sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Freitas do Amaral, o Muçulmano

O assunto tem dado polémica. Muita. Por isso, achei que deveria também dar a minha opinião sobre o assunto.
Tenho pena de, em finais de 1985 e início de 1986, ter andado a investir o meu tempo no Movimento "P'rá Frente Portugal". Fiz campanha por Freitas do Amaral, quando concorreu a Presidente da República. Não votei nele, então. Tinha 17 anos. Na altura custou-me não poder votar; agora, sinto-me aliviado por isso.
Tenho vergonha das palavras subservientes, ajoelhadas, reveladoras de cagufa de um ataque dos árabes.
Tenho vergonha deste homem que respondeu em nome do meu país. Às vezes acontece um homem comprometer o país sem que este concorde minimamente com os disparates - e de que calibre - que ele transmitiu.
Sou ocidental, acredito no Estado de direito, na liberdade de expressão, nas virtudes do mundo ocidental. Que tem defeitos, que não é perfeito, que poderia ser melhor. Mas antes quero 'o meu mundo' do que o árabe dos estados islamitas, onde não há liberdade de expressão, onde o valor da vida humana é muito relativo, onde matar em nome de um qualquer Deus é um acto normal, tantas vezes à custa do sangue inocente de ocidentais.
As tretas de Freitas do Amaral em torno das teorias patéticas que desenvolveu no seu texto acerca da filosfia das religiões retratam a visão de um cagufa de merda. Desculpem mas é assim que vejo o mais lamentável episódio dos últimos tempos.
A solidariedade de Freitas do Amaral é mais forte do que aquela que omitiu - e deveria ter exibido - face a um país ocidental, parceiro da União Europeia.
A sua vocação para defender Maomé não o levou a condenar os ataques extremistas em nome do mundo do Islão que se seguiram num sinal (mais um!) de intolerância e de desrespeito pela liberdade de expressão dos outros movida pelos discípulos de Maomé.
Claro que respeito a religião do mundo árabe; como respeito a dos cristãos, dos hebráicos ou outra qualquer. Mas não é um cartoon, nem uma dezena, nem uma centena, que fazem diminuir a fé aos que a têm.
Por isso, a reacção de Freitas do Amaral foi uma anedota. O homem já deveria ter percebido que está sempre - inevitavelmente sempre - longe do mundo real e concreto dos portugueses.
Um dos problemas é que em alguns Estados do mundo do Islão, ao contrário do mundo ocidental, não há qualquer separação entre Estdo e Religião, ou antes, entre Política e Religião. E os árabes e os seus defensores - entre os quais Freitas do Amaral, acham que a liberdade de expressão não é tolerável quando estão em causa os símbolos religiosos de outros povos. Na prática, defendem uma liberdade de expressão condicionada, diminuída, com limites, o que é o mesmo que dizer que a expressão não será inteiramente livre ou, melhor ainda, que afinal ñão pode existir verdadeira liberdade de expressão. Esta fica consignada a ser um chavão, apenas e só isso.
A atitude de Freitas do Amaral, ao contrário de pacificadora, consensual, madura e ponderada, teve o efeito inverso de contribuir para aumentar o "choque de civilizações". Porque não é sensata e se sustenta em valores e premissas inaceitáveis.
Vejam a este propósito a opinião de Constança Cunha e Sá, no seu blog "O Espectro", no post de ontem.
Vasco Pulido Valente, na crónica do Público de hoje e igualmente publica no mesmo blog da sua companheira, diz algo que sinto ser verdadeiro: "Devemos tolerar o Islão. Isto à superfície parece óbvio. Mas pede uma pergunta: também devemos tolerar a intolerância do Islão? A "Europa" respondeu que sim, mesmo à custa de se negar a si mesma".
VPV alerta ainda para a (ir)responsabilidade do estado de situação a que chegámos e deixa um alerta: "Tentar distinguir entre a guerra política e a guerra religiosa que o Islão move ao Ocidente não passa de um sofisma. Não se pode dividir o indivisível. A jihad deriva directamente do Corão. E o terrorismo, material e psicológico, assenta numa base doutrinal sólida, que Bin Laden, por exemplo, frequentemente invoca. Que espécie de responsabilidade leva, então, o Ocidente a não "provocar" um inimigo declarado? Não se tornou ela na pior e mais perigosa irresponsabilidade?"
Sobre isto, o PS anda num desnorte. Primeiro, com as críticas de Manuel Alegre à tristeza de afirmações de Freitas do Amaral. Agora foi Vitalino Canas que, à cautela, disparou em todos os sentidos, com uma verdadeira 'pérola' política, proferida no Parlamento. Note-se: "caricaturistas irresponsáveis e fundamentalistas violentos estão bem uns para os outros". No fundo, como diz o povo, é tudo a mesma merda, são todos da tropa fandanga. Foi isto que aquele dirigente do PS quis dizer, na minha opinião. Já nem está em causa o partido; poderia ter sido de qualquer bancada. Mas este dirigente tem responsabilidades acrescidas. Deve um pedido de desculpas a todos os cartoonistas e a todos os verdadeiros amantes da liberdade de criação artística e de expressão.
É este tipo de observações que tem conduzido, também, os portugueses, na gíria, a dizerem que os políticos são todos a mesma merda. Se calhar são mesmo.
Não me vou alongar muito mais. Quase todos os blogs de referência têm estado atentos ao que se tem passado. De vários quadrantes sócio-políticos. Encontro um máximo denominador comum: a condenação das palavras do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Quem quiser aprofundar, por ver:
Não dou mais exemplos, mas centenas de outros haverá.
Já existe até um site com uma petição de apoio à Dinamarca. Ora vejam bem:
Onde é que isto vai acabar?

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