minha campanha eleitoral autárquica, contra o despesismo e a aplicação sem critério de milhões de euros em obras farónicas e megalómanas no concelho de Abrantes.
Há, porém, um pequeno problema: as pessoas não querem, em geral, saber disso para nada. As pessoas pensam que o dinheiro é impessoal e apenas querem ver coisas feitas, independentemente da não incorporação de critérios de qualidade dos projectos.
Essa terá sido uma das razões pelas quais perdi as eleições.
Apesar de tudo, o povo não está ainda preparado para os desafios da qualidade e muitos - os mais aburguesados - não estão sensíveis aos apelos que Sampaio agora anda a fazer.
Por outras palavras, Sampaio fez o discurso certo no momento certo, mas o povo e os autarcas - estes sobretudo - estão pouco sensíveis para as suas palavras. No dia em que um projecto de investimento, por exemplo, um espelho de água e um açude, no valor de 4 milhões de contos, forem analisados à luz da produtividade e do seu contributo para alavancar o investimento de um concelho e aumentar a sua base de riqueza produzida, emprego criado e auto-sustentação económica e financeira, alguns autarcas terão de emigrar porque, pura e simplesmente, não podem e não sabem justificar aquilo que, tal como está feito, se revela um evidente, grosseiro e desastroso mau-investimento.
Porém, por enquanto, esse julgamento é exclusivamente popular, pelo voto. E o povo, como sabemos, está ainda mais distante deste discurso de rigor do que a generalidade dos autarcas.
Jorge Sampaio salientou esta discrepância, este fosso existente entre a realidade constatada e aquela que seria a desejável, ao constatar a contradição grande "entre aquilo que se pode estar a pensar fazer e aquilo que é necessário fazer para ter qualidade".
Entendidos?
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