quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Dias do futuro

No passado Domingo, foram criadas condições para mudar a minha vida, as minhas rotinas, os meus objectivos.
Posso agora olhar com mais detalhe para outras coisas que tenho deixado descuradas: a minha família, por exemplo.
O meu filho mais velho perguntou-me na Segunda-feira de manhã se eu tinha vencido ou perdido as eleições. Quando lhe respondi que perdi, ele soltou um sonoro "FIXE!".
Quis saber do seu contentamento e ele respondeu que, assim, bem vistas as coisas, eu passaria a ter mais tempo para ele, para a irmã e para a mãe.
É verdade. Tive de concordar.
Tenho pena de não logrado vencer mas já passou.
Paciência. Não foi essa a vontade dos eleitores, aceito-a. Propus um modelo diferente, as pessoas não o quiseram, sem ressentimentos as coisas seguem o seu destino. O futuro dirá se bem ou mal. Oxalá bem!
Vou, então, dar mais valor à família, à amizade, às viagens, ao trabalho, à leitura, à escrita, ao cinema, aos espectáculos de música e teatro, ao desporto.
Sobretudo, gosto imenso de escrever. E tenho tanto para passar a escrito. Experiências de vida, episódios, pensamentos, gostos, histórias...
Já (re)comecei a escrever. Para mim. Para a minha gaveta. Para meu consumo. Sinto-me bem quando escrevo e encontro o meu outro eu, do lado de lá do papel ou do monitor do computador a falar comigo e é nesse diálogo entre o ego e o alter-ego que construo as minhas mensagens.
Vou viajar quando puder e tiver disponibilidade de tempo e de dinheiro para tal.
Vou cuidar do corpo e da mente.
Vou dar mais tempo aos meus filhos e à minha mulher. E à minha restante família também.
É isso que vou fazer. Sem deixar de exercer os meus direitos cívicos. Sem deixar de, quando oportuno, exprimir a minha opinião e a minha visão dos acontecimentos. Sem deixar de participar na vida da comunidade, a diversos níveis de envolvimento, nomeadamente associativo.
Mas, sobretudo, vou tentar obter da vida o maior gozo que ela me poder proporcionar, junto daqueles que me são mais queridos e mais gostam também de mim.
Olho para a rua e vejo a chuva.
Gosto dos dias de chuva. Sim, é verdade. Gosto dos dias de chuva, mas não gosto deles frios, antes os prefiro mornos ou mesmo quentes.
A neblina do chuvisco, num dia austero de chuva forte outonal com o céu forrado a seda cinzenta impede-me de ver os recortes precisos do horizonte. Tudo fica desfocado. Tudo fica diluído e perde-se a nitidez da linha do horizonte e parte da amplitude da vida.
Quando chove, viro-me mais para dentro de mim e aproveito para pensar, para reflectir, para amadurecer ideias e conceitos, para me conhecer melhor.
Procuro encontrar melhor o horizonte, mesmo sem o ver nitidamente. Imagino-o, idealizo-o e vejo-o, sinto-o, por vezes até o consigo cheirar.
Não preciso de ver o sol para saber que ele existe. Pode estar tapado pelas nuvens mas sei que ele está lá e chegará o dia e a hora, depois das chuvas em que ele ressurgirá brilhante para mim e para todos. Não o quero só para mim. Sei que o sol faz falta, como o faz a chuva, o orvalho, a vida florescente na Primavera e todos os equilíbrios da natureza.
Não preciso de ver a linha do horizonte todos os dias porque sei que ela existe, ainda que por vezes escondida.
Serão estes os dias do meu futuro.