quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

São Miguel do Rio Torto e outras reflexões

Os afazeres não me têm permitido escrever aqui com regularidade.
O trabalho não o tem permitido. E fora dele tenho andado às voltas com a proposta de metodologia de investigação para a dissertação do meu curso de mestrado.
A esta hora e já cansado das pesquisas on-line e de um final de tarde na Biblioteca do Politécnico de Tomar e uma noite digitando as teclas do meu computador, resolvi encher-me de coragem e, antes de ir para o "sono dos justos", aqui colocar um post.
Os poucos leitores que tenho merecem-me esse respeito.
Vamos lá então...
Na passada segunda-feira, a Câmara Municipal de Abrantes aprovou o lançamento de concurso para vários arruamentos em São Miguel do Rio Torto. Nada de mais, é justo e merecido. Só é pena que, enquanto a Junta de Freguesia foi liderada pelo PSD, cujo presidente era o meu amigo Matos Gomes, Nelson de Carvalho tivesse adiado todas as decisões de investimento naquela freguesia, incluindo ao nível dos arruamentos.
Chegou mesmo ao ponto de Matos Gomes "boicotar" alcatrão onde ele menos fazia falta, invocando que noutros pontos da freguesia e da sede de freguesia, esse mesmo alcatrão fazia mais falta.
Pois é, na presente empreitada, a vontade do Matos Gomes vai ser satisfeita...
...já sem o Matos Gomes.
É esta a forma de actuar do PS em Abrantes: às freguesias onde não venceram dão pão e água, quando dão.
Quando as vencem, é uma fartura, dando claramente a entender aos eleitores de que o melhor é mesmo o partido único, ou seja, que todas as freguesias devem ser da cor política da Câmara, senão não apanham nem uma migalhitas.
Pobre vergonha, pobres de espírito, os que o praticam e os que se deixam enganar por tamanha trafulhice política.
Fiquei ainda a saber que a torneira de água, que vem do Vale das Donas, de que o público geralmente se abastecia, junto ao cemitério de São Miguel do Rio Torto, foi returada por "instruções superiores".
Por outras palavras, gastem água da rede pública, bebam água da rede pública (eu não bebo, eu não confio na sua qualidade, por mais que me digam que é boa!!!!), paguem mais tarifas de saneamento e de resíduos sólidos (proporcionais à conta da água) mas não ousem beber daquela água.
Até quando este povo de brandos costumes vai deixar que lhes retirem direitos adquiridos, de várias gerações?
Direitos adquiridos e usufruidos desde muito antes dos "imigrantes" que governam o concelho cá teremn chegado.
Eles chegam mas o povo parte: ou morre ou emigra.
No ano de 2005 morreram mais de 500 pessoas no concelho de Abrantes; nasceram cerca de 300. O saldo é negativo, uma vez mais, em valores superiores a 200 pessoas por ano. Só no balanço entre vivos e mortos. Falta juntar os que vão à procura de trabalho ou de estudar e não regressam mais, o que é sempre superior àqueles que nos procuram para aqui trabalhar ou estudar e aqui acabam por ficar.
Duvidam?
Comparem o número de eleitores deste concelho, desde o tempo em que o Sr. Nelson de Carvalho começou a governar o concelho.
Em 8 anos e 2 meses, entre Dezembro de 1997 (data da sua primeira reeleição) e Janeiro de 2006 (data da histórica ascenção de Cavaco Silva à Chefia de Estado - dá-me gozo escrever isto!), o concelho de Abrantes perdeu 3.976 eleitores.
Querem que seja mais preciso? De 41.271 nos cadernos eleitorais em 1997 para 37.295 agora, no dia 22 de Janeiro que passou.
Uma terra boa para viver, trabalhar e investir?
Antes fosse!...
Este é o estado de coisas que interessa ao senhor Nélson e aos seus camaradas do PS de Abrantes. Ao contrário de Santarém, que viu o seu tecido social ser renovado, por força de ser já uma cidade-dormitório de Lisboa (para lá de ter a sua vida própria), ou de Entroncamento, que se viu irrigada de sangue novo e pensamentos arejados, em Abrantes reina a decrepitude social, ou seja, não há muita gente nova a pensar diferente, a ousar desafiar o status quo. Em conclusão, os tradicionais eleitores não mudam o sentido da sua posição habitual de modo muito significativo, seja pela idade (burro velho não aprende línguas...) seja pelo peso inerente ao voto tradicional, que não ideológico (muito menos lógico).
Como somos cada vez menos e cada vez caras mais conhecidas (quem nos dera que houvesse um movimento migratório significativo), não podemos esperar grandes novidades uns dos outros.
Esta terra, assim como vai andando, não terá um futuro promissor. Oxalá eu me engane.
Mas já repararam que em 1983 nevou a sério e agora, desde que o senhor Nélson nos governa, nem a isso temos direito?
Com esta terra, habituada a ser mal-tratada e mal-amada, já nem a neve quer nada.
Até quando? Até quando? Até quando?

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