sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Ninguém gosta mais de Abrantes do que eu e fico triste por ver o concelho a perder

O INE – Instituto Nacional de Estatística divulgou recentemente as suas estimativas demográficas relativas ao ano de 2005 e compara esses valores com os dados dos Censos de 1981, 1991, 2001 estimativas relativas aos anos de 2002, 2003, 2004 e 2005.
A Região de Lisboa e Vale do Tejo terá passado de 3,2 milhões de habitantes em 1981 para 3,5 milhões de habitantes em 2005.
Em 1981, o concelho de Abrantes possuía 48.653 habitantes. Era, nessa altura, o segundo concelho mais populoso do distrito de Santarém, atrás de Santarém, que contava com 62.896 almas. O terceiro era Tomar, com 45.672 habitantes e o quarto Ourém, com 41.376 habitantes.
Em 1991, o concelho de Abrantes já tinha menos 3 mil habitantes: 45.697. Santarém conseguia suster o êxodo e fixava nos 62.621 habitantes. Tomar e Ourém também registavam menos população face a 1981, com 43.139 e 40.185 habitantes, respectivamente.
Entre 1991 e 2001, Nelson Carvalho chegou ao poder em Abrantes. Estávamos em 1993 e beneficiando de fundos estruturais como nunca tinham sido disponibilizados até então, começava a implementar o seu Plano Estratégico a dez anos.
Ao fim de 8 anos de governo local socialista (1994-2001), Abrantes registava, nos Censos 2001, 42.235 habitantes, ou seja, menos 3 mil quatrocentos e qualquer coisa habitantes do que dez anos antes e, em 20 anos, perdia 6.418 habitantes. Santarém voltava a registar aumento populacional, subindo para os 63.563 habitantes, Tomar crescia para os 43.006 habitantes e Ourém passava para 46.216 habitantes.
Em 20 anos, quase todos passados debaixo de gestão local autárquica socialista, apesar do slogan “uma terra boa para viver, trabalhar e investir”, Abrantes passava de segundo para quatro concelho do distrito de Santarém.
As estimativas recentes do INE, relativas ao ano de 2005 apontam para que Abrantes tenha agora cerca de 41 mil habitantes, ou seja, sempre em perda demográfica, com menos 15,6% de população face a 1981. Ou seja, em 24 anos, teremos perdido quase um sexto das pessoas que por aqui habitavam.
Mação lidera as perdas demográficas, com 38,0% de perda líquida em termos populacionais face a 1981, seguido de Sardoal (-21,3%), Coruche (-19,4%) e Ferreira do Zêzere (-16,5%). Logo a seguir surge Abrantes, na 5ª posição do ranking das perdas de população em todo o distrito. A seguir a nós vem a Chamusca (-14,5%).
E os outros, aqueles que estão no pelotão da frente, com os quais queremos competir no contexto da nossa competitividade territorial, económica, social, como se comportaram?
Entroncamento lidera o crescimento demográfico do distrito, com mais 71,0% de população em 24 anos, registando já 20.475 habitantes. Logo a seguir vem o industrializado concelho de Benavente, que passou de 16.306 habitantes em 1981 para 26.482 estimados em 2005, o que traduz um aumento de 62,4% da sua população.
Em 3º lugar o igualmente próspero (economicamente) concelho de Ourém, que se aproxima dos 50 mil habitantes (49.763 de estimativa em 2005). Já nos leva 9 mil de avanço!
Santarém aumentou 1,9% em 24 anos, Tomar perdeu 6,3% (menos de metade do que Abrantes que tem, de longe, melhores acessibilidades e não atravessou as graves convulsões económicas e produtivas que Tomar atravessou) e Torres Novas manteve sensivelmente a sua população estável (nunca oscilou muito mas, depois de um período inicial em ligeira perda, tem vindo a recuperar população lentamente, apresentado uma variação em 24 anos de -0,5%).
Ao fim de 12 anos de governos locais sucessivos de Nelson Carvalho, não deveríamos nós ver já os reais efeitos positivos das suas políticas?
As pessoas vêem o que querem e se ficam contentes com as rotundas, as obras grandes e faustosas, os campos desportivos, os espelhos de água e coisas afins, tudo bem. Aliás, os abrantinos foram claros nessa sua opção: querem isso! É uma via mais facilitista, pensarmos que o dinheiro que é gasto não é nosso, que é do Estado ou da União Europeia. Um erro grosseiro: esse dinheiro é nosso e se gastarmos em demasia, como já se viu, aumentam-nos os impostos. Somos nós que alimentamos a máquina. Quanto mais pesada ela seja, mais nós temos de nos sacrificar.
Por isso, não digam que não fui avisando para os perigos desta deriva quase exclusiva para a obra fácil e faustosa em Abrantes, que não cria investimento reprodutivo, não produz bens transaccionáveis, não cria bases sólidas de crescimento sustentado, antes aumenta a despesa corrente porque são necessários mais gastos em iluminação, consumo de água, conservação e reparação, manutenção, limpeza, segurança, funcionários, etc.
Podemos viver algum tempo desses expedientes mas isso não assegura o futuro da nossa comunidade. Poderá chegar o ponto do sufoco e aí podem existir condições para uma rotura com repercussões graves em termos sociais.
Ao contrário do que fizeram correr pelo concelho, nada tenho contra a construção de piscinas, estádios e outros equipamentos. Podemos até ter esses equipamentos desportivos, sociais, culturais, recreativos, estéticos e por aí fora. Não podemos é fazer disso a máxima prioridade. A prioridade tem de ser a economia, o emprego, a riqueza, o desenvolvimento. Em paralelo, à medida que crescemos e ganhamos força, podemos ter essas obras, com conta, peso e medida.
Recentemente, o parque industrial registou algum impulso. Ainda bem, fico feliz com isso. Não percebo porque se perdeu tanto tempo a criar algum dinamismo mas fico feliz por perceber que, sobretudo as minhas críticas acintosas à falta de vocação socialista para a área do desenvolvimento económico e a atenção que, eu e os que me acompanhavam no projecto do ano passado, pretendíamos conceder a esta área crucial e vital para o futuro do nosso concelho, terá conduzido os socialistas do poder a darem mais atenção a esse sector.
Mas, iremos ainda a tempo de emendar os tamanhos erros que foram cometidos?
Não me importo de ser minoritário neste ponto de vista. Podia até estar sozinho. Mas trata-se de uma firme e inabalável convicção: sei que tenho razão, posso é não ser compreendido no meu tempo. Não faz mal, convivo bem com isso.

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