sexta-feira, 5 de maio de 2006

O mau aluno, o tal das «orelhas de burro»

O post é de anteontem, da autoria de João Aldeia.
Por ser mais difícil contar do que transcrever, com a devida vénia, aqui transcrevo as palavras que me preocuparam. Cá vai:
Não é só no universo do futebol que "o que hoje é verdade pode ser mentira amanhã", e vice versa.
Ainda não há muito tempo Portugal era apontado como o "bom aluno" na aplicação dos fundos comunitários e, de uma forma geral, na sua integração na economia europeia.
Agora, segundo o jornal Público de hoje (pag. 33), reportando-se a um relatório da Comissão Europeia com um primeiro balanço do último alargamento, «Portugal é apontado aos novos membros da UE como o exemplo a não seguir no processo de aproximação aos níveis de rendimento médio da UE. À luz da experiência dos quatro antigos países "pobres" - Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda -, a Comissão considera que uma convergência bem sucedida pressupõe taxas de investimento elevadas, condições macro-económicas e laborais sólidas e uma boa gestão pública conjugada com um bom ambiente institucional. Enquanto a Irlanda preenche todos os requisitos com distinção, Portugal teve a evolução inversa, devido à "importante" perda de competitividade provocada pelo "crescimento "significativo" dos custos unitários do trabalho num contexto de mercado laboral rígido, a par dos desequilíbrios externos "que começaram a deteriorar-se de forma notável no fim dos anos 1990" e de uma política orçamental expansionista, que se tornou pro-cíclica durante a recessão de 2003."»
E aqui está, a Nação Valente e Imortal, com orelhas de burro, virada para a parede, apontada aos novos Estados membros como aluno cábula e exemplo a não seguir.
Sem comentários, a não ser um recadinho para o nosso bem amado líder Durão Barroso: "Também tu, grande bruto!?"
Comentários para quê? E, a ser assim, quanto tempo mais aguentaremos como país, soberano e inedependente? Não é só no plano económico, é mesmo no plano político? Um Estado também pode estoirar, as suas gentes podem desertar, a coisa pode mesmo piorar.
Que futuro nos assegura Portugal?
Podemos confiar no país? E o país, pode confiar nas suas gentes? Que gentes, que dirigentes, que pseudo-elites?
Ó triste fado. Convidaram-me há dias para ser membro de um site colectivo onde só se pode dizer bem de Portugal. É o Portugal Mais Positivo.
Confesso a minha impotência. Não é que não existam coisas positivas em Portugal. Claro que sim. Mas sinto mais vontade de relatar o que vai mal, muito mal. Em Abrantes, no distrito, no país. Sobretudo a este nível. Estamos tão longe de sermos bons.
E as dúvidas vão aumentando: Voltaremos um dia a ser um país com perspectivas de futuro? Se sim, quando? Será ainda durante a minha passagem pela terra? Em que posso ajudar? E posso confiar em que me peça ajuda? Os exemplos recentes têm sido contrários. Pedem-me sacrifícios mas vejo acentuar, cada dia mais, as desigualdades, as assimetrias, o caminho a percorrer é cada vez mais longo.
Parece que estou a caminhar para o mar e este cada vez mais longe...
Não gosto, fico chateado, é claro que fico chateado.

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