sábado, 25 de fevereiro de 2006

XVIII Congresso Nacional do PSD

Nos dias 17 e 18 de Março pf o Congresso Nacional do PSD vai voltar a reunir-se, desta feita para discutir muito sobre a organização interna do PSD, mais do que sobre os grandes desafios do futuro de Portugal.
Havia a promessa, marcou-se o Congresso, veremos os seus efeitos.
Ontem à noite os militantes do PSD de Abrantes reuniram-se para elegerem os seus 2 representantes a esse Congresso Nacional.
Eu não fui candidato porque já sou participante no conclave por direito próprio de ser o 1º eleito na Câmara Municipal, assim como há outros companheiros e amigos como o Luís Coelho e o Mauro Xavier que já estão garantidos no Congresso por inerência das suas funções.
O confronto de ontem foi interessante. De um lado, o candidato desafiador à concelhia de Abrantes, Gonçalo Oliveira, numa espécie de primárias internas para testar a sua força e a sua mobilização. Ao longo da semana falaram-me numa mobilização em massa, rondando os 60 elementos afectos à sua candidatura.
Do outro, o ainda líder (demissionário) Armando Fernandes.
De um lado, pois, a forte motivação de mostrar serviço e de tentar provar que existe um projecto geracional forte e aglutinador.
Do outro, a visão menos comprometedora e mais serena de quem está de saída da direcção concelhia do partido, com elevação e dignidade.
Ao todo, 122 militantes com quotas pagas, entre os mais de 440 inscritos na concelhia.
Em face do que me iam dizendo, acreditei que Armando Fernandes poderia ser eleito mas que, em face dos esperados 60 militantes apregoados do lado do candidato desafiador, este sairia vencedor. Contudo, beneficiando do método de Hondt, se Gonçalo Oliveira (e Nuno Lopes e ainda Álvaro Chaleira, este último como suplente) não lograsse duplicar os votos de Armando Fernandes (e José Moreno e ainda Fernanda Aparício, esta com suplente também), seria eleito um de cada lado.
Foi nisso que apostei, foi nisso que apostámos. Não fizémos mobilização prévia, não pedimos a ninguém que pagasse quotas, não pagámos quotas de ninguém, não fizémos nenhum esforço adicional. Quisémos apenas marcar posição.
Foi mesmo assim. Palavra!
Quando abriram as urnas e vi começarem a chegar os apoiantes de Gonçalo Oliveira - alguns dos quais nunca tinha visto na minha vida, nem na sede nem nas campanhas, palavra! - convenci-me de que iria ser mesmo como eu tinha pensado. Serenamente, vi-os chegar e votar, para depois sairem.
Em toda a noite nunca se falou se os delegados de Abrantes vão defender as eleições directas ou o seu contrário. Isso não parece ter sido importante. Importante mesmo era testar a capacidade de mobilização de um candidato geracional que quer liderar a concelhia com grandes objectivos.
A doutrina, as bases programáticas e ideológicas, a consistência estratégia parecem não ter nada a ver com o assunto.
Fiquei surpreendido ao verificar, afinal, no final do plenário, na contagem dos votos, que Armando Fernandes venceu o candidato desafiador Gonçalo Oliveira por uns expressivos 61,1% dos votos. Se tivesse existido mobilização mesmo do lado de Armando Fernandes (onde me incluo) e poderíamos nós ter duplicado os votos (aos 66,7%), assegurando os dois lugares no Congresso.
Sobretudo porque, contando os apoiantes de Gonçalo Oliveira que subiram a escada da sede e descarregaram o seu voto, 4 ou 5 não votaram naquela lista. Também não votaram em branco. Votaram em Armando Fernandes. Como? Porquê? Não sei! Não entendo!
Contudo, acho que é justo ter sido assim, isto é, que quer um quer outro candidato tenham sido eleitos para irem ao Congresso.
Penso que Gonçalo Oliveira cometeu aqui, em todo este processo, um erro. Como candidato a Presidente da concelhia que queria testar a sua força e a sua capacidade de liderança, sai prejudicado nestas eleições e não poderia ter-se sujeitado a isto. Não venceu, viu fugirem votos de alguns dos seus apoiantes, não provou e no primeiro round foi batido. Não precisava de ser assim mas a recusa a uma lista consensual a isso conduziu.
Não houve revanches, não houve picardias, houve muita elevação e delicadeza de ambas as partes, excepto, claro, o evidente trago amargo do sabor que as derrotas trazem na hora de aceitar o resultado e abandonar a sede. Posso falar nisso sem complexos; já o provei e sei que é pouco agradável.
Gonçalo Oliveira ficou fragilizado mas isso não o impedirá, por certo, de concorrer à concelhia e assegurar mobilização para 24 de Março.
Aí penso que as coisas poderão ser diferentes.
Para já, parece estar sozinho no terreno. Talvez definitivamente sozinho. Pode preparar tudo com tempo mas deve, igualmente, saber ler os sinais.
Por vezes, o orgulho não é bom aliado porque pode conduzir à cegueira, à incompreesão, à intolerância, à criação de estéreis muros altos.
Gonçalo Oliveira pode vir a concorrer sem oposição.
Mas ontem não poderia ficar sozinho. O partido, até 24 de Março, ainda tem liderança concelhia e esta merecia - como merece - ir ao Congresso discutir os assuntos na agenda.
Era uma questão de dignidade, de honra, de integridade.
Nos últimos dois Congressos nacionais os candidatos de Abrantes já tinham sido Armando Fernandes e Gonçalo Oliveira, por esta ordem, em lista única.
Ontem, apesar de em listas opostas, a história e a tradição mantiveram a ordem natural das coisas: Armando Fernandes em 1º, o candidato desafiador à concelhia em último. Claro que, tal como a anedota conta, também pode haver quem leia que Gonçalo Oliveira ficou em 2º e Armando Fernandes em penúltimo, mas isso são as decorrências habituais das leituras enviesadas.
Para que conste, o único lugar de observador (sem direito a voto) foi para o candidato nº2 da lista mais votada ontem à noite, por acordo entre as listas candidatas, com o beneplático do Presidente da Mesa, Carlos Coelho. Ou seja, José Moreno irá estar igualmente, embora sem direito a voto, no Congresso de Lisboa.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Carnaval

Hoje foi dia de desfile de Carnaval em Abrantes, promovido pelas Escolas Pré-Primárias e do 1º Ciclo.
Reconheço o esforço de docentes, auxiliares, pais e encarregados de educação para que tudo corra bem. E corre normalmente bem. Este ano o desfile foi muito mais pequeno e com muito pouca animação musical. Uns tambores à frente cerca de 100 a 200 metros à frente do último grupo, o que fez com que, atrás, a animação quase não existisse, apenas o desfile.
Mas as crianças fazem toda a festa e fazem toda a diferença nesta cidade e neste concelho onde as prioridades são, normalmente, outras.
Associaram-se à festa das crianças alguns idosos da Santa Casa da Misericórdias e outros, menos idosos, igualmente utentes daquela instituição de solidariedade social. E também vi alguns utentes do CRIA.
Por achar justo, aqui ficam algumas imagens recolhidas hoje mesmo. A alegria genuína e espontânea pode existir. Admiro todas estas pessoas pela sua maneira de ser. O momento não está para alegrias ou folias mas que há alegres e foliões, lá isso há.
Bom fim de semana a todos.

Fiquei contente com as imagens que captei.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Notícia de Trás-os-Montes

"Jovem recém-licenciada nomeada administradora
A Administração do Centro Hospitalar do Nordeste Transmontano (CHNT) ficou completa a partir do início deste mês depois da nomeação de Cláudia Miranda como vogal executiva da mesma Administração.
Cláudia Miranda ainda não tem 20 anos e em termos de currículo está a construí-lo, muito ajudando a actual nomeação política para o lugar de administradora do CHNT. No seu currículo sobressaem as funções de professora substituta do Instituto Politécnico de Bragança, onde seria obrigada a deixar lugar depois de o respectivo titular regressar.
A nova administradora vai auferir o vencimento de 3 000 euros (600 contos) líquidos, acrescidos de automóvel, combustível, telemóvel e algumas despesas de representação. Entretanto, perspectiva-se já que esse vencimento venha a subir para 800 contos líquidos em virtude o actual vencimento ainda corresponder à categoria dos vogais da administração do antigo Hospital de Bragança e não à categoria de vogal de um Centro Hospitalar.
Porque é que uma jovem sem currículo é nomeada para lugar … de tanta responsabilidade… a avaliar pelo vencimento e mordomias?... Será pelas suas eventuais futuras relações matrimoniais com o actual líder distrital da JS?...
Pela ideia que nos “venderam” dele, não nos parece rapaz de deitar a perder as suas convicções políticas por tão pouco!... Mas por que será, então?... Não conseguimos apurar. Objectivamente é o que podemos dizer.
Só para terminar, já está a ganhar como vogal da Administração desde os primeiros dias de Fevereiro, mas ainda não se apresentou ao serviço!..."
Nota: Não inventei nada. Esta notícia foi retirada do site do jornal digital "A Voz do Nordeste". Podem ir lá ver.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

50.000 edições

O Diário de Notícias editou hoje a sua 50.000ª edição em papel. Um feito notável, percorridos que estão 142 anos de existência. Tinha de aqui fazer uma referência, tanto mais que é, cada vez mais, o meu jornal de referência.
Já li bastante o "Público" e continuo a folhear esse diário mais recente mas confesso que o DN é o meu jornal, cada vez mais. O mais recente arejamento gráfico tornou o DN ainda mais atractivo.
O DN é do tempo do Rei D. Luís.
Nunca é demais sublinhar o pioneirismo de Quintino Antunes e Eduardo Coelho, aos quais se deve o início das publicações do DN.
Está tudo no editorial de António José Teixeira, publicado hoje mesmo.
Vale a pena render esta homenagem.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Plano Estratégico de Cidade – “O Diagnóstico”

Foi ontem apresentado, em cerimónia bastante concorrida, o Relatório de Diagnóstico Estratégico do Plano Estratégico da Cidade de Abrantes, o qual está a ser executado pela empresa Quaternaire Portugal.
Nelson de Carvalho começou por dizer que este novo PEC se justifica porque o anterior foi cumprido e esgotado com sucesso.
Aí começaram as minhas suspeitas. Se tinha havido sucesso, o diagnóstico que se seguiria haveria de ser bom. Só podia ser, não é?
Não, não foi.
Durante cerca de 2 horas, 3 técnicos discorreram sobre o Diagnóstico da Cidade e, alguns casos, de todo o concelho.
Por entre algumas coisas positivas, muitas negativas surgiram, dando razão àqueles – entre os quais me tenho incluído – que vêm fazendo, gratuitamente, um diagnóstico em muitos casos negativo sobre a condução dos destinos do concelho.
Vou citar algumas das referências efectuadas pela isenta empresa contratada e que podem ser obtidas no site da Câmara Municipal, onde o documento está disponível em formato ‘pdf’.
Refira-se que o PEC foi adjudicado à empresa Quaternaire Portugal – Consultoria e Desenvolvimento, SA em 30.05.2005, em reunião de câmara municipal, pelo montante total de 38.900,00 Euros + IVA.

DEMOGRAFIA E RECURSOS HUMANOS
“Constata-se que a população residente tem vindo a aumentar nas áreas urbanas ao invés do decréscimo acentuado de residentes nas zonas rurais do concelho”.
“O Concelho de Abrantes apresentava, em 2001, uma taxa de atracção/retenção da população negativa, justificada por um crescimento natural negativo e por alguma dificuldade em conseguir fixar residentes no Concelho”.
“As taxas de natalidade baixas, aliadas a um aumento do número de idosos, fazem com que o Índice de Envelhecimento atinja valores cada vez mais elevados”.
“Para os indicadores de Abandono e Saída Precoce no Ensino Secundário em 2001, o concelho de Abrantes apresentava resultados ligeiramente piores do que Portugal Continental, com taxas mais elevadas que este”.
“Perante a análise dos dados do desemprego registado de 2001 a Outubro de 2005, observamos um aumento das taxas de desemprego ao nível do concelho. A maioria dos desempregados tem habilitações ao nível do 1º e 2º ciclo, mas nos últimos anos o desemprego tem crescido para os níveis de ensino 3º ciclo, Secundário e Superior. As Mulheres são o segmento populacional mais atingido”.
“Para finalizar, a partir de uma breve observação dos níveis de rendimento e poder de compra, verificamos que Abrantes apresenta uma trajectória de convergência com o país, embora tenha ainda de canalizar esforços consideráveis para o seu desenvolvimento”. Por outras palavras, estamos divergentes com o país!
Entendo que não devo fazer grandes comentários, mas não resisto a alguns.
Foram as opções políticas locais, além de factores de influência exógenos, que conduziram a este Diagnóstico. O PS é responsável pela quase totalidade dos executivos municipais desde o 25 de Abril e este Presidente irá fazer, pelo menos, 16 anos desse tempo. Não há responsáveis? Não, o povo é benevolente, aliás tem baixa auto-estima e não acredita em grandes mudanças nos próximos 10 anos, como à frente se verá noutras conclusões do documento agora apresentado.

DINÂMICAS PRODUTIVAS E DE INOVAÇÃO
“De uma forma geral, a base produtiva do concelho de Abrantes não registou transformações significativas ao longo do período considerado no diagnóstico efectuado, revelando antes uma evolução na continuidade, ou seja, mantendo a sua especialização produtiva e uma capacidade de empreendimento limitada”.
Não é o que o senhor Nelson tem andado a dizer mas…
“Os investimentos realizados no âmbito do PROCOM foram importantes para a modernização da estrutura comercial da cidade, nomeadamente do centro histórico, mas constata-se agora a necessidade de um novo impulso, que passará, entre outros aspectos, pelo desenvolvimento de factores imateriais e de contexto desta actividade (ex: gestão do centro urbano, formação profissional, animação, marketing, etc) assim como pela necessária qualificação da oferta comercial existente (ex: atracção do comércio de ‘marcas’)”.
Depois, os autores valorizam o espaço do Tecnopólo e das zonas industriais já infraestruturadas e a infraestruturar, salientando isso como factor positivo. Dizem mesmo que “no que toca às infraestruturas de suporte à actividade económica e inovação, Abrantes dispõe/poderá dispor de uma posição privilegiada no seio do Médio Tejo”, não obstante registar a “forte quebra dos investimentos a que se assistiu no concelho”, atribuindo culpas disso ao phasing out e perda de apoios comunitários ao investimento.
Relativamente à ESTA, considera-a importante no desenvolvimento económico, “não obstante não haver evidência da sua suficiência para suportar os processos de produção de conhecimento necessários ao desenvolvimento e competitividade da base produtiva local (e regional)”.
Em geral, dizem os autores, “constata-se que apesar de alguma dinâmica recente em torno da constituição de parcerias e capital social entre alguns actores, institucionais e empresariais, designadamente para partilha de conhecimento e recursos, os níveis de “eficiência colectiva” tende a ser ainda bastante reduzido, com consequências também nas baixas dinâmicas inovativas reveladas pelo tecido empresarial Abrantino, no seu global”.
Não obstante, consideram poder ser positiva a emergência do Tagus Valley, da rede de inovação e do FAIME.

CONDIÇÕES DE VIDA E COESÃO SOCIAL
“O diagnóstico decorrente do contacto com a realidade social da cidade de Abrantes permitiu-nos elencar algumas das tendências que actualmente mais preocupam as principais instituições que localmente intervêm nesta área:
· Envelhecimento populacional;
· Dinamismo económico pouco significativo e existência de algum desemprego;
· Manutenção de défices significativos ao nível da qualificação escolar e profissional;
· Degradação do parque edificado e insuficiências no plano da habitação social;
· Incremento das dificuldades de mobilidade interna;
· Afirmação de fenómenos como o alcoolismo, a toxicodependência e a delinquência juvenil”.
E vão os autores mais longe, ao afirmarem:
“Do ponto de vista das prioridades de intervenção, a análise permitiu destacar três linhas de fractura transversais ao tecido urbano local:
1. Crescimento do desemprego e consequente incremento das situações de pobreza e exclusão social e dos fenómenos a elas associados;
2. Degradação das condições de habitabilidade e aumento das necessidades em matéria de requalificação do parque edificado e oferta de habitação social;
3. Aumento das solicitações e desafios colocados ao sistema de protecção social local e consequente extenuação progressiva da sua capacidade de resposta”.
Apesar de tudo, alguns elogios (não podiam haver um padrão crítico dominante perante o cliente):
“A cidade e o concelho de Abrantes têm, aliás, visto consolidar-se conceitos tão relevantes como os de parceria e trabalho em rede, conceitos que se têm traduzido no desenvolvimento de algumas experiências de envolvimento das populações e de gestão participada das iniciativas promovidas pelas diversas entidades com responsabilidade nesta área. A este facto não são certamente alheias a constituição do Conselho Local de Acção Social e as reflexões no quadro da Rede Social do concelho. O diagnóstico delas resultante deve constituir um instrumento chave da intervenção futura”.
Mas logo no parágrafo seguinte vem o recado:
“Importa, contudo, evitar a cristalização e obsolescência das experiências e do conhecimento acumulado. Se é verdade que existe um diagnóstico da realidade local, não é menos verdade que tal diagnóstico permanece incompleto e a necessitar de contínua actualização”.
Pronto, assim está melhor…
E sustentam ainda os autores, relativamente ao fenómeno crescente do desemprego, que “dada a premência e profundidade do problema e das suas implicações e dada a volatilidade que, nos últimos anos, caracteriza a situação económica e as condições de emprego, é imprescindível acompanhar de perto a evolução do fenómeno”.
“Juntamente com a criação de emprego e o trabalho junto da população desempregada (sobretudo a de longa duração), a requalificação do parque edificado e a ampliação das soluções em matéria de habitação social, a melhoria da mobilidade interna (como forma de ligar as diferentes áreas da cidade e assim evitar situações de segregação social e isolamento, nomeadamente no Centro Histórico) e o reforço da capacidade de resposta da rede de equipamentos e serviços sociais são linhas de intervenção prioritária que só poderão materializadas com sucesso se as instituições da cidade souberem partilhar recursos, concertar esforços e estudar soluções integradas para os problemas”.
Correcto.

DINÂMICAS CULTURAIS, LÚDICAS E DESPORTIVAS
Primeiro o elogio à obra física. Ela existe, é inegável. O que falta é a obra que não se vê e foi essa que critiquei na última campanha eleitoral. Foi-me dito que não, que além dos equipamentos tínhamos vasta programação cultural e desportiva. Se no segundo caso, com dezenas e dezenas de funcionários e contratados a actividade vai surgindo, o deserto do panorama cultural fica mais evidente.
Mas voltando ao elogio da Quaternaire:
“Abrantes apresenta uma situação claramente vantajosa no plano dos equipamentos culturais e desportivos, possuindo um leque considerável de equipamentos de diversas tipologias e destinados a diversos usos, muitos deles construídos ou remodelados há não muito tempo”.
Em termos culturais “apesar do potencial existente, o sentimento comum parece ser o de alguma estagnação em termos de actividade e níveis de utilização dos equipamentos da cidade, fenómeno associado a um conjunto de factores entre os quais se destacam a ausência de um plano cultural integrado e sistemático para a cidade, o fraco dinamismo dos públicos e a ausência de políticas de formação dos mesmos e o fraco dinamismo do tecido associativo local”.
Nada mais claro, nada mais sintético, nada mais objectivo. Com a dualidade de critérios entre as apostas no desporto e a cultura, esta última perdeu e surge claramente prejudicada no diagnóstico. Como a seguir se demonstra:
“A ausência de uma programação diversificada e sistemática de actividades culturais e de uma gestão integrada dos equipamentos, aliada à falta de pessoal técnico especializado e à falta de eficácia no plano da divulgação das actividades realizadas, torna muito difícil a mobilização dos públicos, facto agravado pela ausência de política municipal de formação de públicos Contrastando com a realidade cultural, a realidade desportiva”.
Durante muito tempo, disse e dissemos isto e muito mais. Fomos acusados de não gostarmos de Abrantes, de estarmos sempre a salientar aspectos negativos, ainda por cima infundados. Dissemo-lo de borla mas porque era o nosso diagnóstico; responderam que era mentira, que em Abrantes estava tudo bem. Agora, pagam para ouvir as mesmas verdades e já as aceitam. É assim a vida dos políticos.
A contrastar com a realidade cultural, o panorama desportivo.
“O cenário é bem mais positivo no plano da política desportiva. Na sequência da aposta assumida pela Câmara Municipal, o desporto tem sido alvo de atenção especial”.
“No plano dos equipamentos desportivos, o primeiro aspecto a ter em conta é a relevância que, nos últimos anos, o desporto tem assumido na estratégia de desenvolvimento delineada para a cidade pela Câmara Municipal de Abrantes”.
Verdade. O desporto rende mais votos que a cultura. É – foi e será – essa a razão principal. Os terrenos culturais são mais áridos e de mais difícil mobilização, pensarão (erradamente) os decisores responsáveis locais.
Mas sempre fica o alerta:
“A concretização dos objectivos específicos decorrentes do objectivo geral de afirmação da cidade de Abrantes como centro desportivo de alcance regional e supra-regional está agora dependente da capacidade de rentabilização e dinamização dos equipamentos existentes, num sector que sofre a concorrência de pólos como Rio Maior, onde a aposta no desporto tem igualmente pautado as estratégias de desenvolvimento local”.
Por fim, o turismo: “é de assinalar as dificuldades manifestadas pelos actores locais relativamente à definição dos grandes traços identitários da cidade de Abrantes. Na maior parte dos casos, os entrevistados optaram por sublinhar o carácter múltiplo e difuso da identidade local. A ausência de elementos identitários fortes e unificadores é geralmente associada à própria história da cidade – local de passagem mais do que de permanência – e à sua evolução recente, que tem contribuído para acentuar a diferenciação interna do território, dificultando a afirmação de uma imagem única e consensual”.

TERRITÓRIO, URBANISMO E AMBIENTE
O que saltou mais à vista neste diagnóstico foi a falta de coesão, a inexistência de uma malha cosida, o caos das rodovias e ferrovias que não servem a população, que lhe reduzem mobilidade e lhe fomentam, desse modo, exclusão. Afinal, tudo o que tenho e temos andado a dizer e tem sido negado pelos senhores do poder.
Em particular, os autores partilham da mesma visão que eu e alguns dos que, no PSD, defendemos a manutenção da ESTA no centro histórico, em contraposição da visão dos senhores do poder, que a querem em Alferrarede, na Quimigal.
Para a Quaternaire, “um outro aspecto importante a focar, numa altura em que o novo pólo industrial e tecnológico ganha protagonismo, servido por uma cada vez melhor rede de acessibilidades e articulado com a estrutura urbana envolvente, é o papel do Centro Histórico na Cidade – a sua apetência para a localização de serviços especializados como consultórios médicos, escritórios de advogados, profissões liberais diversas, que foi conquistada à custa do esforço de modernização / dinamização comercial / qualificação do espaço público (representando um enorme investimento de múltiplos actores) pode estar a ser posta em causa pela relocalização de equipamentos geradores de atracção, como a Escola Superior de Tecnologia”.
Depois, vem uma referência ao parque habitacional, onde pontificam preocupações face ao património degradado e a necessitar de incremento na sua reabilitação.
Os autores não dizem mas a ausência de uma política firme de apoio à salvaguarda e reabilitação de imóveis, assente em programas nacionais tem deixado à iniciativa de alguns o privilégio de se associarem à reabilitação do património edificado que se encontra degradado e a carecer de intervenção. É claro que há razões de natureza legislativa que têm contribuído para uma fraca dinâmica do mercado de arrendamento mas é igualmente nítida uma fraca aposta municipal em sustentar políticas amplas de recuperação de casas degradadas, antes preferindo a via das novas urbanizações, mais proveitosas em termos de receitas de licenciamento.
“Por fim, no que respeita ao domínio Ambiente e Estrutura Ecológica urbana, deve salientar-se que Abrantes tem características naturais cuja persistência, ainda que frágil, faz do seu território um suporte cuja requalificação tem potencialidades para criar ambientes urbanos únicos, sobre um suporte fisiográfico diversificado. Como exemplos destas características, destacam-se os povoamentos de olival, a riqueza de alguns terrenos agrícolas, em alguns casos no seio de áreas urbanizadas, uma densa rede hidrológico, boas condições climatéricas e uma boa exposição solar”.

ACESSIBILIDADES, SISTEMA URBANO E COMPETITIVIDADE TERRITORIAL
“O contexto de infraestruturas de acessibilidades rodo e ferroviárias é favorável ao reforço da centralidade de Abrantes no espaço de proximidade/ regional e na integração com o litoral/ AM Lisboa”.
“Não tendo o potencial locativo tão reforçado pelos sistemas de transportes quanto Entroncamento, Abrantes pode no entanto afirmar-se pela maior capacidade de polarização de proximidade no interior. A existência de serviços de transportes colectivos regionais, com redes e serviços a melhorar, são elemento importante nessa afirmação”.
Indo ao encontro da proposta que fiz de especialização como área logística de excelência, o estudo da Quaternaire salienta o seguinte:
“Não pode ignorar-se que, nesta competição com outros centros urbano do Médio Tejo, Abrantes tem algumas desvantagens para além das que se relacionam com as acessibilidades e a multimodalidade. Desde logo um território envolvente pouco dinâmico e uma falta de especialização no domínio da logística de transportes”.
Nada mais claro. Está no programa que propus aos abrantinos e que não foi aceite, talvez não por ser um documento menos bem conseguido mas simplesmente porque 98% das pessoas não lêem programas e votam tradicionalmente PS, mesmo cansadas e zangadas com os sucessivos insucessos da sua governação. É assim Abrantes, um concelho de gente resignada, como à frente se verá.

MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E E-GOVERNMENT
“O projecto “Abrantes Município Digital” insere-se numa estratégia mais lata da CMA, de aposta na difusão da informação e conhecimento às populações, por via do uso das TIC e inovação, em diversos sectores de actividade, com influência directa e indirecta da actividade Municipal”.
“A presente fase é de transição para a vertente de comunicação externa, crucial na satisfação dos públicos a atingir”.
Nada mais a salientar.

IDENTIDADE E IMAGEM DA CIDADE
“A aposta no marketing urbano como factor relevante para a sua gestão estratégica será cada vez mais decisiva no futuro”. É algo que venho defendendo desde há anos.
E cá vem a questão do conformismo e da baixa auto-estima.
“Este aspecto assume particular importância no caso da cidade de Abrantes, uma vez que algumas das debilidades encontradas, como a baixa auto-estima, uma identidade algo difusa, níveis de relacionamento social pouco significativos, algum conformismo relativamente ao futuro e um posicionamento confuso da cidade, poderiam ser trabalhados a partir do marketing urbano”.
O que deverá ser equacionado não é a existência desse conformismo e dessa baixa auto-estima de per si, mas antes porque razão as pessoas foram conduzidas a esse estádio interior que lhe mata a alma abrantina. Porquê? Por causa das sucessivas opções assumidas, erradas, de esbanjamento de dinheiro, com prejuízo da factura mensal que cada um tem de pagar para alimentar este modelo, etc. etc. Tudo razões que tive a coragem de elencar e defender há muito tempo, muitas vezes pregando sozinho ou quase sozinho no deserto.
Agora, vêm de fora, a cobrar, dizer as mesmas verdades.
“Mais do que um problema de imagem e de comunicação (não existe um gap significativo entre a identidade percepcionada e a comunicada), falta a Abrantes uma «Unique Selling Proposition» (USP) que traduza um posicionamento adequado, que a diferencie, valorize e torne atractiva no actual jogo concorrencial”.

E pronto. Mais não digo e já disse demais. Consultem o documento, analisem-no, pensem e reflictam.
Ontem à tarde, senti vontade de falar na Pirâmide mas controlei-me e não meti a política de índole partidária naquela discussão. Acho que fiz bem. Apetecia-me dizer que tive razão antes do tempo mas isto de ter razão antes do tempo só dá vitórias morais e esses não me satisfazem.Agora, o prazer de ver o senhor Nelson e seus pares ouvirem algumas verdades que já lhes vinham sendo ditas (e eles a negarem) e ainda por cima pagarem (ainda que do nosso dinheiro) para isso acontecer, deu-me alguma paz e tranquilidade interior.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Reflexão subsequente

Depois de ontem, volto ao assunto. Agora, com mais detalhe. Porque me apetece e porque sinto dever fazê-lo.
Exprimi preocupações, deixei alertas, reflecti.
Criei algum feedback mas, até agora, não surgiu nenhum 'herói' disposto a avançar com uma proposta de ampla discussão e trabalho no seio do partido. Talvez não surja, talvez não seja a hora de ninguém surgir. Talvez o comodismo e o conformismo sejam a opção mais fácil.
Confesso que, cada dia que passa, fica mais difícil encontrar uma solução - "a solução".
A ser assim, não nos restará mais do que a resignação e assistirmos ao desenlace?
Talvez sim, talvez não; mas, pelo andar da carruagem, o homem dos comboios chegará à frente. Não acredito que seja uma locomotiva a puxar pelo vagões. Não acredito.
Penso que ainda não há data marcada para as eleições. Tenho olhado para o "Povo Livre" e nem a 1 nem a 8 saíu nada. A edição de 15 do corrente hoje, dia 16, ainda não está online. Se tiver saído a convocatória, só depois de meados de Março haverá eleições. Como a 17 e 18 há o Congresso das polémicas alterações dos Estatutos Nacionais, as eleições de Abrantes já só ocorrerão depois dessa assembleia magna.
Quererá o PSD, os seus militantes, que o rumo dos acontecimentos venha a ser aquele que parece estar a ser pré-determinado?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Encruzilhada

Lancei aqui neste espaço, há cerca de duas semanas, um desafio ao PSD para reflectir sobre a importância das próximas eleições internas. Para não as olhar como sendo algo distante ou sem relevância. Tem muita, tem toda, para mim.
Quem leu e milita no PSD, na ocasião ficou sensibilizado.
Porém, tudo adormeceu, nada acontece.
É mau mas é verdade.
Deixai correr o marfim...

Grande Eça

Vendidos e sem dignidade

O país está cheio de gente que se vende.
Não falo de quem vende o corpo mas daqueles que vendem a alma, o que é bem pior. Quem vende o corpo, por vezes fá-lo por necessidade.
Quem vende a alma e o carácter, aliena por completo a sua dignidade.
Pessoas que trocam convenientemente, convicções por conveniências que, convenhamos, não convencem nunca mais aqueles que neles outrora acreditavam.
Portugal é um imenso bloco central de interesses, no qual muitos vivem com um 'cartão dourado', afinal mais concretamente rosa de um lado, laranja do outro.
Os profissionais do truque, da palmadinha nas costas, do sorriso fingido que esconde o prazer último pelo interesseirismo, pelo carreirismo e pelo amiguismo pululam por aí como febre num corpo engripado.
Tive, em tempos, uns amigos que compartilhavam projectos de vida em comum, com filhos da mesma idade, da mesma geração. Havia afinidade aparente de projectos de vida. Em alguns encontros políticos que promovi no partido a que pertenço estiveram presentes, dando-me apoio pessoal e força para as batalhas que decidi travar. Percebi a sua sintonia de ideal com a minha e partilhámos conversas abertas e francas, discutindo o futuro do concelho e do país, com a preocupação de quem nele quer viver e ser feliz, dando horizontes de esperança aos filhos.
Ouvi-os dizer mal, muito mal, daqueles que hoje servem e dos quais, afinal, se servem.
Tive esses amigos, é verdade.
Tive...
Mas terão sido mesmo amigos? Não, nunca, porque a amizade verdadeira não se trai. Nunca! Por nada! por ninguém! por circunstância alguma!
Não há nada pior que a traição abjecta de quem troca todas essas afinidades e vivências por uma conveniência forçada para apanhar uma melhor posição social e profissional.
Passado este período de nojo que auto-impus, posso falar do assunto sem ressaca, com grande naturalidade.
Estou mais longe do fervor que senti quando tive percepção da traficância de interesses de tais amigos e estou, tambéem, mais longe da agitação que caracterizou a minha vida nos últimos anos. Mais sereno, mais tranquilo, também mais solto e menos preso a estigmas e paradigmas. Vejo as coisas de modo mais sereno, linear, telúrico.
Durante o tempo que levei a fazer a 'cura', discuti o assunto com várias pessoas, amigos e familiares. Dizem-me que, infelizmente, é normal haver gente assim, com pouca coluna vertical, com formação aparente mas destituídas de bravura, de coragem, de força para lutar por ideais.
Não os condeno por serem assim; sinto comiseração.
Talvez o mal não esteja neles mas na sociedade em que vivemos e na qual alguns, mais fracos, não resistem às tentações e acabam cedendo a sua dignidade a mais uns trocos na algibeira.
Condeno-me a mim porque me enganei; ou porque fui, de modo altamente profissional, iludido e enganado.
Esses seres humanos não voltam a por os pés em minha casa, nem eu sinto prazer algum em ir à deles. Vemo-nos por aí e esboçamos um cumprimento formal sem voltarmos a trocar palavras sentidas.
Não me peçam para fingir. Com estes ou com quaisquer outros. Não vale a pena perdermos muito tempo com assuntos que não merecem atenção e cuidado. Só se pode dar importância ao que é, verdadeiramente, importante.
De resto, não foi a primeira vez na minha vida que me enganei acerca de pessoas que o destino fez cruzar na minha vida. Vou ficando mais treinado e aprendendo sempre.
Quando me sinto traído, corto radicalmente, 'mato' quem me trai e não volto a dispensar atenção ou confiança. Nunca mais seria capaz de compartilhar uma refeição em comum, quanto mais projectos de vida, pensamentos e afinidades.
Por mais que apareçam a justificar o injustificável, depois de 'borrada a pintura'.
Sejam felizes, não se metam comigo que eu não me meto com a vida dessas pessoas.
Pronto, mais uma questão resolvida. Por mim esqueci, é passado, já não importa.
E não é que me sinto melhor?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Freitas do Amaral, o Muçulmano

O assunto tem dado polémica. Muita. Por isso, achei que deveria também dar a minha opinião sobre o assunto.
Tenho pena de, em finais de 1985 e início de 1986, ter andado a investir o meu tempo no Movimento "P'rá Frente Portugal". Fiz campanha por Freitas do Amaral, quando concorreu a Presidente da República. Não votei nele, então. Tinha 17 anos. Na altura custou-me não poder votar; agora, sinto-me aliviado por isso.
Tenho vergonha das palavras subservientes, ajoelhadas, reveladoras de cagufa de um ataque dos árabes.
Tenho vergonha deste homem que respondeu em nome do meu país. Às vezes acontece um homem comprometer o país sem que este concorde minimamente com os disparates - e de que calibre - que ele transmitiu.
Sou ocidental, acredito no Estado de direito, na liberdade de expressão, nas virtudes do mundo ocidental. Que tem defeitos, que não é perfeito, que poderia ser melhor. Mas antes quero 'o meu mundo' do que o árabe dos estados islamitas, onde não há liberdade de expressão, onde o valor da vida humana é muito relativo, onde matar em nome de um qualquer Deus é um acto normal, tantas vezes à custa do sangue inocente de ocidentais.
As tretas de Freitas do Amaral em torno das teorias patéticas que desenvolveu no seu texto acerca da filosfia das religiões retratam a visão de um cagufa de merda. Desculpem mas é assim que vejo o mais lamentável episódio dos últimos tempos.
A solidariedade de Freitas do Amaral é mais forte do que aquela que omitiu - e deveria ter exibido - face a um país ocidental, parceiro da União Europeia.
A sua vocação para defender Maomé não o levou a condenar os ataques extremistas em nome do mundo do Islão que se seguiram num sinal (mais um!) de intolerância e de desrespeito pela liberdade de expressão dos outros movida pelos discípulos de Maomé.
Claro que respeito a religião do mundo árabe; como respeito a dos cristãos, dos hebráicos ou outra qualquer. Mas não é um cartoon, nem uma dezena, nem uma centena, que fazem diminuir a fé aos que a têm.
Por isso, a reacção de Freitas do Amaral foi uma anedota. O homem já deveria ter percebido que está sempre - inevitavelmente sempre - longe do mundo real e concreto dos portugueses.
Um dos problemas é que em alguns Estados do mundo do Islão, ao contrário do mundo ocidental, não há qualquer separação entre Estdo e Religião, ou antes, entre Política e Religião. E os árabes e os seus defensores - entre os quais Freitas do Amaral, acham que a liberdade de expressão não é tolerável quando estão em causa os símbolos religiosos de outros povos. Na prática, defendem uma liberdade de expressão condicionada, diminuída, com limites, o que é o mesmo que dizer que a expressão não será inteiramente livre ou, melhor ainda, que afinal ñão pode existir verdadeira liberdade de expressão. Esta fica consignada a ser um chavão, apenas e só isso.
A atitude de Freitas do Amaral, ao contrário de pacificadora, consensual, madura e ponderada, teve o efeito inverso de contribuir para aumentar o "choque de civilizações". Porque não é sensata e se sustenta em valores e premissas inaceitáveis.
Vejam a este propósito a opinião de Constança Cunha e Sá, no seu blog "O Espectro", no post de ontem.
Vasco Pulido Valente, na crónica do Público de hoje e igualmente publica no mesmo blog da sua companheira, diz algo que sinto ser verdadeiro: "Devemos tolerar o Islão. Isto à superfície parece óbvio. Mas pede uma pergunta: também devemos tolerar a intolerância do Islão? A "Europa" respondeu que sim, mesmo à custa de se negar a si mesma".
VPV alerta ainda para a (ir)responsabilidade do estado de situação a que chegámos e deixa um alerta: "Tentar distinguir entre a guerra política e a guerra religiosa que o Islão move ao Ocidente não passa de um sofisma. Não se pode dividir o indivisível. A jihad deriva directamente do Corão. E o terrorismo, material e psicológico, assenta numa base doutrinal sólida, que Bin Laden, por exemplo, frequentemente invoca. Que espécie de responsabilidade leva, então, o Ocidente a não "provocar" um inimigo declarado? Não se tornou ela na pior e mais perigosa irresponsabilidade?"
Sobre isto, o PS anda num desnorte. Primeiro, com as críticas de Manuel Alegre à tristeza de afirmações de Freitas do Amaral. Agora foi Vitalino Canas que, à cautela, disparou em todos os sentidos, com uma verdadeira 'pérola' política, proferida no Parlamento. Note-se: "caricaturistas irresponsáveis e fundamentalistas violentos estão bem uns para os outros". No fundo, como diz o povo, é tudo a mesma merda, são todos da tropa fandanga. Foi isto que aquele dirigente do PS quis dizer, na minha opinião. Já nem está em causa o partido; poderia ter sido de qualquer bancada. Mas este dirigente tem responsabilidades acrescidas. Deve um pedido de desculpas a todos os cartoonistas e a todos os verdadeiros amantes da liberdade de criação artística e de expressão.
É este tipo de observações que tem conduzido, também, os portugueses, na gíria, a dizerem que os políticos são todos a mesma merda. Se calhar são mesmo.
Não me vou alongar muito mais. Quase todos os blogs de referência têm estado atentos ao que se tem passado. De vários quadrantes sócio-políticos. Encontro um máximo denominador comum: a condenação das palavras do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Quem quiser aprofundar, por ver:
Não dou mais exemplos, mas centenas de outros haverá.
Já existe até um site com uma petição de apoio à Dinamarca. Ora vejam bem:
Onde é que isto vai acabar?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Post 81

Sem inspiração, deixo aqui apenas o título e meia dúzia de palavras.
Pode ser que amanhã tenha mais conteúdo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Post 80



Este é o 80º post deste blog.
Disseram-me que o meu anterior post era forte em demasia, que era muito cáustico, que era um duro golpe em algumas pessoas.
Acho que, se por um lado, devemos criticar mais as ideias do que as pessoas, neste caso, à míngua de ideias do outro lado, considero ter sido mesmo comedido e sinto ainda uma certa sensação de ter ficado muito mais por dizer; o que, na minha forma de ser, considero uma contrariedade que determinei sobre mim. Esquisito, não é?
Apetece-me mais, fazer mais, estar mais, pensar mais, dizer mais. Mas não devo. Há coisas que devem e têm de ser ditas nos locais apropriados.
Vejo muito bem o que está e o que pode vir a acontecer e se algumas vezes tenho um olho semi-cerrado é porque o fechei de propósito para não ver. Claro que me refiro à vida no meu partido, nada mais. Há muitas outras coisas onde seu um perfeito naïf, um ingénuo pouro. Que gosta da verdade e da transparência, com emoções e afectos à mistura. Que tem defeitos, por certo (e ainda bem) mas que procura melhorar e "crescer" a cada dia que passa.
Não há mal nenhum nisso. Já dizia o grande Almada Negreiros nos seus "Ensaios" que "a ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral". Dizia ainda Almada que "na ingenuidade tudo é de ordem emocional. Tudo".
Sábias palavras as deste homem que contrapõe a ingenuidade à "esperteza saloia".
Sobre a esperteza saloia, diz Almada que "a esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se permitiu servir de malícia, a qual como toda a espécie de malícia não perdoa exactamente ao próprio que a foi buscar. Em português a maílica diz-se exactamente por estas palavras: esperteza saloia".
Fiquem bem!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Reflexões sobre as eleições no PSD em Abrantes

A vida dos partidos políticos é como a vida das pessoas: feita de altos e baixos, com alegrias e tristezas, com vitórias e derrotas, onde forjamos amigos e criamos inimizades.
Os partidos são o espelho da sociedade - talvez o mais fiel.
Ao longo dos últimos 8 anos participei de modo activo na vida do partido no qual me filiei em 1986 - o PSD. Tinha então 18 anos e desde há muito que andava nas campanhas do PSD, integrado num grupo etário a que se convencionou chamar JSD e onde viria a ter cargos de alguma responsabilidade. Nessa altura eu acreditava que a JSD era apenas uma escola de virtudes, cego que estava em não querer ver que a Jota - todas as jotas - são, afinal, um meio perverso de conquista poder e de aquisição de vícios; apesar do muito e bom que também ensinam e proporcionam aos seus quadros.
Mas, dizia eu, ao longo dos últimos 8 anos fui uma das faces mais visíveis do meu partido em Abrantes. Para o bem e para o mal.
Na noite de 9 de Outubro, no rescaldo da derrota do PSD, apesar do crescimento contínuo do nosso espaço de afirmação comunitária ao longo dos mesmos 8 anos, o PS reforçou também o seu peso no concelho e, seguindo a máxima de que "a culpa não morre solteira" fui (e voltaria a ser!) solidário com o meu companheiro Armando Fernandes e pedimos, em bloco, a demissão da Comissão Política, solicitando a convocação de novas eleições.
Tenho mails (de que dei cópia à minha amiga Anabela Matias e ao próprio Armando Fernandes - retiro daqui o 'dr' que ambos são) comprovando o pedido da assembleia eleitoral ao Presidente da Mesa, Carlos Coelho.
No jantar de natal do PSD distrital, pela boca do próprio, fiquei a saber que ele não recebeu, em nenhuma das suas 4 caixas de correio, o pedido que fiz em nome da Comissão Política. Nem o 2º envio, em forward, do mesmo pedido, para as mesas 4 caixas de correio, de que dei igualmente cópia aos mesmos destinatários.
Isso agora não importa. Importa, isso sim que, passadas as eleições presidenciais, o PSD de Abrantes vai escolher os seus novos dirigentes.
E é isso que me preocupa. Não vejo candidatos à altura dos pergaminhos que o PSD tem no concelho a perfilarem-se.
Vejo, isso sim, umas - legítimas - movimentações solitárias de um grupo forjado na escola das vicissitudes da Jota, mas marcado, em largos espectros da equipa que vai sendo visível, de uma falta de formação cívica e doutrinária, com pouca consistência em termos de argumentação, destituídos de estratégia e de táctica, no fundo, quadros com pouca ou nula densidade política. Não serão todos mas tenho de admitir que alguns são isso e muito pior!
A ambição é fundamental, é importante, é decisiva e determinante - mas não pode ser a matriz de uma qualquer estratégia, inconsistente.
Se o projecto que sinto estar a germinar não for contrariado na sua intenção e lograr vencer - por falta de comparência de adversário(s) - será a esses futuros dirigentes que competirá coordenar a actividade política da oposição, dar orientações e instruções sobre temas pertinentes a suscitar em sede de Câmara Municipal e Assembleia Municipal, começar a constituir listas de candidatos nas freguesias, encontrar candidatos para as próximas eleições autárquicas, reunir recursos para montar uma campanha, participar nas actividades distritais, conceber documentos estratégicos, estudar tácticas internas e externas, ter capacidade de adaptar o partido à realidade envolvente sem lhe deformar ou matar a essência programática, escolher representantes para as eleições legislativas, formar quadros, articular-se com a comunidade, formar fóruns de discussão e grupos temáticos, etc, etc, etc.
Vejo no grupo que germina capacidade de fazer militantes à porta das escolas, embora sem os esclarecer do alcance dessa adesão.
Vejo no grupo que germina uma vontade subliminar de 'matar' o bom que tem sido construído em Abrantes pelos dirigentes e simpatizantes que têm ajudado o PSD nos últimos anos; pelo menos, a julgar pelo que já ouvi até agora.
Pressinto que não estão sós nesta odisseia; pressinto mesmo alguns apoios, provenientes de alguns sectores e de alguns anteriores dirigentes que, no passado, foram nocivos ao PSD e contribuiram para que não fôssemos poder no concelho por mais de 4 anos - não mais do que um só mandato.
É por todas estas dúvidas que, sem esperar um Salvador messiânico, ou um D. Sebastião numa qualquer manhã de nevoeiro, tenho de ponderar bem o que está em causa, tenho de me interrogar, de reflectir, de tirar conclusões sobre o que está e o que pode vir a acontecer em Abrantes se o PSD seguir o rumo que, à partida, parece traçado.
A vitória desse grupo seria, para mim, o vingar de uma forma de ser e estar na política e na vida contra a qual tenho feito o grande combate da minha participação cívica.
Espero - e desejo - que ainda possa haver tempo de evitar o que pode vir a acontecer.
Ninguém possui verdades absolutas. Ninguém pode adivinhar o futuro. Mas não me parece, por aquilo que sei, por aquilo que conheceço, por aquilo que já vi, que o PSD possa sair enriquecido, reforçado; logo, o concelho nada ganhará com essa escolha.
É a minha opinião, expressa no meu espaço de reflexão. Posso estar errado, admito; contudo, acho difícil enganar-me neste caso particular.
Conheço bem - muito bem - o PSD de Abrantes e acho que posso avaliar com algum rigor quem poderá ser mais útil ao PSD e ao concelho.
O futuro poderá desmentir-me. É uma hipótese, porém, pouco plausível.
Fica aqui o registo, a reflexão e a mensagem.
Espero que, a cerca de 1 mês das eleições, ainda vamos a tempo de evitar uma desgraça.

A teoria do 11


O meu amigo 'ACB' enviou-me uma intrigante e misteriosa teoria sobre o nº11, sobretudo após o 11 de Setembro.
Não deixa de ser curioso observá-la.

  • New York City tem 11 letras.
  • Afeganistão tem 11 letras.
  • "The Pentagon" tem 11 letras.
  • George W. Bush tem 11 letras.
  • Nova Iorque é o estado Nº 11 dos EUA.
  • O primeiro dos voos que embateu contra as Torres Gémeas era o Nº 11.
  • O voo Nº 11 levava a bordo 92 passageiros; a soma dos seus algarismos dá:9+2 = 11
  • O outro voo que bateu contra as Torres, levava 65 passageiros; a soma dos seus algarismos dá: 6+5 = 11.
  • A tragédia teve lugar a 11 de Setembro, ou seja, 11 do 9; a soma dos seus algarismos dá: 1+1+9 = 11.
  • As vítimas totais que faleceram nos aviões eram 254: 2+5+4 =11.
  • O dia 11 de Setembro, é o dia número 254 do ano: 2+5+4 = 11.
  • A partir do 11 de Setembro sobram 111 dias até ao fim de um ano.
  • Nostradamus (11 letras) profetiza a destruição de Nova Iorque na Centúria número 11 dos seus versos... (dúvido muito, quando ele escreveu nem sequer a América tinha sido achada)

Mas o mais chocante de tudo é que, se pensarmos nas Torres Gémeas, damo-nos conta que tinham a forma de um gigantesco número 11. E, como se não bastasse, o atentado de Madrid aconteceu no dia 11.03.2004. Somando estes algarismos dá: 1+1+0+3+2+0+0+4 = 11.

O atentado de Madrid aconteceu 911 dias depois do de New York. Somando os seus algarismos dá: 9+1+1 = 11.

Enfim, é giro e é sempre interessante haver quem se dê ao trabalho de andar a 'forçar' coincidências. Talvez sim, talves não.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

São Miguel do Rio Torto e outras reflexões

Os afazeres não me têm permitido escrever aqui com regularidade.
O trabalho não o tem permitido. E fora dele tenho andado às voltas com a proposta de metodologia de investigação para a dissertação do meu curso de mestrado.
A esta hora e já cansado das pesquisas on-line e de um final de tarde na Biblioteca do Politécnico de Tomar e uma noite digitando as teclas do meu computador, resolvi encher-me de coragem e, antes de ir para o "sono dos justos", aqui colocar um post.
Os poucos leitores que tenho merecem-me esse respeito.
Vamos lá então...
Na passada segunda-feira, a Câmara Municipal de Abrantes aprovou o lançamento de concurso para vários arruamentos em São Miguel do Rio Torto. Nada de mais, é justo e merecido. Só é pena que, enquanto a Junta de Freguesia foi liderada pelo PSD, cujo presidente era o meu amigo Matos Gomes, Nelson de Carvalho tivesse adiado todas as decisões de investimento naquela freguesia, incluindo ao nível dos arruamentos.
Chegou mesmo ao ponto de Matos Gomes "boicotar" alcatrão onde ele menos fazia falta, invocando que noutros pontos da freguesia e da sede de freguesia, esse mesmo alcatrão fazia mais falta.
Pois é, na presente empreitada, a vontade do Matos Gomes vai ser satisfeita...
...já sem o Matos Gomes.
É esta a forma de actuar do PS em Abrantes: às freguesias onde não venceram dão pão e água, quando dão.
Quando as vencem, é uma fartura, dando claramente a entender aos eleitores de que o melhor é mesmo o partido único, ou seja, que todas as freguesias devem ser da cor política da Câmara, senão não apanham nem uma migalhitas.
Pobre vergonha, pobres de espírito, os que o praticam e os que se deixam enganar por tamanha trafulhice política.
Fiquei ainda a saber que a torneira de água, que vem do Vale das Donas, de que o público geralmente se abastecia, junto ao cemitério de São Miguel do Rio Torto, foi returada por "instruções superiores".
Por outras palavras, gastem água da rede pública, bebam água da rede pública (eu não bebo, eu não confio na sua qualidade, por mais que me digam que é boa!!!!), paguem mais tarifas de saneamento e de resíduos sólidos (proporcionais à conta da água) mas não ousem beber daquela água.
Até quando este povo de brandos costumes vai deixar que lhes retirem direitos adquiridos, de várias gerações?
Direitos adquiridos e usufruidos desde muito antes dos "imigrantes" que governam o concelho cá teremn chegado.
Eles chegam mas o povo parte: ou morre ou emigra.
No ano de 2005 morreram mais de 500 pessoas no concelho de Abrantes; nasceram cerca de 300. O saldo é negativo, uma vez mais, em valores superiores a 200 pessoas por ano. Só no balanço entre vivos e mortos. Falta juntar os que vão à procura de trabalho ou de estudar e não regressam mais, o que é sempre superior àqueles que nos procuram para aqui trabalhar ou estudar e aqui acabam por ficar.
Duvidam?
Comparem o número de eleitores deste concelho, desde o tempo em que o Sr. Nelson de Carvalho começou a governar o concelho.
Em 8 anos e 2 meses, entre Dezembro de 1997 (data da sua primeira reeleição) e Janeiro de 2006 (data da histórica ascenção de Cavaco Silva à Chefia de Estado - dá-me gozo escrever isto!), o concelho de Abrantes perdeu 3.976 eleitores.
Querem que seja mais preciso? De 41.271 nos cadernos eleitorais em 1997 para 37.295 agora, no dia 22 de Janeiro que passou.
Uma terra boa para viver, trabalhar e investir?
Antes fosse!...
Este é o estado de coisas que interessa ao senhor Nélson e aos seus camaradas do PS de Abrantes. Ao contrário de Santarém, que viu o seu tecido social ser renovado, por força de ser já uma cidade-dormitório de Lisboa (para lá de ter a sua vida própria), ou de Entroncamento, que se viu irrigada de sangue novo e pensamentos arejados, em Abrantes reina a decrepitude social, ou seja, não há muita gente nova a pensar diferente, a ousar desafiar o status quo. Em conclusão, os tradicionais eleitores não mudam o sentido da sua posição habitual de modo muito significativo, seja pela idade (burro velho não aprende línguas...) seja pelo peso inerente ao voto tradicional, que não ideológico (muito menos lógico).
Como somos cada vez menos e cada vez caras mais conhecidas (quem nos dera que houvesse um movimento migratório significativo), não podemos esperar grandes novidades uns dos outros.
Esta terra, assim como vai andando, não terá um futuro promissor. Oxalá eu me engane.
Mas já repararam que em 1983 nevou a sério e agora, desde que o senhor Nélson nos governa, nem a isso temos direito?
Com esta terra, habituada a ser mal-tratada e mal-amada, já nem a neve quer nada.
Até quando? Até quando? Até quando?