quarta-feira, 5 de julho de 2006

Desvarios no centro e centro direita ou como escrever direito por linhas tortas...

A oposição a José Sócrates tem sido errática, por vezes algo populista e inconsequente.
Gosto - sempre gostei - de Marques Mendes, sempre foi simpático comigo e sempre acedeu a todos os pedidos de colaboração que lhe pedi; simpatizo até com Ribeiro e Castro. Mas nem um nem outro têm sido capazes de acertar o passo. Há qualquer coisa que não joga certo. Não são eficazes e seguros na forma de fazer oposição e tendem a ceder ao facilitismo imediatista.
No episódio do granizo de Junho que deu cabo de parte da produção vinhateira no Douro, o Ministro da Agricultura aconselhou os agricultores a fazerem seguros. Estes dizem que não, porque isso custa muito dinheiro (mais a mais parece que esses seguros são subsidiados pelo Estado em 75%, pasme-se!) e que só aceitam subsídios a fundo perdido.
Quando o PSD deveria exibir sentido de responsabilidade, Marques Mendes, sabe-se lá porquê, vem colar-se aos "coitados" dos produtores e exigir que o Governo os apoie nesta hora difícil. E se fosse ele o ministro? É assim que se ganha credibilidade?
Quem mais parece estar a querer fazer oposição ao Governo de José Sócrates são alguns sectores do PS: soaristas, gamistas, e outros "istas" que por aí há em todos os partidos democráticos.
Gama irrita o Governo e alguns sectores do PS na Assembleia da República com a sua indefinição sobre a metodologia da votação da lei da paridade, que hoje regressa a Plenário.
Vieira da Silva pressiona Sócrates a deixar a coordenação nacional do PS.
Manuel dos Santos, ex-deputado do PS, incita ao aparecimento de alternativas a José Sócrates na liderança dos socialistas, no próximo congresso. Defende ainda este político que João Soares "merece e seguramente virá a ter um papel determinante na condução futura do PS".
Parece que a ala esquerdista do PS começa a intolerar, cada vez mais, as medidas liberalizantes e de envergonhamento aos socialistas que José Sócrates tem vindo a implementar, com sacrifícios cada vez maiores pedidos (impostos, literamente!) aos portugueses.
Talvez tenham ficado elucidados de vez quando leram o relatório apresentado pela Comissão Técnica do PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Pública). É que aí se pode ler que "o grande objectivo da reforma" é um "Estado cada vez menos prestador directo de serviços e, cada vez mais, regulador, o que obriga ao reforço das funções de planeamento, controlo, avaliação e responsabilização". Ora, no planeamento somos razoáveis, no controlo e avaliação medianos e na responsabilização é o que se sabe - a culpa morre sempre solteira.
Deixar de prestar serviços essenciais, nomeadamente na saúde e na educação, sem termos uma cultura de rigor, que faça do controlo, avaliação e, sobretudo, responsabilização, uma atitude colectiva plenamente assumida, além de visão neoliberal pura e dura do papel do Estado, pode ser um contributo decisivo para o caos.
Veja-se o exemplo recente da Madeira: o outsourcing na área da saúde conduziu a um aumento significativo dos preços para os utentes, na medida em que o sistema ficou mais pesado e mais caro.
O mesmo relatório do PRACE diz ainda, sobre a externalização de serviços essenciais da função prestadora do Estado, que "a transferência de funções para terceiros poderá assumir diversas formas que vão desde a empresarialização pública da função (sector público empresarial, que é um passo intermédio para a privatização futura), à privatização total (entrega ao sector privado) e pelas parcerias público-privadas".
Se assim for, fiquem descansados: a natureza encarregar-se-á de devolver o espaço natural de afirmação de PSD e CDS; mesmo que os seus líderes nada façam para merecer tamanha sorte, poderão aguentar-se de pedra e cal (até porque ninguém quer avançar antes do tempo para as lideranças dos dois partidos do centro e centro-direita) e até poderão ser bafejados pela oportunidade que, neste momento, todos admitidos como altamente improvável: a implosão do Governo, todo moidinho por dentro.

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