terça-feira, 14 de novembro de 2006

Leituras&Reflexões

Já se viu que ando virado para a vida no campo. É um facto.
Tenho também, nesta altura, mais tempo para a leitura.
Acabei de ler "O último Papa", de Luís Miguel Rocha, uma obra sobre um trama em torno de um alegado assassinato de João Paulo I. Achei fraco como obra literária e até parecido com a "Conspiração", de Dan Brown no enredo.
Estou a ler "O número de Deus", de José Luis Corral, um livro sobre o século XIII, o século das mulheres e das catedrais, de perseguições religiosas e de vida na clandestinidade.
Estou também a ler "Maquiavel em Democracia", de Edouard Balladur, antigo Primeiro Ministro francês e candidato presidencial derrotado por Jacques Chirac. Edouard Balladur, de 77 anos de idade, anunciou no passado mês de Outubro a sua retirada da política, de modo a dar lugar aos mais novos e a renovar a classe política francesa por uma nova que seja capaz de responder aos desafios contemporâneos da França em crise. Continuará a apoiar o seu delfim Nicolas Sarkozy, presidente da UMP - União para um Movimento Popular, criado por altura das presidenciais de 2002 para apoiar a recandidatura presidencial de Jacques Chirac, que tinha vencido em 1995 contra Balladur, sendo ambos candidatos da direita e do RPR gaulista.
Diz Balladur:
"Democracia ou ditadura, o objectivo é o mesmo: a conquista e a conservação do poder, sejam quais forem os meios e enquanto for possível. Quanto ao recurso à mentira, quase não há diferença entre o que se passa em democracia e em ditadura, a não ser quanto à eficácia: a mentira é ainda mais eficaz na democracia porque permite captar os votos de um maior número de pessoas, enquanto na ditadura basta impor-se pela força e dominar em vez de convencer".
Lúcido, claro, se rodeios, Balladur diz muito mais coisas acertadas:
"O mérito de Maquiavel está em ter acabado com a hipocrisia dos bons sentimentos. Maquiavel caracterizou, desde logo, os métodos do poder: a luta pela conquista do poder é a realização das ambições egoístas e nada mais" (...) "O poder já não pode constituir-se como fim em si mesmo, apenas ao serviço de um interesse egoísta. O povo, que é o soberano último do poder, exige que ele seja exercido em ordem ao seu bem-estar, que salvaguarde o seu futuro e não seja exercido apenas para satisfazer os instintos de dominação de quem o detém. Para ser aceite, a ambição de, pelo menos, aparentar inspirar-se em motivos nobres. A maioria das vezes tudo se fica pelas aparências. Como no tempo de Maquiavel, o cinismo é que impera".
E, procurando encontrar diferenças entre Democracia e Ditadura, Edouard Balladur acrescenta:
"Ditadura? Democracia? Haverá uma diferença radical entre mandar através da imposição pela força e mandar com base na adesão livre do provo? Haverá entre estas duas formas um fosso nítido, marcado? A complexidade do mundo actual, com as suas ditaduras serôdias e as democracias degradadas, desmente-o diariamente. Hoje, como ontem, o espírito de dominação inspira permanentemente o político, embora os meios não sejam os mesmos.
Quem não sonhou ver o idealismo acompanhar o advento da democracia? Quão longe estamos disso!"
E, para terminar e deixando os leitores deste espaço, eventualmente, com vontade de comprar esta obra que me está a dar muito prazer a ler, cito:
"invocar convicções morais faz rir os cínicos". Uma frase acertada para o mundo de hoje, onde os valores se volatilizaram para dar lugar a arranjos de conveniência e à instrumentalização de consciências alienadas dez vinténs.
Lê-se bem o livro. É leve mas com pensamentos a proporcionar reflexões.
Claro, tenho mais cinco livros na mesa de cabeceira, à espera de vez. E vou comprar já, para ler também, o livro de Pedro Santana Lopes, o tal que relata a visão do ex-PM sobre a sua queda em 2004.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pedro o livro que trata da morte de um Papa, escrito por Dan Brown é o "Anjos e Demónios" e não a "Conspiração".

Desculpa se estou errado, mas ainda estou a começar a ler a "Conspiração" e ainda não li "O último Papa".

pedropmarques disse...

Olá Nuno Gil,

Eu não falava da morte dó Papa. Falava da trama de viagens, perseguições, mortes em série. Esse enredo é que é parecido com a Conspiração. Também já li o Anjos e Demónios e, claro, o Código Da Vinci. Há um fio condutor em todos eles. Ainda não peguei na Fortaleza Digital porque preciso de afastar-me um pouco do estilo de Dan Brown. Mas lá irei um dia...
Obrigado pelo comentário.

Anónimo disse...

Não tens que pedir desculpa, como disse comecei agora a ler a "Cosnpiração" e ainda não li "O Último Papa".

Mais uma vez desculpa por estar equivocado.