Hoje, durante o dia não escrevi.
Dexei passar 24 horas sobre o acto eleitoral interno do PSD. Senti que o deveria fazer para não ser surpreendido a escrever o que não devo.
Foi um dos actos eleitorais mais disputados de sempre. Talvez tenha existido um semelhante, nos anos 80, na altura de uma cisão que viria a deixar marcas profundas no PSD de Abrantes, quando o grupo de Humberto Lopes e António Roseiro saiu derrotado. Lembro-me bem.
Ontem, o caderno eleitoral era composto por 184 militantes com capacidade eleitoral activa e passiva, de entre os mais de 450 inscritos no partido em Abrantes.
A lista A que encabecei foi constituída na 3ª feira passada e entregue no mesmo dia.
A lista B já vinha sendo preparada desde há alguns meses, com forte mobilização, muitas quotas pagas e algutinando muitos dos que têm estado críticos às direcções concelhias do PSD, desde que assumi, pela primeira vez, em 1999, a direcção concelhia do partido a que pertenço.
Assim, o meu adversário Gonçalo Oliveira convidou para membros da sua lista e para os seus apoiantes/votantes muitos amigos da sua geração, mas também os críticos do costume - António Roseiro, Anacleto Batista, José António Agostinho, José Vasco Matafome, Maia Alves, só para citar os seniores que muitos conhecem.
Fizeram muita mobilização. Posso não concordar com o modo como juntaram as pessoas para irem à sede na hora da votação, mas tenho de admitir que jogaram forte a esse nível.
Nada como a comida e bebida oferecida... porque o seguro morreu de velho. E já agora transporte, também faz falta.
Essa estratégia não me intimidou nem aos que me acompanharam nesta odisseia. O nosso trabalho era diferente mas implicava assegurar igualmente mobilização. Era e foi a palavra.
Sempre acreditei que quem merece deve acabar por ser recompensado e que, quem não merece, não merece e pronto. Ponto final.
Para além de se fazer o esforço de mobilizar pessoas, é preciso saber conjugar vontades, ser credível e ter uma ideia clara de rumo e que os outros, que nos julgam, entendam esse rumo e essa estratégia como sendo a melhor para a organização.
Durante a noite, ao longo das duas horas de urna aberta, a afluência foi grande. Votaram 129 militantes, ou seja, a taxa de abstenção sobre o caderno eleitoral foi de cerca de 30%. Normal... mas baixa para o habitual no PSD/Abrantes.
Houve momentos de algum azedume, de conversa em tom ríspido entre alguns militantes e de algum confronto indirecto mas não houve debate propriamente dito. Não havia clima e os militantes não paravam na sala principal.
As conversas eram tidas nos corredores. Ninguém ultrapassou os limites, apesar de tudo, pelo menos que me tivesse apercebido.
Algumas pessoas não se cumprimentaram. À recusa em falarem comigo, tive de retribuir de igual modo. Mas foi só com os tais opositores do costume porque, com o meu adversário directo e candidatos mais jovens, houve cordialidade e até alguma simpatia; talvez a disputa e o modo como, nos últimos dias, a tensão se poderou de alguns dos meus adversários, tenha impedido maior abertura ao diálogo, mas ninguém tratou mal ninguém. Pelo contrário excepção feita aos opositores do costume, de mais idade. De alguns, não esperava nem espero mais nada. Condiz com a impressão que tenho deles.
Afinal de contas, estavam contra mim alguns dos que estiveram contra o PSD nas eleições autárquicas, quer em 2001 quer em 2005, concorrendo contra o seu partido e prejudicando-o.
Não me esqueço que foi por apenas 8 ou 9 votos que o PSD não elegeu o seu 3º vereador. Em parte, devo-o e deve o PSD esse resultado a militantes do PSD, que agora queriam voltar aos órgãos concelhios.
Portanto, do outro lado, estavam os que não têm logrado fazer prevalecer as suas posições desde há quase 20 anos. Uma notável colecção. Que se juntou a um grupo mais novo e com ambições.
No final, durante a contagem, o meu adversário dizia que esta seria uma noite histórica. E foi, mas não como ele vaticinava que iria ser.
A lista que encabecei venceu (com pouca margem), mas venceu e soube-me bem; soube-nos bem. Soube mesmo muito bem.
Houve 2 votos em branco e obtive 67 votos, contra 60 do Gonçalo Oliveira.
O meu amigo Armando Fernandes foi igualmente eleito Presidente da Mesa, com igual número de votos; a lista B teve 58.
Por mim, ontem encerrei esse episódio. Saí vencedor e o projecto que venho defendendo saiu reforçado, em face das circunstâncias que envolveram as eleições e o tempo de preparação da lista.
Já lá vai. Gostaria de ter a trabalhar para o mesmo objectivo todos aqueles que sempre quiseram o bem do PSD e vou esforçar-me por isso, mesmo com militantes que estavam na outra lista ou que nela votaram; mas não tenho qualquer receio em dizer que aqueles que teimam em não querer ajudar o PSD e que o combatem, não tendo vergonha, ainda assim, de quererem pertencer ao partido, comigo não contam. Irei mesmo dar seguimento aos processos jurisdicionais abertos pela estrutura central do PSD contra os militantes que concorreram, em Outubro passado, contra o seu partido. Até já tenho as certidões do Tribunal de Abrantes na minha posse.
Lamento que as decisões sejam lentas; mas, sobre isso, vai ser feita justiça, de certeza.
Quanto aos outros, aos que perderam mas o fizeram numa base de lealdade e de combate por projectos alternativos dentro das linhas do partido, do seu programa e do espírito saudável da democracia, repito que tenho todo o prazer em querer que se associem a estes próximos tempos.
Tempos difíceis, de trabalho intenso, árduo, permanente, consistente, de reforço da militância, de intervenção cívica, de ligação às freguesias, de reforço dos canais de comunicação, de participação na vida distrital e nacional do PSD.
Quero abrir aqui um espaço especial de referência. É chegado o momento. Há momentos assim na vida das pessoas.
Foi derrotado, pela terceira vez consecutiva, o senhor António Roseiro. Apoiante de Matafome, depois de Pico e agora de Gonçalo Oliveira, não me esqueço de que lhe pedi ajuda para as eleições autárquicas. Disse-me que sim num final de tarde, para me telefonar depois - apenas duas horas depois! - a dizer que, afinal, não me podia dar qualquer ajuda, apesar de nada ter contra mim. Depois de ter concordado fazer uma ou duas voltas pelo concelho, nas freguesias, arrependeu-se depressa e depressa recuou. Deu-me uma valente tampa.
Penso que à terceira tenha sido de vez.
Não me quero colocar em bicos de pés. Ontem não ganhámos nada de muito relevante para a vida do concelho. Foi apenas um acto interno da vida de um partido de oposição que tem vindo a consolidar o seu espaço e a crescer eleitoralmente. Mas foi uma vitória saborosa porque só eu (e mais alguns) sei o que estávamos ontem a combater. Bem demais. E o que estava verdadeiramente em causa. E que, felizmente, não obteve aprovação.
Não há motivos para arrogância ou sobranceria e ninguém é dono da vontade dos militantes mas creio que a noite de ontem, onde os senhores críticos-opositores-do-costume estiveram perto de poderem mudar o rumo ao PSD/Abrantes deve ter chegado para perceberem que a maioria dos militantes não os querem de volta às estruturas dirigentes.
Nem sozinhos nem pendurados noutros grupos.
O senhor Roseiro poderá continuar a tentar e um dia até poderá conseguir voltar aos órgãos do PSD mas acho cada vez mais difícil. E acho que ele e os seus apoiantes confessos e os que estão mais na sombra devem ter percebido, de uma vez por todas, que as suas tentativas e investidas só muito dificlmente lograrão obter provimento.
Pronto, já disse. Não valia a pena fazer mais tabu sobre este assunto.
Agora, vamos ao trabalho. Abrir o partido a mais companheiros, muitos deles chegados ao PSD como independentes nas últimas eleições autárquicas; outros mais novos; outros ainda hão-de chegar.
Com persistência e resistência lá chegaremos.
Uma palavra final para a excepcional atitude dos militantes que votaram na lista A. Souberam bem sopesar o que estava em causa. A eles e só a eles se deve a minha vitória - militantes mais antigos, de mais idade e muitos, muitos jovens, porque ninguém é dono da vontade dos militantes do PSD que ainda pertencem à JSD;
Creio que prevaleceu o bom senso. Em nome da estabilidade e da credibilidade do PSD/Abrantes.
Muito, muito obrigado. Espero poder contar convosco; sempre que estiverem disponíveis, espero por todos na sede para trabalharem, lado a lado, com os eleitos. Não são nem mais nem menos capazes para isso: são iguais e é assim que quero considerá-los.
Sobre este assunto, não creio que volte a falar. Agora, o tempo é de acção.
Vem já aí o Congresso do PSD - mais um - na sequência das eleições directas.
Mas a nossa principal preocupação é - e será - no âmbito do nosso concelho. Somos uma Comissão Política Concelhia.
Existe ainda o desafio de saber unir, após esta contenda. Mas só estou disponível, como se percebe pelo que acima ficou escrito (claro como água, preto no branco, em nítido contraste), para unir o que pode e deve ser unido. Não gosto de consensos forçados ou fingidos.
Comigo, vai ser assim.
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