quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Vendidos e sem dignidade

O país está cheio de gente que se vende.
Não falo de quem vende o corpo mas daqueles que vendem a alma, o que é bem pior. Quem vende o corpo, por vezes fá-lo por necessidade.
Quem vende a alma e o carácter, aliena por completo a sua dignidade.
Pessoas que trocam convenientemente, convicções por conveniências que, convenhamos, não convencem nunca mais aqueles que neles outrora acreditavam.
Portugal é um imenso bloco central de interesses, no qual muitos vivem com um 'cartão dourado', afinal mais concretamente rosa de um lado, laranja do outro.
Os profissionais do truque, da palmadinha nas costas, do sorriso fingido que esconde o prazer último pelo interesseirismo, pelo carreirismo e pelo amiguismo pululam por aí como febre num corpo engripado.
Tive, em tempos, uns amigos que compartilhavam projectos de vida em comum, com filhos da mesma idade, da mesma geração. Havia afinidade aparente de projectos de vida. Em alguns encontros políticos que promovi no partido a que pertenço estiveram presentes, dando-me apoio pessoal e força para as batalhas que decidi travar. Percebi a sua sintonia de ideal com a minha e partilhámos conversas abertas e francas, discutindo o futuro do concelho e do país, com a preocupação de quem nele quer viver e ser feliz, dando horizontes de esperança aos filhos.
Ouvi-os dizer mal, muito mal, daqueles que hoje servem e dos quais, afinal, se servem.
Tive esses amigos, é verdade.
Tive...
Mas terão sido mesmo amigos? Não, nunca, porque a amizade verdadeira não se trai. Nunca! Por nada! por ninguém! por circunstância alguma!
Não há nada pior que a traição abjecta de quem troca todas essas afinidades e vivências por uma conveniência forçada para apanhar uma melhor posição social e profissional.
Passado este período de nojo que auto-impus, posso falar do assunto sem ressaca, com grande naturalidade.
Estou mais longe do fervor que senti quando tive percepção da traficância de interesses de tais amigos e estou, tambéem, mais longe da agitação que caracterizou a minha vida nos últimos anos. Mais sereno, mais tranquilo, também mais solto e menos preso a estigmas e paradigmas. Vejo as coisas de modo mais sereno, linear, telúrico.
Durante o tempo que levei a fazer a 'cura', discuti o assunto com várias pessoas, amigos e familiares. Dizem-me que, infelizmente, é normal haver gente assim, com pouca coluna vertical, com formação aparente mas destituídas de bravura, de coragem, de força para lutar por ideais.
Não os condeno por serem assim; sinto comiseração.
Talvez o mal não esteja neles mas na sociedade em que vivemos e na qual alguns, mais fracos, não resistem às tentações e acabam cedendo a sua dignidade a mais uns trocos na algibeira.
Condeno-me a mim porque me enganei; ou porque fui, de modo altamente profissional, iludido e enganado.
Esses seres humanos não voltam a por os pés em minha casa, nem eu sinto prazer algum em ir à deles. Vemo-nos por aí e esboçamos um cumprimento formal sem voltarmos a trocar palavras sentidas.
Não me peçam para fingir. Com estes ou com quaisquer outros. Não vale a pena perdermos muito tempo com assuntos que não merecem atenção e cuidado. Só se pode dar importância ao que é, verdadeiramente, importante.
De resto, não foi a primeira vez na minha vida que me enganei acerca de pessoas que o destino fez cruzar na minha vida. Vou ficando mais treinado e aprendendo sempre.
Quando me sinto traído, corto radicalmente, 'mato' quem me trai e não volto a dispensar atenção ou confiança. Nunca mais seria capaz de compartilhar uma refeição em comum, quanto mais projectos de vida, pensamentos e afinidades.
Por mais que apareçam a justificar o injustificável, depois de 'borrada a pintura'.
Sejam felizes, não se metam comigo que eu não me meto com a vida dessas pessoas.
Pronto, mais uma questão resolvida. Por mim esqueci, é passado, já não importa.
E não é que me sinto melhor?

Sem comentários: