segunda-feira, 12 de março de 2007

Erros locais de elevada severidade

Há uns anos atrás, entre 24 e 27 de Maio de 2001, antes das eleições autárquicas desse ano, realizou-se em Abrantes, com elevada pompa e circunstância, a I Feira Nacional do Azeite e o II Encontro Nacional do Azeite.
Foi uma festa com tudo aquilo a que Nelson de Carvalho e seus pares nos habituaram no domínio do marketing e comunicação. Abrantes iria ser a capital do azeite. Até iríamos avançar com mil hectares de olival, para ajudar a cumprir a meta nacional (salvo erro seriam 20 mil hectares). Depois, bem depois vieram as desculpas, que os agricultores queriam "dado e arregaçado" e que assim, e tal, a coisa já não avançava - e não avançou.
Agora, o Fundão agarrou nesta ideia que se deixou perder - dava um trabalhão do caraças e não havia pilim da comunidade europeia - e zás, lançou a sua Feira Nacional do Azeite. É já entre 12 e 15 de Abril.


Mais a norte vai mesmo nascer, noutro concelho, já de Trás-os-Montes, o Museu do Azeite. Não é que Belmonte não tenha já o seu Museu do Azeite, mas...
A verdade, por mais que nos custe - e custa! - é que este executivo socialista gosta, sobretudo, de fazer obra fácil. Apesar de tudo, é mais fácil construir obras, ainda que grandes, com apoios garantidos, do que gerar conteúdos, trabalhar nos projectos imateriais e gerar riqueza a partir das ideias.
Até a cortiça já perdemos para, pelo menos, dois concelhos a sul: Ponte de Sor e Coruche.
***
Deixe-me dar mais alguns exemplos da ideia que possuo sobre a (limitada) capacidade empreendedora dos executivos municipais socialistas de Abrantes.
Começo por referir a fraqueza de fixação de empresas no Parque Industrial.
Quando comecei a "apertar" com as críticas de falta de empresas, a meio do anterior mandato, a equipa de Nelson Carvalho esforçou-se por tentar demonstrar o contrário. Encontraram algumas empresas, desmentiram-me quando eu disse que havia "meia dúzia" de empresas (uma figura de estilo) e toca de demonstrar o contrário, colocando até placas com os nomes das novas empresas. Algumas, felizmente, acabaram por avançar com a construção e aí estão. Ainda bem. Na divulgação da venda dos terrenos e no anúncio de novos postos de trabalho, foram céleres e eficazes.
Como será agora a atitude do "telecomandado" SDI (sem ofensa para alguns profissionais que têm mesmo de emitir os comunicados que têm de ser emitidos em uso de propaganda) ao ter de informar a população que 6 empresas a quem tinham sido vendidos os terrenos, afinal, não se vão fixar por aqui e acabarão por ver os seus lotes revertidos para o Município?
Por outras palavras, o Município paga aquilo que recebeu e volta a dispor dos terrenos para tentar colocar no mercado.
Depois da Ourividro e da Gerarfrio (já este ano), hoje foi a vez da FML – Fundição e Metalurgia (2 Lotes), da STEEL TEJO – Metalomecânico e Fabrico de Máquinas (1 lote) e da CIM – Cacém Industrial Metalúrgico (1 lote). A Recy-Top também vai perder o lote que tinha adquirido para se poder expandir porque, afinal, não vai precisar do mesmo. Na próxima semana será a vez da Jorgel (1 lote).
Garantem-nos que isso até é bom porque estavam a ficar com falta de lotes e há muita gente para se instalar?!? A sério, é esta a visão dos responsáveis do Município. Não os critico por pensarem assim. Critico antes os abrantinos que lhes deram o voto de confiança e, afinal, Abrantes não está "uma terra melhor para viver, trabalhar e investir".
É que, antes desta reversão, podíamos contar ainda 35 lotes disponíveis para venda! Para que não pensem que minto, aqui ficam eles: I26, I34, I38, I15, I16, I17, I18, I01, I02, I03, I04, I06, I59, EA67, I61, I68, I69, I70, I71, I72, I73, I75, I77, I78, I79, I80, I81, EA82, I83, I84, I85, I86, I87, I88, e I89.
Outro exemplo: a dinâmcia do Tecnopólo está a anos-luz daquilo que seria desejável. O Centro de Incubação de Empresas de Base Tecnológica incuba pouco, faz pouco como motor de desenvolvimento tecnológico para induzir outros investimentos. O Centro Tecnológico Alimentar é um capricho cuja viabilidade ainda está por aferir. Consta que alguém vai ficar melhor por aquela infraestrutura existir mas a grande pergunta a que temos de dar resposta é esta: "aquilo era, de facto, fundamental para alavancar o desenvolvimento das empresas e, por via disso, gerar mais emprego, mais riqueza e mais desenvolvimento?". Talvez, um poucochinho. É essa a palavra: um poucochinho! O Centro de Inovação, Incubação e Desenvolvimento de Empresas está atrasado. Já terá financiamento assegurado? E, depois, o que irá fazer, em concreto, pelo desenvolvimento económico, pela geração de riqueza e pela criação de emprego local e regional? Como será gerido? Com que modelo? Outro equipamento a colocar no Tecnopolo é o Forum Empresarial. Também está atrasado, já mudou de local, já cresceu em dimensão e é de difícil financiamento e sustentabilidade.
Enfim, uma sucessão de erros, não porque o conceito esteja incorrecto mas porque não há condições técnicas dos decisores e responsáveis para fazerem esse percurso de modo adequado.
É assim género peixe fora de água. Normalmente morre de boca aberta e sem água por onde nadar e voltar a fugir para o seu meio. A aventura de um peixe fora de água só muito raramente corre bem.
Continuamos a dar o benefício da dúvida?
***
Para acabar em beleza neste dia, sinto que devo falar (ainda que levemente) da Carta Educativa.
Não o irei fazer numa perspectiva técnica (fica para outro dia, quem sabe?) mas antes "picar" uns dados que nela estão contidos para fazer extrapolação política.
Para este efeito, colhe apenas colocar 3 quadros retirados da proposta de Carta Educativa que o Conselho Municipal de Educação vai apreciar dia 22 de Março.

Ora aqui têm. Verifiquem 3 cenários de projecção demográfica:
- O pior diz que passaremos de 42,4 mil habitantes em 2001 para 37,8 mil habitantes em 2001;
- O segundo pior aponta para 38,5 mil habitantes em 2001;
- Na melhor das hipóteses seremos 39,2 mil habitantes nessa altura.
Em qualquer dos cenários, Abrantes perde população. Para quem anda a viver ilusões e a multiplicar a despesa corrente, podemos ter a certeza de que teremos de pagar cada vez mais taxas, tarifas e impostos porque seremos cada vez menos e a despesa que o PS gerou será cada vez maior. Já não sou apenas eu quem o diz - agora a própria Carta Educativa subscreve este cenário terrível.
Outro quadro:

Aqui, podemos ver como o Índice de Envelhecimento vai continuar a aumentar no nosso concelho.
Como consequência, eis o quadro seguinte:

Em 2001 deverá haver mais 32 lugares disponíveis do que a procura existente ao nível de Jardins de Infância, mais 501 (!!!) lugares em sala disponíveis do que alunos do 1º ciclo, mais 168 lugares em sala do que alunos bos 2º e 3º ciclos e mais 330 lugares em salas de aulas do que a procura de alunos ao nível do secundário. Ao todo, o nosso concelho terá mais cerca de 1000 lugares em sala do que a procura por parte dos alunos do concelho, já daqui a 4 anos.

O território educativo 1 (TE1) é o Agrupamento Vertical Dr. Manuel Fernandes, o TE2 é o de Tramagal e o TE3 o D. Miguel de Almeida. Creio que faltam aqui as escolas Dr. Solano de Abreu e Profissional de Desenvolvimento Rural de Mouriscas.

Seja como for, o que isto nos diz é que, ao contrário do que nos andam a querer fazer crer, o concelho de Abrantes continua a não conseguir suster o êxodo populacional e vai continuar a definhar.

A única coisa que cresce é a factura a pagar por parte das famílias, das empresas, das insituições, enfim, por parte de todos e cada um de nós.

1 comentário:

nGaspar disse...

Caro, Pedro!

A isto eu chamo “falta que capacidade de trabalho”, porque visão nós temo-la. O mesmo de passa no restante país. Começamos a obra, mas como continuá-la dá muito trabalho... descartamo-la de seguida. É por isso que somos pequeninos... Enfim!

Bem-haja.