sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Reflexões sobre as eleições no PSD em Abrantes

A vida dos partidos políticos é como a vida das pessoas: feita de altos e baixos, com alegrias e tristezas, com vitórias e derrotas, onde forjamos amigos e criamos inimizades.
Os partidos são o espelho da sociedade - talvez o mais fiel.
Ao longo dos últimos 8 anos participei de modo activo na vida do partido no qual me filiei em 1986 - o PSD. Tinha então 18 anos e desde há muito que andava nas campanhas do PSD, integrado num grupo etário a que se convencionou chamar JSD e onde viria a ter cargos de alguma responsabilidade. Nessa altura eu acreditava que a JSD era apenas uma escola de virtudes, cego que estava em não querer ver que a Jota - todas as jotas - são, afinal, um meio perverso de conquista poder e de aquisição de vícios; apesar do muito e bom que também ensinam e proporcionam aos seus quadros.
Mas, dizia eu, ao longo dos últimos 8 anos fui uma das faces mais visíveis do meu partido em Abrantes. Para o bem e para o mal.
Na noite de 9 de Outubro, no rescaldo da derrota do PSD, apesar do crescimento contínuo do nosso espaço de afirmação comunitária ao longo dos mesmos 8 anos, o PS reforçou também o seu peso no concelho e, seguindo a máxima de que "a culpa não morre solteira" fui (e voltaria a ser!) solidário com o meu companheiro Armando Fernandes e pedimos, em bloco, a demissão da Comissão Política, solicitando a convocação de novas eleições.
Tenho mails (de que dei cópia à minha amiga Anabela Matias e ao próprio Armando Fernandes - retiro daqui o 'dr' que ambos são) comprovando o pedido da assembleia eleitoral ao Presidente da Mesa, Carlos Coelho.
No jantar de natal do PSD distrital, pela boca do próprio, fiquei a saber que ele não recebeu, em nenhuma das suas 4 caixas de correio, o pedido que fiz em nome da Comissão Política. Nem o 2º envio, em forward, do mesmo pedido, para as mesas 4 caixas de correio, de que dei igualmente cópia aos mesmos destinatários.
Isso agora não importa. Importa, isso sim que, passadas as eleições presidenciais, o PSD de Abrantes vai escolher os seus novos dirigentes.
E é isso que me preocupa. Não vejo candidatos à altura dos pergaminhos que o PSD tem no concelho a perfilarem-se.
Vejo, isso sim, umas - legítimas - movimentações solitárias de um grupo forjado na escola das vicissitudes da Jota, mas marcado, em largos espectros da equipa que vai sendo visível, de uma falta de formação cívica e doutrinária, com pouca consistência em termos de argumentação, destituídos de estratégia e de táctica, no fundo, quadros com pouca ou nula densidade política. Não serão todos mas tenho de admitir que alguns são isso e muito pior!
A ambição é fundamental, é importante, é decisiva e determinante - mas não pode ser a matriz de uma qualquer estratégia, inconsistente.
Se o projecto que sinto estar a germinar não for contrariado na sua intenção e lograr vencer - por falta de comparência de adversário(s) - será a esses futuros dirigentes que competirá coordenar a actividade política da oposição, dar orientações e instruções sobre temas pertinentes a suscitar em sede de Câmara Municipal e Assembleia Municipal, começar a constituir listas de candidatos nas freguesias, encontrar candidatos para as próximas eleições autárquicas, reunir recursos para montar uma campanha, participar nas actividades distritais, conceber documentos estratégicos, estudar tácticas internas e externas, ter capacidade de adaptar o partido à realidade envolvente sem lhe deformar ou matar a essência programática, escolher representantes para as eleições legislativas, formar quadros, articular-se com a comunidade, formar fóruns de discussão e grupos temáticos, etc, etc, etc.
Vejo no grupo que germina capacidade de fazer militantes à porta das escolas, embora sem os esclarecer do alcance dessa adesão.
Vejo no grupo que germina uma vontade subliminar de 'matar' o bom que tem sido construído em Abrantes pelos dirigentes e simpatizantes que têm ajudado o PSD nos últimos anos; pelo menos, a julgar pelo que já ouvi até agora.
Pressinto que não estão sós nesta odisseia; pressinto mesmo alguns apoios, provenientes de alguns sectores e de alguns anteriores dirigentes que, no passado, foram nocivos ao PSD e contribuiram para que não fôssemos poder no concelho por mais de 4 anos - não mais do que um só mandato.
É por todas estas dúvidas que, sem esperar um Salvador messiânico, ou um D. Sebastião numa qualquer manhã de nevoeiro, tenho de ponderar bem o que está em causa, tenho de me interrogar, de reflectir, de tirar conclusões sobre o que está e o que pode vir a acontecer em Abrantes se o PSD seguir o rumo que, à partida, parece traçado.
A vitória desse grupo seria, para mim, o vingar de uma forma de ser e estar na política e na vida contra a qual tenho feito o grande combate da minha participação cívica.
Espero - e desejo - que ainda possa haver tempo de evitar o que pode vir a acontecer.
Ninguém possui verdades absolutas. Ninguém pode adivinhar o futuro. Mas não me parece, por aquilo que sei, por aquilo que conheceço, por aquilo que já vi, que o PSD possa sair enriquecido, reforçado; logo, o concelho nada ganhará com essa escolha.
É a minha opinião, expressa no meu espaço de reflexão. Posso estar errado, admito; contudo, acho difícil enganar-me neste caso particular.
Conheço bem - muito bem - o PSD de Abrantes e acho que posso avaliar com algum rigor quem poderá ser mais útil ao PSD e ao concelho.
O futuro poderá desmentir-me. É uma hipótese, porém, pouco plausível.
Fica aqui o registo, a reflexão e a mensagem.
Espero que, a cerca de 1 mês das eleições, ainda vamos a tempo de evitar uma desgraça.

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