sexta-feira, 17 de março de 2006

REFLEXÕES DO 101

Desde já, uma nota prévia: devido a um erro ou avaria de sistema do Blogger, este post só agora é colocado à disposição, embora tenha sido escrito esta madrugada.
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Uma noite de insónias – mais uma – e eis que estou, às 6 da manhã sentado ao computador.
Navego, vou ao gmail, vejo os blogs de referência, leio os jornais, ligo-me ao mundo. Fantástico tempo este em que as novidades, as opiniões, as referências me chegam facilmente. São quase excessivas, não conseguimos absorver tudo, temos de ser criteriosos – muito criteriosos.
Faço uma resenha dos últimos dias.
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José Manuel Moreira, no Diário Económico de quarta-feira dizia que “a tomada de posse do novo Presidente da República vai obrigar a uma redefinição ideológica dos partidos do arco democrático, a partir de um centro político onde a palavra “social” é a senha e o (neo)liberalismo contra-senha. É por isso que a luta pelo significado das palavras vai ser de capital importância: a função das palavras no debate ideológico é tema a explorar. Mas muito perigoso, se não se cuidar do uso das palavras, que são, como diria Ortega, “os déspotas mais duros que a humanidade conhece”.
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Fazem-me falta as reflexões do Professor David Justino no Quarta República. As suas novas funções junto do Presidente da República têm impedido os seus sempre actuais artigos.
Socorro-me de outro blogger, que conheci na minha curta passagem pela Assembleia da República. O Vítor Reis escreveu ontem sobre o Congresso do PSD, que hoje começa. Diz ele:
A ideia das directas surgiu para colocar em causa a liderança de Durão Barroso.
Na altura, Santana Lopes queria as directas porque pensava que assim derrubaria Barroso.
Então, vimos muita gente no PSD opor-se a esta proposta - porque esvaziava o Congresso, porque daria um carácter populista ao PSD.
Hoje, muitas destas pessoas apoiam as "directas".
Mas será que acreditam genuinamente nesta mudança?
Tenho as maiores dúvidas!
Hoje, a vida interna do PSD está condicionada pelos tacticismos dos que temem o regresso de Santana Lopes, dos que apoiam Marques Mendes enquanto não surge uma alternativa e dos que pensam que a permanência de Marques Mendes na liderança só servirá para que ele se perpetue no poder.
É uma verdadeira casa assombrada!
A discussão estatutária tornou-se uma paródia neste período de desorientação estratégica.
Por isso, tudo é possível.”
O que eu acho engraçado é ver alguns malabaristas que estiveram com Durão, depois com Santana e agora com Marques Mendes. E já antes haviam estado com Marcelo ou com Nogueira ou Cavaco. Sobretudo com este último, à sombra do qual se fizeram falsos “barões social-democratas
”.
Agora, digo eu, os trampolineiros, mestres em golpes de rins, verdadeiros “sempre-em-pé” lá estarão, a partir de hoje, a louvar a solução que já sabem – porque dominam o aparelho – que sairá dali vencedora.
Nem mais, nem menos.
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Paro agora na Carta-aberta de Vicente Jorge Silva a Augusto Santos Silva. De um ex-parlamentar do PS ao Ministro dos Assuntos Parlamentares. Uma carta de “amizade”, como se pode comprovar.
Começo por lembrar o apreço intelectual que tenho por ti e a cumplicidade e amizade que criámos durante o breve tempo em que partilhei contigo o estatuto de deputado”.
E é com base nesta suposta amizade que VJS vai prosseguindo:
Surpreendeste-me, aliás, na legislatura anterior, como o mais sagaz e combativo dos deputados socialistas. Mas exactamente por isso não ficaria bem comigo mesmo se não te exprimisse agora a minha decepção e o meu desencanto, não por estar em desacordo com algumas das tuas recentes posições - o que seria, de resto, natural e altamente saudável - mas porque não revejo nelas a pessoa que conheci e me habituei a estimar”.
E depois vem a quebra da amizade:
Gostaria, sinceramente, de não me ter enganado a teu respeito, mas quando te oiço ou leio a dar laboriosas explicações sobre os excelentes e inocentíssimos propósitos da nova entidade reguladora dos media, a ERC, pergunto-me qual de nós se terá equivocado: se eu, por excesso de candura, se tu, por excesso de cinismo político”.
Livra!?! Com amigos destes, quem precisa de inimigos?
O mais provável, vendo bem as coisas, é que nos equivocámos os dois, mas esse equívoco tem um preço amargo e com custos para a nossa amizade”, lê-se e seguida.
E depois VJS acusa ASS de “adoptar atitudes de conveniência e manobrismo político” e ainda que “nunca te mostraste convincente, credível e eficaz nesse papel”.
E, defendendo a sua condição de ex-jornalista e paladino da ética, VJS liquida o governo de José Sócrates e do seu “amigo” ASS: “O que se passa, porém, é que, em vez de contribuir para combater essa deriva, o Governo de que fazes parte - e onde tens uma decisiva responsabilidade política nesta matéria - está precisamente a criar uma caixa de pandora que só favorece a promiscuidade crescente entre o poder político e os media”.
O último parágrafo é verdadeiramente assassino para o Ministro:
Recordar-te-ás que, quando estive contigo no parlamento, tentei promover sem sucesso um amplo debate no PS sobre as relações entre o poder político e o poder mediático. A incompreensão e o cinismo acabaram por prevalecer, confortando as velhas convicções de que os "bons jornalistas" são aqueles que são politicamente dóceis para nós e agressivos para os demais. Será que tu, caro Augusto, também te rendeste definitivamente a estas socráticas evidências?”.
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Entro no Acidental. Rodrigo Moita de Deus continua imparável com a sua verve crítica bem aguçada. Diz ele:
A mim parece-me que Ribeiro e Castro candidatou-se a presidente do CDS e só agora percebeu que foi eleito presidente do PP”.
E também dispara contra Alberto João Jardim:
A política na ilha da madeira já foi arrojada. Depois cómica. Depois diferente. Hoje é só embaraçosa. Não há ninguém que tome conta do assunto?”.
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No Blasfémia, João Miranda entretém-se a “morder” o PSD e o Congresso que hoje começa. De uma só pincelada, põe a nu as fragilidades das quotas e arranjos para alguém se fazer congressista:
Começa mais um congresso do PSD onde estarão presentes os Jovens Social Democratas, os Sindicalistas Social Democratas, as Mulheres Social Democratas, os Autarcas Social Democratas e os outros. Alguns destes grupos têm várias benesses eleitorais podendo um jovem social democrata chegar a delegado congresso pela via normal ou pela via da quota da sua organização. Há mesmo uma jovem sindicalista chamada Maria recém eleita para uma Assembleia de Freguesia que está inscrita nas 4 organizações”.
Não consegui deixar de rir ao ler a seguinte frase:
Estas organizações políticas têm objectivos muito semelhantes, todos eles igualmente nobres, sem os quais a civilização entraria em colapso. As Mulheres Social Democratas querem reforçar o poder das Mulheres Social Democratas no Partido Social Democrata. Os Autarcas Social Democratas querem reforçar o poder dos Autarcas Social Democratas no Partido Social Democrata. Os Jovens Social Democratas querem reforçar o poder dos Jovens Social Democratas no Partido Social Democrata. Os Sindicalistas Social Democratas querem reforçar o poder dos Sindicalistas Social Democratas no Partido Social Democrata. Alguns dos membros destas organizações nem sequer têm existência política própria. Assim, as mulheres Mulheres Social Democratas tendem a ser as filhas, as mulheres e as amantes dos homens social democratas e os Jovens Social Democratas tendem a ser os filhos dos pais Social Democratas”.
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Bom, isto já vai longo. São quase 8 da manhã e tenho de ir arranjar-me.
O dia começa cedo com trabalho e acabará, por certo, a altas horas da madrugada, no Pavilhão Atlântico, na discussão, no epicentro, nos acontecimentos que marcam sempre os congressos do PSD.
Tenho de arejar estes parágrafos, senão isto fica cá uma “xaropada”, Fénix!
Decido não colocar imagens. Apenas o texto, por mais extenso que seja, e é.

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