sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Adeus Planeta Terra

Mudo de registo. Do local para a escala planetária, com uma pincelada final pelo local.
Por vezes – tantas vezes, vezes demais – perdemos tempos com questões menores, arranjamos arrelias, temos falsos problemas que hiperbolizamos, perdemos o sono, criamos conflitos, forjamos inimizades e intrigas.
Valerá a pena o esforço perdido?
Leio as notícias relativas ao Planeta no Diário Digital de 4ª feira passada.
Selecciono 4 dessas notícias.
Título 1: “Um terço do planeta será deserto em 2010, prevê relatório”.
Alegadamente, no lead fico a saber que esta terá sido a primeira vez que um estudo quantificou o risco de seca pelas alterações climáticas.
Para alguns, esta perspectiva “equivale à condenação à morte de milhões de pessoas”.
Outros prognosticam migrações de camponeses, em níveis que não se podem sequer ainda quantificar. Enormes, por certo. Com elevadas consequências sociais provenientes dessas mobilidades em massa.
O estudo em causa, da autoria do Centro Hadley para a Previsão e as Investigações sobre o clima, não incorpora o chamado “efeito de estufa” (proveniente do CO2), o que pode implicar que as consequências reais sejam agravadas e que a situação vivida no Planeta Terra, dentro de cerca de 90 anos, seja absolutamente insustentável.
Parece que o Instituto de Meteorologia britânico tem um estudo – por publicar – que indica que, com o efeito de estufa, os efeitos da devastação ecológica sobre o planeta destruirão África, com uma grande, severa, prolongada e irreversível seca.
Este estudo baseia-se no Índice Palmer da Gravidade da Seca (PDSI), um indicador que, para mim, era totalmente desconhecido.
Há 3 níveis de seca: Moderada, Grave e Extrema.
Actualmente, 25% do Planeta Terra está em situação de seca moderada; prevê-se 50% em 2100.
Em situação de seca grave está 8% do planeta; prevê-se 40% no ano 2100.
Quanto à seca extrema, que é actualmente de 3% do planeta, poderá ser de 30% no final do século.
Estes números deixaram-me baralhado. Porquê? Porque 50%+40%+30% = 120%?!?
Esperemos que na Conferência sobre as Alterações Climáticas, que se realiza em Nairobi, em Novembro próximo, o relatório completo possa ser discutido e, mais do que tudo isso, possa começar a ganhar o apoio de alguns chefes de Estado que ignoram estas causas por completo e deviam, por isso, ser julgados por crimes contra a Humanidade. Está a ouvir senhor Bush?
Título 2: “Buraco de ozono sobre a Antártida em novo recorde, alerta ONU”
Pois, claro está. Uma coisa leva a outra e vice-versa. O planeta está mesmo doente e nós iremos todos pagar com isso, nós e os nossos filhos, netos e já não me atrevo a falar em mais gerações porque elas podem vir a não existir.
O lead diz que “o buraco na camada de ozono sobre a Antártida ultrapassou o tamanho que tinha em 2000 e atingiu a sua maior dimensão de sempre”.
Nunca houve tão pouco ozono na Antártida como agora!
Nunca é demais lembrar que o ozono filtra os raios ultravioletas emitidos pelo Sol e que a poluição e os gases corofluorocarbonetos (vulgo CFC) são os grandes responsáveis por mais este crime contra a Humanidade. Os CFC estão presentes nos aerossóis e nos refrigerantes, por exemplo.
Título 3: “Perda de recorde de ozono sobre o Pólo Sul este ano”.
É uma continuação da notícia anteriormente citada. Esta peça precisa que o buraco está a aumentar, na estratosfera, a escassos 25 quilómetros da Terra. O buraco tem agora 28 milhões de quilómetros quadrados.
Além dos riscos de saúde, designadamente em termos de cancro da pela, por efeito da não filtragem dos raios ultravioletas, advêm consequências para a vegetação, que é igualmente danificada pelos mesmos raios ultravioletas. Corremos o risco de modificar profundamente a nossa biodiversidade e o equilíbrio do planeta.
A camada de ozono diminui, em média, 0,3% por ano nos últimos 10 anos. Ou seja, 3%!
O Tratado de Montreal surgiu para tentar por cobro a esta calamidade, mas a poluição é tanta que se prevê que, pelo menos até 2026, o buraco continue a aumentar.
Título 4: “Temperatura terrestre nunca subiu tanto em 12000 anos”
No meio da notícia, algo que já sabemos mas não é demais lembrar, com novos dados: “a última vez que o planeta esteve tão quente, no meio do Plioceno, há cerca de três milhões de anos, o nível dos oceanos estava cerca de 25 metros acima do actual”. Por isso se prevê o desaparecimento de vastas áreas de litoral.
E, enquanto caminhamos para essa realidade anunciada, as pessoas vivem indiferentes ao destino fatal e inevitável do planeta Terra e do futuro da espécie humana.
Há dados científicos que indicam que “1700 variedades de plantas e espécies de animais e de insectos migraram em direcção ao Pólo Norte a um ritmo médio de 6,5 quilómetros por década durante a última metade do século XXI”.
É verdade. Em Portugal basta olhar para o caminho que os sobreiros têm feito, ganhando terreno naturalmente face ao pinheiro. A Beira Interior está a ficar povoada de sobreiros, como nunca. Sou testemunha disso mesmo.
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Resumindo: podemos perder tempo com coisas fúteis e inúteis. A causa pela sobrevivência do Planeta Terra é algo muito mais importante. Infelizmente, com poucos adeptos reais, confessos e praticantes.
Por cá, onde anda a Agenda 21 (A21) Local? Onde estão as actividades concretas, em toda a Comunidade Urbana do Médio Tejo, para o desenvolvimento da A21? Depois do fogacho que foi a reunião de Alcanena, o que existe de concreto? Quais as medidas a adoptar, com que nível de envolvimento dos agentes económicos, da comunidade educativa, da comunidade em geral?
Que passos concretos foram dados para o Desenvolvimento Sustentável?
Ao contrário, continuamos amarrados às questões menores (em termos relativos), como a nova Lei das Finanças Locais, o sequestro de 13 horas no BES de Setúbal, o final de Tempo de Viver, da TVI, o caso Apito Dourado, o discurso do “recauchutado” Hermínio Loureiro ou o Açude do rio Tejo, em Abrantes.
Até quando?

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