Olhamos para os jornais locais e regionais e constatamos: a larguíssima maioria das notícias sobre a actividade dos concelhos provém dos serviços informativos das próprias câmaras municipais.
Por outras palavras, são cada vez mais raros os jornais e os jornalistas que ousam abandonar o conforto da sala de redacção para irem à procura de notícias.
De vez em quando lá surge uma entrevista ou um trabalho de fundo, como o têm feito recentemente “Primeira Linha”, “Gazeta do Tejo” e “Abarca”. Percebe-se bem: estão a medir-se e a lutar pela mesma fasquia de leitores, o mercado local é cada vez mais estreito e os títulos vão aumentando.
Mas, a nível mais geral e até mesmo nesses jornais, sei bem o que é a tendência para se fazerem notícias com base na nota informativa, no press release, no comunicado oficial.
Já fiz comunicados como vereador eleito na oposição que vi transcritos, palavra por palavra, em alguns órgãos de comunicação social. Nem se deram ao trabalho de me procurarem ouvir, de ouvir ainda outras partes visadas, de confirmar, de investigar, enfim, de produzir matéria.
Outros produtos de comunicação deixaram, pura e simplesmente, de fazer notícias. São assim como que pretensiosos de serem iguais aos nacionais, só que pior, muito pior. Para órgãos nacionais, prefiro os nacionais e os que são de cá e nada noticiam de cá, podem existir bem sem mim como cliente. Na imprensa escrita como na rádio.
É por isso que alguns jornais correm o risco de se transformarem em “pastelões” e alguns jornalistas em “pasteleiros”, sem ofensa para estes.
Felizmente, há alguns órgãos de comunicação social locais e regionais que se esforçam por serem bons produtos. Como em tudo na vida, há bom e mau.
Espero que o novo produto de José António Saraiva, que tanto promete em termos de rotura com o jornalismo tradicional, nos traga novos conceitos jornalísticos, novas formas de abordar o mundo, novos e mais atractivos motivos de reforço da ligação entre quem escreve e quem lê, neste mundo mediatizado, globalizado, “tecnicizado” e em que tudo depende de ser, cada vez mais, claro, concreto e conciso. Porém, verídico, acrescento eu, porque assim tem de ser e estou habituado a ver muitas mentiras ou histórias mal contadas surgirem por aí, vendo a luz do dia, como se de verdade cristalina se tratasse.
A accountability de que Jorge Sampaio fala e de que tanto se fala agora na reforma da Administração Pública, tem de chegar e vai chegar ao jornalismo; que tem de se afirmar pela pesquisa, pela autenticidade, pela confiança que quem lê deve depositar no serviço de quem produz.
O sistema formal e informal de comunicação social deverá ser capaz de premiar o bom jornalismo e punir, severamente, os maus produtos.
O fim do porte pago é apenas um bom começo para esta purificação.
Mas sou defensor que todos os projectos de jornais devem revestir, obrigatoriamente, contabilidade organizada e que as suas relações com clientes seja clara, transparente e auditada por auditores do Instituto da Comunicação Social ou das Actividades Económicas. Só assim se pode pôr fim à promiscuidade que pode surgir – e por vezes surge – entre os poderes políticos dominantes e os jornais, jornalistas e directores.
Só assim ficaria mais claro que o “frete” de transcrição do comunicado e do press release e que tem como cortina de fundo um balão de oxigénio, que se traduz em publicidade de apoio à concertação acordada de interesses, tem de ser considerado um mal a eliminar, com pesadas sanções económicas e sociais para os violadores das regras mais básicas de ética e deontologia profissional.
Como é que um jornal sem publicidade pode sobreviver mais de 6 meses?
Como é que um jornal sem leitores pode beneficiar de apoios do Estado para continuar a existir?
Como é que jornalistas que fazem “fretes” ainda têm carteira profissional?
Como é que podem persistir acordos por debaixo da mesa entre empresas de jornalismo e certos poderes contemporâneos ao género dos senhores feudais?
Creio que estes temas, só por si, justificam que um dos nossos jornais locais e/ou regionais promovam uma jornada de trabalho séria, abrangente, pioneira, de onde possa sair um caderno de propostas e recomendações ao Governo.Porém, não pode ser apenas e só show-off, como sucede a maioria das vezes. Deve ser uma iniciativa bem ponderada, bem estruturada, com gente capaz de fazer auto-crítica, reflexão e também analistas insuspeitos, com opinião formada sobre estes assuntos.
Por outras palavras, são cada vez mais raros os jornais e os jornalistas que ousam abandonar o conforto da sala de redacção para irem à procura de notícias.
De vez em quando lá surge uma entrevista ou um trabalho de fundo, como o têm feito recentemente “Primeira Linha”, “Gazeta do Tejo” e “Abarca”. Percebe-se bem: estão a medir-se e a lutar pela mesma fasquia de leitores, o mercado local é cada vez mais estreito e os títulos vão aumentando.
Mas, a nível mais geral e até mesmo nesses jornais, sei bem o que é a tendência para se fazerem notícias com base na nota informativa, no press release, no comunicado oficial.
Já fiz comunicados como vereador eleito na oposição que vi transcritos, palavra por palavra, em alguns órgãos de comunicação social. Nem se deram ao trabalho de me procurarem ouvir, de ouvir ainda outras partes visadas, de confirmar, de investigar, enfim, de produzir matéria.
Outros produtos de comunicação deixaram, pura e simplesmente, de fazer notícias. São assim como que pretensiosos de serem iguais aos nacionais, só que pior, muito pior. Para órgãos nacionais, prefiro os nacionais e os que são de cá e nada noticiam de cá, podem existir bem sem mim como cliente. Na imprensa escrita como na rádio.
É por isso que alguns jornais correm o risco de se transformarem em “pastelões” e alguns jornalistas em “pasteleiros”, sem ofensa para estes.
Felizmente, há alguns órgãos de comunicação social locais e regionais que se esforçam por serem bons produtos. Como em tudo na vida, há bom e mau.
Espero que o novo produto de José António Saraiva, que tanto promete em termos de rotura com o jornalismo tradicional, nos traga novos conceitos jornalísticos, novas formas de abordar o mundo, novos e mais atractivos motivos de reforço da ligação entre quem escreve e quem lê, neste mundo mediatizado, globalizado, “tecnicizado” e em que tudo depende de ser, cada vez mais, claro, concreto e conciso. Porém, verídico, acrescento eu, porque assim tem de ser e estou habituado a ver muitas mentiras ou histórias mal contadas surgirem por aí, vendo a luz do dia, como se de verdade cristalina se tratasse.
A accountability de que Jorge Sampaio fala e de que tanto se fala agora na reforma da Administração Pública, tem de chegar e vai chegar ao jornalismo; que tem de se afirmar pela pesquisa, pela autenticidade, pela confiança que quem lê deve depositar no serviço de quem produz.
O sistema formal e informal de comunicação social deverá ser capaz de premiar o bom jornalismo e punir, severamente, os maus produtos.
O fim do porte pago é apenas um bom começo para esta purificação.
Mas sou defensor que todos os projectos de jornais devem revestir, obrigatoriamente, contabilidade organizada e que as suas relações com clientes seja clara, transparente e auditada por auditores do Instituto da Comunicação Social ou das Actividades Económicas. Só assim se pode pôr fim à promiscuidade que pode surgir – e por vezes surge – entre os poderes políticos dominantes e os jornais, jornalistas e directores.
Só assim ficaria mais claro que o “frete” de transcrição do comunicado e do press release e que tem como cortina de fundo um balão de oxigénio, que se traduz em publicidade de apoio à concertação acordada de interesses, tem de ser considerado um mal a eliminar, com pesadas sanções económicas e sociais para os violadores das regras mais básicas de ética e deontologia profissional.
Como é que um jornal sem publicidade pode sobreviver mais de 6 meses?
Como é que um jornal sem leitores pode beneficiar de apoios do Estado para continuar a existir?
Como é que jornalistas que fazem “fretes” ainda têm carteira profissional?
Como é que podem persistir acordos por debaixo da mesa entre empresas de jornalismo e certos poderes contemporâneos ao género dos senhores feudais?
Creio que estes temas, só por si, justificam que um dos nossos jornais locais e/ou regionais promovam uma jornada de trabalho séria, abrangente, pioneira, de onde possa sair um caderno de propostas e recomendações ao Governo.Porém, não pode ser apenas e só show-off, como sucede a maioria das vezes. Deve ser uma iniciativa bem ponderada, bem estruturada, com gente capaz de fazer auto-crítica, reflexão e também analistas insuspeitos, com opinião formada sobre estes assuntos.
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