segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2008

Quando eu era mais novo e até há cerca de uns 10 anos atrás - talvez um pouco mais - fazia desejos para o ano novo que ia entrar. Escrevia-os e passava o ano com eles no bolso. Formulava votos e pedia a uma entidade divina que eles se concretizassem.
Aos poucos fui deixando esse ritual e perdendo as superstições e hoje formulo mentalmente alguns desejos básicos: ter saúde para mim e para os que me são mais chegados, ter paz e harmonia familiar, ter estabilidade profissional e tranquilidade financeira, na medida do possível para ir pagando as minhas contas e não viver em clima turbulento. São básicos estes desejos? São, mas não devemos olhar para eles de forma arbitrária. Estão dispostos por prioridades e devem corresponder ao que cada português médio, com a mesma visão da vida e do mundo que eu tenho, deseja para si e para a sua família.
É claro que estes desejos se desmaterializam em imensos outros, deles derivados.
Gostaria que os meus filhos fossem sempre saudáveis, bonitos e inteligentes.
Gostaria que os meus amigos vissem concretizados como seus desejos os que formularam e os que desejo para mim.
Gostaria que o meu partido tivese mais força e credibilidade para se afirmar mais local, distrital e nacionalmente.
Gostaria de ser aumentado e ter melhores condições de reconhecimento profissional, e que a empresa onde trabalho solidifique e ganhe forças para 2008 e anos seguintes se afirmar como uma boa empresa, com futuro, liderante.
Gostaria que não houvesse mendicidade e pobreza.
Gostaria que a droga fosse erradicada do planeta (um desejo infantil muito naïf).
Gostaria que houvesse policiamento das ruas e sensação de segurança na minha cidade e no meu concelho, de dia e de noite.
Gostaria que houvesse mais criação de empresas e riqueza no meu concelho, de modo a que, egoisticamente, eu possa sonhar que os meus filhos não terão de 'emigrar' um dia, para estudarem e trabalharem, no fundo, para serem felizes onde o destino o venha a permitir.
Gostaria que a minha cidade e concelho conhecessem um verdadeiro surto de desenvolvimento sustentado, de modo sólido e estruturado e não esta espuma dos dias onde se gasta dinheiro público mas não surgem forças internas e externas que nos façam dar o salto competitivo de que necessitamos para fugirmos à inevitabilidade de virmos a ser mais um concelho a definhar no futuro.
Gostaria que houvesse mais densidade cultural, mais dinamismo social, mais vigor da sociedade para nos podermos afirmar colectivamente como uma comunidade com futuro.
Gostaria que houvesse mais oferta em cuidados de saúde para que não haja portugueses em lista de espera, sem um médico de família.
Gostaria que houvesse capacidade para o governo decidir depressa a construção do novo aeroporto, por mim em Alcochete, numa estrutura grande, competitiva, de futuro, preparada para os grandes voos intercontinentais e as grandes rotas comerciais de passageiros, antes que Espanha o faça antes de nós, enquanto andamos entretidos em discussões mesquinhas.
Gostaria que a causa ambiental fosse assumida mundialmente como prioridade nº2, logo a seguir à da erradição da pobreza.
Gostaria que a liberdade fosse um valor universal, verdadeiramente inalienável e respeitadem todo o universo.
Gostaria que não houvesse fanatismos, extremismos, terrorismo e comportamentos como a pedofilia.
Gostaria que descobrissem a cura para todos os tipos de cancro, bem como a SIDA e que descobrissem um método eficaz e indolor para que todos pudéssemos morrer sem sofrer.
Gostaria que os automóveis deixassem de andar movidos a petróleo e passassem a usar hidrogéneo ou qualquer outro produto 'limpo' e sei que isso já é possível e só não sucede porque há muitas economias que desejam manter o uso do petróleo porque são ricas no 'ouro negro' e sem ele as suas economias - e mesmo a economia mundial - sofreriam convulsões e ajustamentos estruturais cuja dimensão e natureza ainda ninguém tentou objectivar.
Gostaria que o Benfica ganhasse o campeonato, Portugal o Europeu, que houvesse um piloto de Fórmula 1 português no topo do pelotão, que o Carlos Sousa ganhasse o Dakar, que a Vanessa Fernandes continuasse a melhor na sua modalidade, que o Ronaldo fosse o melhor do mundo e tantos outros Ronaldos, no desporto, na ciência, na gestão, na matemática, na informática, portugueses, continuassem na senda dos seus êxitos profissionais e pessoais e, desse modo, a encher-me de orgulho por ser português e a sentir arrepios quando oiço o hino nacional tocar no estrangeiro e a bandeira nacional a subir ao mastro.
Gostaria de tantas coisas mais, umas mais vastas e gerais, outras mais pequenas, mundanas no 'meu mundo', que só a mim dizem respeito, bem como à minha família.
Por exemplo, gostaria de poder começar a ter dinheiro para poder pensar em construir o meu refúgio no Codes, um pequeno espaço para estar e permanecer mais tempo naquele retiro idílico onde retempero forças e me sinto perto das origens, onde me conheço melhor e contemplo a natureza quase virgem, embora tenha ainda fresca na memória a lembraça da 'língua vermelha que varre tudo', tal como o senhor António me ensinou a chamar ao fogo. Mas sinto ali os 4 elementos (terra, ar, água e fogo), num reencontro que vai além do físico e se materializa num espaço de reflexão espiritual, de reencontro com o mundo e comigo e muito gostaria de poder começar, tão cedo quanto possível, a erguer as paredes de um futuro espaço que permita permanências mais duradouras na minha 'Quinta da Ponte Velha'. Gosto de imaginar os cheiros, sons e cores da terra que me pertence e isso dá-me imenso prazer, mesmo que me canse quando lá ando a trabalhar. É um cansaço diferente, agradável, prazenteiro até.
Gostaria também de poder continuar a viajar, com a minha família, a conhecer mundo, outras culturas, outros lugares, outros costumes, outros povos, enriquecendo a minha visão sobre a humanidade, as suas virtudes e os seus defeitos.
Muitos destes desejos serão realizados, outros ficarão por realizar, outros serão parcialmente conseguidos. Muitos vão para além de 2008, muito para além disso.
Sei que assim será e já tenho a serenidade suficiente para saber, também, que não consigo mudar o mundo - e mesmo que o conseguisse, teria sempre mais piada fazê-lo conjuntamente com outras pessoas.
Mas, nem assim, nem sabendo que muitos dos meus desejos possam ser até mesmo infantis, deixo de sonhar e de os sentir. Pode ser que...
Até lá, feliz 2008.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Agrupamento de Centros de Saúde

Desde que se iniciou o trabalho deste Govermo que os cuidados de saúde primários têm estado em cuidados intensivos.
Criou-se uma comissão, surgiram as USF (foi hoje aberta a 100ª), começou a desenhar-se o modelo de gestão das unidades que não evoluíssem para este formato.
Foi por este motivo - e porque se esgotou o período de 3 anos para o qual fui nomeado - que tive de sair da gestão dos Centros de Saúde de Abrantes, Constância, Mação e Sardoal. Revogaram o Decreto-Lei nº60/2003, de 1 de Abril e repristinaram o Decreto-Lei nº157/99, através do Decreto-Lei nº88/2005. Contudo, este diploma era claro: "O pessoal dirigente que, à data da entrada em vigor deste diploma, exerce funções ao abrigo do Decreto-Lei n.o 60/2003, de 1 de Abril, mantém, durante o período das actuais comissões de serviço, todas as condições de exercício profissional e regalias remuneratórias que lhe foram por aquele concedidas". Por outras palavras, até 31.03.2007 (data do termo do prazo de 3 anos) mantive-me em funções.
Poderia ter continuado? Talvez. Mas poderia suceder que um dia uma qualquer inspecção viesse a detectar que eu estaria em funções sem quadro legal para o frazer e obrigar-me a devolver todas as quantias 'indevidamente' recebidas.
Não me arrependo de ter saído, até porque encontrei uma boa solução profissional.
Agora, neste final de ano, parece finalmente haver alguma luz sobre o futuro dos Centros de Saúde - vão agrupar-se as unidades que não derivaram para USF. Isto já estava previsto no site da Unidade de Missão para os Cuidados de Saúde Primários:
"A reconfiguração dos centros de saúde obedece a um duplo movimento: (1) constituição de pequenas equipas em unidades de saúde autónomas prestadoras de cuidados de saúde à população e, (2) agregação de recursos e estruturas de gestão.
Os ACS serão unidades de gestão, compostas por um ou mais centros de saúde, integradas na ARS, I.P. ou em Unidade Local de Saúde, E.P.E., responsáveis pela organização e integração dos vários níveis de prestação de CSP, bem como de coordenação e ligação aos diversos parceiros comunitários.
A criação da equipa de gestão para o agrupamento de centros de saúde assenta em cinco objectivos que definem o seu âmbito:
- Adequar e optimizar os recursos existentes ao nível dos CS introduzindo ferramentas de planeamento e monitorização que permitiram melhorar a qualidade do serviço, reduzir os custos, racionalizar recursos e diminuir a burocracia;
- Introduzir a diferenciação técnica e a governação clínica;
- Coordenar a actuação das várias unidades funcionais sem prejuízo do grau de autonomia técnica e assistencial que se pretende que estas venham a ter;
- Introduzir a contratualização interna com as diversas unidades funcionais;
- Promover a identificação de necessidades em saúde das comunidades que servem e apresentar propostas de afectação de recursos, visando ganhos de saúde para a comunidade".
Com isto morrem também as Sub-Regiões de Saúde, dentro de 3 dias.
Ao que parece alguns coordenadores, directores de departamento e mesmo chefes de divisão deverão transitar para os agrupamentos de centros de saúde. A ver vamos...
Pelo distrito de Santarém iremos ter 4 ACS, todos dentro das regras: entre 50 mil e 200 mil utentes em cada ACS.
Abrantes fica agrupada com Sardoal, Constância, Tomar e Ferreira do Zêzere, com uma população-alvo superior a 100 mil utentes e com sede em Constância. Isso já é do do conhecimento público. É até possível que, a esta hora, já exista director (as nomeações eram para ter acontecido entre ontem e hoje, segundo corria nos 'mentideros').
E como funcionam os ACS?
De acordo com o documento "PROPOSTA PARA A RECONFIGURAÇÃO DOS CENTROS DE SAÚDE", apresentado em 5 de Junho de 2007, "O ACS tem como órgãos um Director Executivo, um Conselho Clínico e um Conselho da Comunidade e compreende uma rede de unidades funcionais de prestação de cuidados de saúde.
Estas unidades funcionais são as seguintes: Unidade de Saúde Familiar (USF), Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC), Unidade de Saúde Pública (USP) e Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP).
Cada unidade funcional assenta numa equipa multiprofissional, com autonomia técnica e funcional, e actua em intercooperação com as demais unidades funcionais do centro de saúde e do ACS sendo dirigida por um coordenador.
Em cada centro de saúde integrante do ACS funciona, pelo menos, uma USF ou UCSP e uma UCC ou serviços desta.
Cada ACS terá somente uma USP e uma URAP".



Para terminar, quem deve dirigir um ACS?
"DIRECTOR EXECUTIVO - É designado por deliberação fundamentada do conselho directivo da ARS, I.P.
Pode designar, em cada centro de saúde, um coordenador de unidade funcional como seu representante, primordialmente para contactos com a comunidade.
CRITÉRIOS DE DESIGNAÇÃO
• Formação em gestão, preferencialmente na área da saúde;
• Experiência em funções de gestão de equipas de CSP;
• Experiência em funções de planeamento e organização de CSP;
• Experiência em negociação, contratualização e avaliação em saúde".
Aguardemos para ver. Não é que me toque mas continuo atento a uma casa onde já estive e desejo o melhor para todos e, acima de tudo, para os utentes.
Feliz 2008.

Mais uma...

O nosso Primeiro-Ministro continua a ser surpreendente. Consegue dar o dito por não dito e, mesmo assim, continuar com boa cotação nas sondagens e barómetros.
Em cima do fim de ano, vem confirmar, através de um seu serviçal bem cotado (secretário de Estado!) que as SCUT podem avançar em 2008. Se for um teste, como o dos sacos de plástico para serem taxados a0,05 €/unidade, poderia estar mais descansado. Mas não me parece desta vez. Ele deve estar mesmo determinado na sua tentativa de obter novas receitas, já que não consegue fazer diminuir a despesa primária do Estado. Vai daí, penaliza mais os portugueses, nem que tenha de contrariar a sua palavra.
Já se tinha previsto que esta medida até poderia ter avançado em 2007. Sobre isso aqui escrevi. Agora parece que transita para o ano que vem.
Afinal de contas, já não é a primeira vez. Acredito que uma prostituts tenha pudor em vender o seu corpo pela primeira vez e que sinta ainda algum peso na consciências nas primeiras vezes seguintes mas, depois, vai-se habituando e já nem liga, porque a necessidade e o hábito de o fazer conduzem à habituação e deixa-se de estranhar... até que se entranha.
A julgar pelo SOL de hoje (on line), assim poderá ser, com o devido paralelismo, com o nosso PM. Depois de tanto mentir, omitir e fazer o contrário do que disse, já nem estranha. Está-lhe mesmo entranhado!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Natal, sempre o natal

Já disse mais de uma vez que não sou grande fã do Natal.
É uma época demasiado marcante e em que tudo parece artificial.
Por vezes o Natal está também associado a grandes perdas. Conheço várias famílias que perderam parte da família na época natalícia. Essas famílias jamais voltarão a viver natais de grandes alegrias. Ainda ontem um bombeiro de Abrantes perdeu a vida num acidente macabro.
Nesta época devemos andar com mais cuidado. Todo o cuidado é pouco. Eu, por exemplo, na noite de Sábado para Domingo, na Rua Defensores de Chaves, em Abrantes, aquela que vai da Rotunda do 53 para os Bombeiros fui surpreendido por uma coluna de ferro armado disposta transversalmente à faixa de rodagem. Eram cerca de 3 da manhã e eu vinha do jantar de natal da empresa onde trabalho para casa. Quando me apercebi era tarde para evitar bater. E bati, partindo o pára-choques do carro de serviço. O ferro ficou amassado e o carro bem pior.

Fiquei na dúvida se seria simples estupidez de uns miúdos parvos a quem os pais não educaram bem e que numa atitude incompreensível resolveram prejudicar terceiros ou se foi tentativa de assalto. À cautela não parei depois do embate. Olhei pelo retrovisor e segui marcha até casa.

Abrantes está a ficar uma cidade perigosa, cheia de marginais em potência e o policiamento nocturno é um imenso vazio. De vez em quando lá vêm à caça à multa, nas paragens de controlo do álcool, mas rondas de rotina e policionamento nas ruas é algo de muito, muito raro.
Enfim, no dia seguinte lá fui apresentar queixa na polícia, contra terceiros desconhecidos e pedindo a identificação do dono de uma obra que ali decorre e do empreiteiro que tem o estaleiro a céu aberto, sem vedação, com colunas de ferro armado sujeitas a serem mexidas por quem tiver o espírito e a mente mais virados para a asneira.
Na PSP, apesar de o interlocutor ter sido muito simpático e inexcedível no atendimento, disseram-me que ao Domingo não podiam mandar ninguém fazer o levantamento da situação relatada mas que, logo que possível, o fariam. À cautela fiz levantamente fotográfico e na 3ª feira perguntei na reunião de Câmara se a obra tinha sido licenciada e se cumpria com as regras de segurança no trabalho, nomeadamente em matéria de estaleiro.
Como está bom de ver, alguém levará com um pedido de indemnização civil pelos danos provocados.
Isto serve para dizer que já nem no Natal o espírito das pessoas se deixa envolver pela bondade, pela tolerância. Há uns parvos, uns infelizes, uns tristes e mal-amados que gostam de praticar o mal pelo simples prazer de o praticarem.
Há poucas prisões em Portugal e a justiça é lenta e branda, digo eu.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Texto aprovado na CMA sobre a Barragem

Foi este o texto, sobre o qual ainda aqui farei alguns comentários em momento posterior. Nesse texto farei uma reflexão sobre esta tomada de posição e sobre a evolução do posicionamento dos partidos com significativa expressão eleitoral (o que pressupõe que de alguns não falarei).
*****
Considerando que:
- O Governo, através dos Ministros do Ambiente e da Economia, no passado dia 7 de Dezembro, apresentou a intenção de avançar para a fase seguinte do Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico, onde se integra a barragem até agora designada por Barragem de Almourol;
- O Rossio ao Sul do Tejo se situa, na quase totalidade, entre as cotas 30 e 33;
- O sistema de saneamento do Rossio trabalha todo a cota inferior à 31;
- A cota 31 terá impactes na zona baixa de Rio de Moinhos e no sistema de saneamento, não só directamente mas através do vale da Ribeira de Rio de Moinhos;
- Os elevados investimentos no âmbito do programa Aquapolis e as expectativas de desenvolvimento económico, turístico e urbanístico associado, quer na margem Norte quer na margem Sul;
- Os impactes desta barragem (nos parâmetros definidos na intenção apresentada, ou seja, cota 31 e construída a montante de Constância) se verificarão quase exclusivamente no concelho de Abrantes, a saber:
· Ocupação de mais de 1000 ha de áreas de terrenos agrícolas altamente produtivos – terrenos de aluvião, no Tramagal, Rio de Moinhos, Rossio e Alferrarede;
· Inundação de áreas urbanas – Rio de Moinhos, Rossio ao Sul do Tejo e Barreiras do Tejo, com eventual maior vulnerabilidade face às variações de caudal do rio;
· Infra-estruturas de acessibilidade que ficarão submersas, particularmente EN3 em Rio de Moinhos e EN 118 no Rossio e S. Miguel do Rio Torto;
· Infra-estruturas de saneamento e abastecimento de água em Rio de Moinhos e Cidade de Abrantes (encosta Sul), mas particularmente o Rossio onde o sistema de saneamento e abastecimento de água trabalha a cotas inferiores à 31;
· Infra-estruturas e equipamentos turísticos e de lazer construídos no âmbito do Aquapolis, projecto integrado de qualificação urbana, de promoção de actividades económicas, nomeadamente turismo e lazer (restauração e bebidas, desportos náuticos, desportos de areia e outras actividades de praia…), financiado no âmbito de uma AIBT – Acção Integrada de Base Territorial - (VALTEJO) integrado no PORLVT do QCA III, funcionando como alavanca do desenvolvimento económico da cidade e da região, bem como da qualidade de vida das populações;
· Considerando ainda que um empreendimento destes, pelos impactes em equipamentos públicos, municipais e de privadas, carece de análise, concertação e acompanhamento por parte da Câmara Municipal de Abrantes;
A Câmara Municipal de Abrantes delibera:
1. Assumir uma posição negativa relativamente à construção da Barragem, nos moldes anunciados.
2. Admitir a possibilidade de rever o sentido desta deliberação na condição de se verificarem os seguintes pressupostos:
a. O Governo apresentar soluções de qualidade que garantam a segurança e qualidade de vida das populações afectadas, particularmente Rio de Moinhos, Rossio ao Sul do Tejo e Barreiras do Tejo;
b. O Governo dê garantias de criar alternativas às acessibilidades afectadas, nomeadamente com a construção de variantes à EN118 no vale do Rio Torto e saída do Rossio para o Pego (incluindo passagem de nível), assim como a EN3 em Rio de Moinhos; esta solução deverá contemplar a resolução definitiva do problema das cheias em Rio de Moinhos (cota 32,5);
c. O Governo, e no mesmo sentido de garantir que as acessibilidades regionais não são afectadas, assuma como máxima prioridade a construção do IC9 (Abrantes – Ponte de Sôr), com a nova travessia do Tejo (com início da obra em 2010, conforme tem sido admitido pela Administração da EP) e sua ligação à variante à EN 118 (que deverá ser construída até 2013, no âmbito do presente QREN);
d. O projecto da Barragem contemple um PEI (Programa Especial de Investimento), a concluir antes da entrada em funcionamento da barragem, que salvaguarde os objectivos do Aquapolis nas suas diversas vertentes: actividades náuticas, equipamentos de restauração, bebidas, turismo e lazer, bem como garantir idênticas condições de fruição da zona ribeira com passeios marginais, zona de praia, parque e estacionamentos…, assumindo a reconstrução das margens, equipamentos e espaços executados no âmbito do programa Aquapolis, por forma a não comprometer a qualificação urbana, a relação com o rio e a prática das actividades que, actualmente, o rio permite; este PEI deverá prever um novo programa Aquapolis (Aquapolis II) a aprovar pela Câmara Municipal;
e. Que sejam dadas garantias, pelo Governo, de reformulação do sistema de saneamento do Rossio, Rio de Moinhos e Barreiras do Tejo, incluindo estações elevatórias e ETAR, de forma a garantir o normal funcionamento desses sistemas;
f. O projecto da barragem incluir uma escada passa peixes que garanta a normal passagem de peixes e outros animais aquáticos;
g. A Câmara de Abrantes poder acompanhar o desenvolvimento e execução do projecto da nova barragem;
h. Se a barragem ficar a montante de Constância, seja alterada a designação da barragem e albufeira, respectivamente, para Barragem de Abrantes/Constância e Albufeira de Abrantes/Constância, considerando que deixa de fazer sentido a referência a Almourol, sendo que a quase totalidade dos impactes e da área da albufeira será no concelho de Abrantes;
i. Seja ainda ponderada a possibilidade de eclusas que a garantam futura navegabilidade do Tejo de Abrantes a Lisboa.
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Paços do Concelho, 10 Dezembro 2007
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O Presidente da Câmara Municipal
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Nelson Augusto Marques de Carvalho

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Declaração de voto sobre a futura Barragem

Os eleitos pelo PSD nesta câmara municipal abstêm-se de votar a presente proposta porque consideram que não existem ainda todos os elementos necessários e suficientes para se compreender, com rigor e exactidão, a extensão e os impactos da eventual construção da Barragem, ao nível sócio-económico e no contexto da coesão social e territorial do concelho.
Em face das muitas dúvidas existentes - mais dúvidas do que certezas -, que conduzem a uma posição de forte reserva sobre a viabilidade da construção da barragem, consideram que é, ainda assim, prudente ouvir as populações e encomendar a realização de um estudo técnico, com forte pendor na área sócio-económica, juntando especialistas de vários quadrantes profissionais, de modo a efectuar um estudo prospectivo sobre as consequências previsíveis da construção da barragem, com quantificação desses efeitos.
Mais, consideram que estão em causa milhares de hectares em terrenos agrícolas muito férteis, infraestruturas nacionais e municipais, interesses privados e unidades produtivas instaladas que deverão ser sopesadas nesse estudo, sendo, nesta altura, muito duvidoso que aparente existir vantagem alguma na construção da barragem que supere as desvantagens já encontradas. Também por isso se considera necessário ler o futuro documento da avaliação de impacto ambiental, confrontado com o resultado do estudo feito pela referida comissão técnica (ou grupo técnico de análise) contratado pelo Município de Abrantes.
Por tudo isto, numa posição de prudência e por necessidade de aprofundamento dos dados sobre o impacto desta infraestrutura, os eleitos pelo PSD na CMA optam por não tomar uma posição definitiva e fechada, nesta fase de desenvolvimento.
(NOTA: FALTA AQUI O DOCUMENTO EM VOTAÇÃO, CUJO CONTEÚDO SOLICITEI E AINDA NÃO RECEBI. LOGO QUE O TENHA, AQUI O DEIXAREI).

Reflexões sobre o natal - pouco reflectidas, confesso!

Desde sempre o Natal era vivido em casa dos meus pais com algum simbolismo. Família reunida, a magia das prendas, os primeiros anos acreditando que era o Pai Natal quem trazia as prendas, a alegria do encontro, dos brinquedos, a menor simpatia quando a prenda eram roupas, coisas que em criança nos custa acreditar.
E, claro, sempre houve aquele familiar que NUNCA teve gosto para acertar com a prenda certa, ano após ano, até que nos habituamos a receber o presente, abrir e dizer que é giro, mesmo que não seja, apenas por simpatia e desejo de não ser desagradável.
Curiosamente, fui desgostando do Natal. É uma época que não me mobiliza, não mexe mais com os meus sentimentos. Gosto de estar em família, gosto que os meus filhos fiquem felizes com o Natal, admiro-me como a minha filha, com 7 anos, ainda acredita no Pai Natal, se bem que já começa a manifestar dúvidas e este seja, por certo, o último Natal vivido com essa magia.
No ano passado, a minha família fez uma experiência. Como já somos muitos, a consoada dá muito trabalho e havia pais e tidos de cunhados, sogra, tio e avó de primo e, desse modo, fomos entre 20 e 30 à mesa, resolvemos fazer a experiência de passar a noite de Natal num hotel, em Lisboa.
Foi óptimo. Uma boa ceia, boa companhia, muitas crianças juntas, uma vista esplêndida sobre a cidade e – a parte mais agradável – não foi preciso colocar mesa e retirar pratos, copos e talheres, trazer os doces e mais as loiças e talheres e novos copos, aspirar o chão da casa, ligar máquinas de loiça, ligar aparelhos de climatização, entre outras coisas indispensáveis a estas festividades.
Se a noite de Natal foi num hotel, com um lado da família, o almoço do dia 25 foi numa unidade hoteleira, onde vamos desde há uns anos, com o outro lado da família.
Este ano vamos repetir a dose: noite de Natal no mesmo hotel, almoço de 25 num restaurante.
Sinal dos tempos ou apenas comodismo? Seja o que for, já que o Natal tem vindo a perder algum do seu encanto e da sua magia, sendo hoje mais um motivo para a reunião familiar e para que as crianças se sintam bem e felizes.
Por mim até poderia ser noutro dia qualquer, já que a componente religiosa do Natal, a evocação do nascimento de Jesus Cristo, a adoração dos Reis Magos, a lenda da Estrela de David, o mistério da vida e todas as componentes religiosas desta época especial deixaram, há muito, de fazer parte dos meus hábitos natalícios.
O Natal é já só um motivo de juntar a família e ser mais solidário e mais tolerante.
Para alguns é um momento de consumo desenfreado, de esbanjamento de dinheiro em prendas – umas necessárias, outras fúteis – que tantas vezes ajudam a preencher o vazio da vida de algumas pessoas mas que ate são contrárias ao espírito do Natal, do despojamento, do nascimento numa gruta sem conforto, numa manjedoura coberta com palhas e rodeado da família mais chegada e dos seus animais.
Ainda assim, espero que todos os que conheço passem uma boa época natalícia e que sejam felizes, com conforto, comida, carinho e companhia, para passarem mais um Natal bem passado e começarem, desde já, a preparar o ano de 2008 com força, confiança e determinação.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

É bom saber que sou lido



Quase posso adivinhar quem foram alguns dos visitantes da manhã de hoje a este blog.
Assembleia da República, Instituto Superior Técnico, Refer, Estradas de Portugal...

Declaração de voto sobre a criação do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes

Na passada 3ª feira foi à reunião semanal de câmara a proposta para a criação do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes, através da requalificação do Convento de S. Domingos.
Apesar de o assunto estar mais do que divulgado, foi finalmente presente a sessão ordinária do executivo municipal.
Para que se dissipem eventuais dúvidas, aqui fica a delcaração de voto que eu e o José Moreno apresentámos:
A criação de um museu, enquanto equipamento estruturante, é uma ideia que apoiamos.
De resto, no nosso programa de candidatura constava um ambicioso conjunto de propostas no domínio cultural.
Desejamos que este museu possa vir a ser um espaço que contribua para que todos possam usufruir da cultura na nossa terra. “Queremos uma política cultural para todos, inclusiva e promotora de desenvolvimento pessoal e comunitário, geradora de progresso e desenvolvimento”, era uma das enunciações que fazíamos no nosso programa de candidatura. Sempre defendemos que, ao intervir culturalmente, “pretendemos contrariar a tendência para a desertificação do concelho, estancar a hemorragia humana que faz sair os jovens em direcção ao litoral, empurrados pela ânsia de encontrarem emprego ajustado aos seus desejos, conhecimentos e vontades”.
*
Contudo, a proposta que nos é apresentada não surge na sequência de um plano estratégico para o desenvolvimento cultural do concelho de Abrantes. Facto que consideramos lamentável, porque indicia que esta oportunidade foi repentista, ao género do aproveitar uma oportunidade espontânea surgida.
Ao contrário desta visão de impulso, sempre defendemos a importância de “concebermos um plano estratégico no âmbito da cultura capaz de influir positivamente no desenvolvimento económico do concelho, de todo o concelho sublinhe-se, debaixo de todos os matizes e referências, dos quais se enumeram os pontos seguintes:
· Contribuir para a atracção de investimentos e criação de emprego;
· Captar públicos de todos os géneros, em todo o tempo, a todo o tempo;
· Fixar populações e incentivar a indústria do ócio;
· Inventariar, investigar, estudar e defender o património nas suas diversas vertentes;
· Dar ênfase à Convenção Europeia das Paisagens;
· Proceder-se à actualização da classificação de monumentos com interesse municipal, alargando-a a outras tipologias de monumentos, incluindo os naturais e, porque correm sérios riscos de desaparecer, os imateriais;
· Fomentar a aculturação, a formação do gosto, a criação artística e o apreço pelos criadores;
· Dar à Escola a possibilidade de tomar contacto real e continuado com criadores e as suas obras;
· Colocar ao alcance de toda a população equipamentos e estruturas de modo todos terem acesso a uma melhor qualidade de vida”.
*
Como alguns se recordarão, entre as propostas para o desenvolvimento cultural que efectuámos em 2005, na área da museologia figuravam as seguintes, entre outras:
· Criação do Museu de Arqueologia Industrial com um núcleo em Tramagal;
· Centro de Interpretação de História da Indústria de Fundição, adstrito ao Museu;
· Museu ao Ar Livre, na zona da antiga UFA;
· Centro de Documentação Alfredo da Silva, adstrito ao Museu;
· Observatório da Terra do Homem, em Mouriscas;
· Centro de Artesanato, na freguesia do Pego;
· Centro de Restauro de Arte e Mobiliário, em Rio de Molinhos.
Naturalmente, nem todos estes equipamentos seriam museus puros. Havia associado a muitos deles a vertente do projecto de desenvolvimento económico, de fomento do turismo, da geração de emprego.
Não foi este o modelo seguido e o voto popular escolheu outro modelo.
*
Ainda assim, no imenso vazio de ideias sobre cultura, que marcam os sucessivos mandatos, a criação deste museu – um museu – aparece como ideia a olhar com atenção.
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Contudo, uma vez mais, somos confrontados com a ausência de um estudo sobre a criação deste museu.
Desconhecemos o seu programa-base.
Desconhecemos a sua viabilidade económico-financeira.
Desconhecemos qualquer estudo ou projecto de investimento que o sustente.
Desconhecemos a forma de financiamento e se haverá necessidade de recurso ao crédito bancário para financiar a parte que o QREN não financia.
Desconhecemos qual o custo de oportunidade em obras para o concelho, em especial para as freguesias, uma vez que a taxa de absorção de investimento neste projecto será muito forte.
Desconhecemos se as instituições de ensino superior da região estão disponíveis para reorientar a sua oferta formativa para áreas de interesse profissional e económico em torno do futuro museu?
Desconhecemos se haverá parcerias público-privadas, bem como parcerias com outros espaços museológicos do mundo inteiro já firmadas?
Desconhecemos o impacto deste equipamento na elevação do nível cultural e educacional do concelho e da região.
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O que conhecemos é uma proposta de honorários e uma estimativa de custo da obra.
Uma proposta de honorários que é um ‘insulto’ à boa vontade e à dimensão do nosso Município.
Uma estimativa de custo que aponta para mais uma espécie de açude, em si mesmo um equipamento cujo proveito sócio-económico e mesmo viabilidade financeira e efeito indutor na economia regional está por fazer, numa altura em que o cenário da sua submersão pela nova barragem é uma realidade.
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O nosso voto favorável é um voto na ideia e não neste conceito que nos aparece apresentado, com dimensão gigantesca, com custos anunciados elevados, sem estudos, sem documentos prospectivos, apenas com a intenção de gastar o dinheiro público, nem que isso implique lançar mais impostos, taxas e tarifas sobre os munícipes.
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O nosso voto favorável é ainda um voto de exigência para que a maioria socialista explique aos partidos da oposição, nesta câmara municipal e na assembleia municipal, de modo mais detalhado, aquilo que pretende fazer e demonstrar a sua viabilidade com estudos.
O nosso voto favorável é um sinal de abertura e de não enquistamento, responsável e próprio de um partido responsável que deseja ser ouvido e contribuir para a criação de um futuro mais sustentável no concelho.
*
É este o sentido do nosso voto. Um voto favorável sobre a ideia mas que reclama um trabalho de estudo, de aprofundamento, de redimensionamento, de renegociação da opção arquitectónica e do próprio museu, um voto que reclama ainda mais transparência e mais informação por parte da maioria socialista.Um voto favorável muito condicionado e muito condicional. Um voto que pode vir a não ser duradouro, caso não venhamos a ser esclarecidos e elucidados sobre a existência de um bom projecto em concreto.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Frase lapidar

Obrigado, EngªPB.
Government's view of the economy could be summed up in a few short phrases: If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it.
Ronald Reagan

Et voilá!

Adeus à medida dos sacos de plástico.
Tal como eu previra ontem, a notícia era uma espécie de referendo.
Perante o coro de protestos, o Governo recuou. Agora que já lhe apanhámos o jeito, será sempre a abrir. Já se percebeu que há sempre, de uma forma ou de outra uma 'auscultação' popular.
A notícia do fim das taxas sobre os sacos de plástico já vem hoje mais dissimulada no Público.
Fantástico, Melga!
Fantástico, Mike!

Prostituição a caminho da legalização?

Uma notícia desta manhã na TSF dá conta do seguinte: Mais de metade a favor de legalização de prostituição.
Fico espantado com esta postura de mentalidades portuguesa. A notícia baseia-se num estudo, mais propriamente no Barómetro DN/TSF/Marktest.
Segundo a notícia, "cerca de 51 por cento dos portugueses defende a legalização da prostituição em casas de passe ou bordéis (...), os homens até aos 54 anos da classe média/baixa e baixa são os que mais apoiam esta medida".
De certeza que, se for feito igual estudo sobre o vinho verde, os portugueses também defenderão que o mesmo seja mais protegido e assim, desse modo, fica provada a teoria que diz que a maioria dos portugueses quer é putas e vinho verde.
Ah pois é...

Muammar Kadhafi na Cimeira Europa-África

Ouvi nas notícias da manhã, no rádio enquanto conduzia, que o líder líbio, Muammar Kadhafi, vai ficar acampado no Forte de São Julião da Barra. Parece que não gosta de hotéis e a dificuldade foi assegurar um local parecido com o deserto, onde ele pudesse instalar a sua comitiva de mais de 200 pessoas, incluindo seguranças.
Parece também que a única parecença do Forte com o Norte de África serão as palmeiras.
Se ele ao menos tivesse ouvido o ministro Mário Lino, saberia que temos um longo deserto na margem Sul, ali para os lados dos baldios de Almada, Seixal, Montijo, Barreiro e Setúbal. Sempre poderia acampar por lá, não era?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

ASAE? Vá você

Recebi uma mensagem muito interessante, aparentemente escrita por um tal de Pedro, que é professor universitário. Vou transcrevê-la e faço um breve comentário no final.
*-*-*-*
A MEIA DÚZIA DE LAVRADORES que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da "fast food", para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e "petiscos", a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A SOLUÇÃO FINAL vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado.
Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
EM FRENTE À FACULDADE onde dou aulas, há dois ou três cafés onde osestudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar! Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico. Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos. Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido. Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
AS REGRAS, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta "produto não válido", mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas. As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
TUDO ISTO, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde.
Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.
*-*-*-*
Ora bem, a ser verdade, isto é uma nova PIDE. Com tanta higienização, desinfectação e esterilização, um dia entramos numa casinha onde os hábitos de higiene são ligeiramente inferiores - ou basta visitarmos um aterro, uma ETAR, uma adega, uma pocilga, e ficamos totalmente infectados com bichinhos e doenças, correndo o risco de apanharmos uma valente diarréia só com o ar que respiramos ou um bilhete de ida para os cuidados intensivos.
Que saudades que eu tenho da máquina de tostas do antigo Pelicano, das febras nas festas da Barrada, servidas sucessivamenet aos vários clientes nas mesmas travessas (que eram limpas diariamente e apenas isso), dos percebes vendidos na rua na Nazaré...
Já começo a ter saudades da sardinha na brasa nas festas de verão, nas aldeias deste país habituado a esse ritual, da castanha assada em folhas das páginas amarelas, em queijo curado feito no produtor.
Por este andar, as cadeias de fast food é que são boas, vamos ficar todos obesos e diabéticos. Coitados dos filhos dos legisladores idiotas que inventam estas leis fundamentalistas. O que nos distingue de outras formas de fundamentalismo que há no mundo?
Aceito bem e acho bem que quem mexe com dinheiro ou em coisas sujas não possa manusear e servir comida. Mas que o senhor da padaria ou a senhora da peixaria tenha de andar permanentemente mascarada de preservativo, isso acho uma tontaria ridícula.
Começo a pensar em criar um movimento anti-ASAE. E sou apenas um utente. Contudo, um utente a quem tentam tirar os melhores prazeres da vida.
Tudo tem limites! PORRA!

Governo taxa sacos de plástico

A notícia foi hoje divulgada: o governo pretende lançar uma taxa sobre os sacos de plástico. Parece que serão 5 cêntimos por saco. E eu que já achava caros os sacos do Lidl, do Minipreço ou do Plus...
Confesso: a proposta é muito bem feita. Por detrás das legítimas ambições ecológicas - que ninguém ousa criticar - está o apetite voraz dos socialistas. Esta é uma forma muito inteligente de nos irem ao bolso. Claro que, mesmo que os supermercados a tenham de pagar, esse valor será sempre suportado pelo consumidor final, que são os portugueses em geral.
Entretanto, o país não está preparado para os sacos de papel ou outro tipo de embalagem mais ecológica e lá se vai, uma vez mais, ao bolso do Zé Povinho.
Será que conversaram com o PS de Abrantes e aprenderam aqui a lição? É que em matéria de ir ao bolso dos portugueses, vejo demasiadas semelhanças no estilo de actuação do PS nacional e do local. Fará parte da cartilha programática do PS?
Até lá, se a medida for mesmo por diante - apesar de achar que esta notícia é parte da estratégia do PS, de lançar as medidas pelos jornais para ver qual a resposta popular - vamos continuando a usar sacos de plástico. Por mais que isso estrague o nosso ambiente. Mas a verdade é que as Agendas 21 Local teimam em andar a passo de caracol e a formação cívica não está a ser feita. Se ao menos a taxa dos plásticos revertesse para formação cívica, projectos de cidadania, projectos ambientais ou de uso racional de energias produção de energias renováveis, ainda poderia ver algum sentido na medida. Mas, como português 'com o cú calejado' que já sou, imagino estas taxas a irem para açudes a tapar por barragens, museus em triplicado e quadriplicado, obra física de fachada mas ausência de políticas de enriquecimento cívico e cultural, carros novos para os ministérios, dinheiro para 3 aeorportos ou para um TGV que não nos faz falta.
Por isso, apetece-me fazer o manguito, o tradicional manguito, com volta completa!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

27 anos


Mais um aniversário. Sempre e recordar o homem e o estadista que Portugal perdeu.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Argel

Como já aqui tinha referido, entre os dias 11 e 15 de Novembro estive na Argélia, integrado numa visita exploratória promovida por várias associações sectoriais mas que, na prática, foi dinamizada pela APICER (associação das empresas de cerâmica).
No grupo de empresas onde trabalho não há nenhuma cerâmica mas fomos inscritos pela associação das empresas metalúrgicas (AIMMAP), à qual pertencemos através da Transfor Indústria de Metais.
E com esta enunciação esclareço um boato que circula por aí, sobretudo em Abrantes. Trabalho para o grupo Transfor e não para qualquer outro, como me contaram, com sede ali para os lados do eixo Fátima-Leiria.
Bem os compreendo mas não é nem foi verdade.
Chegámos no Domingo ao final da tarde mas os trabalhos só começaram verdadeiramente na 2ª feira, dentro da Embaixada de Portugal. Na sessão de abertura, alguns dirigentes empresariais argelinos e, ao centro, o Dr. Miguel Fontoura, delegado da AICEP e, o terceiro a contar da esquerda é o Martim Chichorro, secretário geral da APICER e nosso cicerone na missão empresarial que fizémos.



Na pausa para almoço, dentro de Embaixada, o meu administrador, Tiago Marto.



Fomos almoçar a um hotel enorme, que ocupa uma volumetria excessiva na paisagem da capital argelina, Argel, uma metrópole de 4,7 milhões de habitantes, um país muçulmano mas moderadamente tolerante com outras culturas. Na rua, há mulheres com burka mas a maioria das pessoas jovens são similares aos ocidentais: loiras, ruivas, de olhos pretos, castanhos, azuis e verdes, de ganga, com telemóvel e ipod, fumando homens e mulheres nos cafés, até bebendo álcool (apenas alguns, não todos e sobretudo à noite, homens e mulheres, maioritariamente jovens).
Em regra, durante o dia, nos cafés e bares não se bebe álcool. Mas nos restaurantes e hotéis, há para venda a quem quiser adquirir.

Neste hotel comemos frango (não se come carne de porco) e bebemos vinho argelino. Bebe-se mas fica a anos-luz dos vinhos portugueses.

A vista da magnífica e ampla varanda é estupenda.

Vista ainda para nascente, com o momumento aos mártires a emergir ao fundo da paisagem.

O belo jardim a norte do Hotel, e vista da baía de Argel ao fundo, com o Mediterrâneo a marcar a paisagem.

À noite visitámos o tal monumento aos mártires. Mesmo ao lado, fica um lindo bairro projectado por Le Corbusier, de seu verdadeiro nome Charles-Edouard Jeanneret-Gris.
Por debaixo do monumento fica o bar Triângulo, com animação de jazz, pop/rock e outras animações perfeitamente ocidentais. Não fui lá porque estava cansado, mas houve quem fosse e o ambiente era predominantemente masculino.
Apenas fui à discoteca do hotel e no último dia. Deu para perceber que os argelinos se divertem e que há argelinas bonitas e bem-dispostas, como as há por cá.

Aqui em cima a estação dos correios central de Argel. Por aqui, a esta hora, quando íamos jantar, por volta das 19:30, as mulheres já quase não andavam na rua, já tinham chamado há muito tempo para a Sinagoga, num som intenso que se ouve por muitos locais da cidade. A esta hora, os aromas de especiarias, na preparação dos jantares nos lares argelinos, sente-se livremente no ar.

Na imediações do restaurante onde jantámos nessa noite.

Eu e o Tiago Marto integrados no grupo ao jantar.

Já à saída do restaurante (penso que se chamava Dauphin), as ruas quase desertas.

De volta ao hotel, na esplanada. O hotel foi construído quase no final do século XIX, logo, tem mais de 120 anos de existência, encontrando-se bem remodelado.

Qualquer semelhança entre a doçaria argelina e a algarvia é pura coincidência. Por fora e por dentro.

Aqui já se trabalhava a sério, com empresas argelinas interessadas em conhecer os nossos produtos e serviços.
Aqui mesmo em primeiro plano o Bruno Soares Franco, irmão do actual presidente do Sporting e um bom conviva.
Os encontros de trabalho decorreram na Embaixada, sempre com a presença do Miguel Fontoura e da Neuza Mousserati, uma portuguesa radicada há 27 anos na Argélia, casada com um argelino, com dois filhosd luso-argelinos e funcionária da AICEP. Uma óptima funcionária, tal como me pareceu o delegado, Dr. Miguel Fontoura que, a partir de Janeiro, vai para Luanda render o Dr. Fernando Anjos, com o qual estive aquando da minha deslocação a Angola, em Outubro deste ano.

No mesmo piso onde fiquei há um quarto especial: o do general Eisenhower.

Vista sobre Argel a partir do fundo de um dos corredores do Hotel Al-Djazair (que quer dizer Argélia), onde ficámos hospedados.

Outra vista desde o hotel, sobre a baía de Argel, parecendo o Funchal, só que ampliado.

Desde o nosso hotel também se via o hotel onde no dia anterior havíamos almoçado. Parece que foi construído pelos chineses que, tal como em Angola, já chegaram à Argélia e ocuparam importantes posições, sobretudo na construção de habitação e outros edifícios.

Num dos dias fomos visitar empresas importadoras e representantes comerciais de marcas e produtos de construção. Passámos num bairro interessante e andámos livremente pelas ruas. Aquilo parecia uma espécie de Amadora face a Lisboa, ou seja, não era no centro, tinha um certo ar de bairro de subúrbio mas perfeitamente urbano.

Aqui vão alguns dos elementos do grupo.

Vendedores ambulantes de peixe, carapau e salmonete. Pelos vistos, na Argélia ainda não existe ASAE...

Estranha construção: telha marselha, revestida a alumínio e uma espécie de Alucobond chinês na fachada!...

Parece que o caos dos fios de electricidade não se verifica apenas em Portugal.

Num estabelecimento com o qual estabelecemos um contacto para uma eventual exportação de mobiliário de casa de banho. Agora há que fazer uma proposta e enviá-la.

O Ministério da Energia e Minas, cuja pedra foi fornecida por um casal que estava connosco na missão (o Paulo e a Paula). Bonita obra. Almoçámos bem num restaurante das redondezas.

Um parte dos exteriores do 'nosso hotel'.

Uma porta de um edifício anexo ao 'nosso hotel'.

Mais uma vista desde o 'nosso hotel' sobre Argel.

No dia do regresso veio a chuva e a paisagem mudou radicalmente. Bela na mesma, mas diferente da anterior.

A caminho do aeroporto, um jovem na rua com uma placa identificadora de qualquer coisa que, para mim, é totalmente imperceptível. Os argelinos falam, em geral, francês mas, entre eles, falam árabe, numa das suas variantes, creio eu.

O moderno e imponente aeroporto.

Vista sobre Paris, onde fizémos escala.

Vista já sobre Lisboa, com o estádio do glorioso SLB bem visível.

Uma volta larga e alta sobre Lisboa, com Almada bem visível do outro lado e a ponte 25 de Abril a unir as duas margens.

O Padrão dos Descobrimentos.
Tirei centenas de fotografias mas apenas aqui coloquei uma pequena selecção. Para os apreciadores.
Argélia é um país interessante, com muito para ver, desde que não se vá para as montanhas ou muto para sul, segundo percebi. Gostava de um dia lá voltar. Não sei quando...