quarta-feira, 25 de maio de 2005

Crise? Qual crise?

Vítor Constâncio anunciou: deficit nos 6,83% no final de 2005. Com uma ressalva: não estão considerados os acréscimos de gastos autárquicos em ano de eleições. Ou seja: seguramente, será acima desse valor.
José Sócrates, revelando incompetência e desconhecimentos inadmissíveis para quem sabia que podia ser Primeiro Ministro, veio dizer que não tinha noção do tamanho do ‘buraco’. Não acredito: é claro que tinha, talvez não às décimas mas todos deveriam saber que o ‘monstro’ estava cada vez maior e mais voraz. Lamento as sucessivas operações de cosmética e maquilhagem que os governos de António Guterres até Santana Lopes foram efectuando. Louvo as medidas de Manuela Ferreira Leite e respeito cada vez mais, por tudo, Aníbal Cavaco Silva. Que diferença!
Agora, depois do engodo, vem o dito por não dito: aumentam-se os impostos, muda-se a idade de reforma, mexe-se nos privilégios dos que menos podem reivindicar, não se toca nos interesses dos grandes grupos empresariais e nas grandes lógicas corporativas.
As portagens nas SCUT estão para breve, os trabalhadores do Estado vão ser sacrificados, o Sistema Nacional de Saúde ameaça consumir os recursos remanescentes que ainda possam existir, enfim, vai ser um ataque ao Zé-Pagode feito por quem jurou defender o povo e melhorar a sua vida.
E nós por cá, como reagimos à crise?
Não existe crise por cá, ao que parece. Em tempo de contenção, avança-se com um projecto no Tejo, de construção de um açude que vai custar talvez mais de 2 milhões de contos (10 milhões de euros). Ao todo, com o que já foi feito, vão ser ‘enterrados’ nas margens do Tejo mais de 4 milhões de contos (20 milhões de euros).
Vai ser feito um campo de basebol, modalidade absurda e sem expressão.
Vão surgir quilómetros de alcatrão, pinturas de avenidas, substituição de piso nos campos de ténis por relva sintética, comparticipações para melhoramentos em polidesportivos, balneários no campo da bola dos Casais de Revelhos (após anos de adiamentos), dinheiro para festas, associações, enfim, um número infindável de ‘clientelas’ a quem é preciso agradar em ano de eleições, em cima dessas mesmas eleições.
Vamos ter imensas inaugurações e festas para sorrisos fáceis de circunstância. Porém, em contrapartida, as ETAR funcionam mal apesar do elevado montante do seu investimento e dos valores excessivamente elevados que pagamos em tarifas na conta mensal da água.
Crise? Qual crise?
A grande conta será paga depois, nos impostos municipais, nas taxas e nas tarifas.
Os efeitos deste ‘tsunami’ serão sentidos por mais de 20 anos no nosso concelho.
Crise? Qual crise?
Por cá, a dita passa ao lado dos poderes públicos. A maior parte das empresas e das famílias tem dificuldade em arranjar os trocos necessários para poderem continuar a existir. Mas os poderes públicos locais dão largas à sua imaginação e toca de fazer de conta que a responsabilidade da consolidação das contas públicas nacionais – que tem de passar por contributos subsidiários de todos os patamares do Estado – não é coisa que tenha a ver com Abrantes.Mais uma estátua na rotunda do Rossio, passeios com muros horríveis em Tramagal – mandados demolir depois de construídos, por ordem de Nelson de Carvalho, no exacto dia em que os ‘independentes’ de Tramagal davam uma conferência de imprensa – dão o mote para o contributo invertido do Município de Abrantes para a consolidação das contas públicas nacionais.

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