sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Declaração de voto sobre a criação do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes

Na passada 3ª feira foi à reunião semanal de câmara a proposta para a criação do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes, através da requalificação do Convento de S. Domingos.
Apesar de o assunto estar mais do que divulgado, foi finalmente presente a sessão ordinária do executivo municipal.
Para que se dissipem eventuais dúvidas, aqui fica a delcaração de voto que eu e o José Moreno apresentámos:
A criação de um museu, enquanto equipamento estruturante, é uma ideia que apoiamos.
De resto, no nosso programa de candidatura constava um ambicioso conjunto de propostas no domínio cultural.
Desejamos que este museu possa vir a ser um espaço que contribua para que todos possam usufruir da cultura na nossa terra. “Queremos uma política cultural para todos, inclusiva e promotora de desenvolvimento pessoal e comunitário, geradora de progresso e desenvolvimento”, era uma das enunciações que fazíamos no nosso programa de candidatura. Sempre defendemos que, ao intervir culturalmente, “pretendemos contrariar a tendência para a desertificação do concelho, estancar a hemorragia humana que faz sair os jovens em direcção ao litoral, empurrados pela ânsia de encontrarem emprego ajustado aos seus desejos, conhecimentos e vontades”.
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Contudo, a proposta que nos é apresentada não surge na sequência de um plano estratégico para o desenvolvimento cultural do concelho de Abrantes. Facto que consideramos lamentável, porque indicia que esta oportunidade foi repentista, ao género do aproveitar uma oportunidade espontânea surgida.
Ao contrário desta visão de impulso, sempre defendemos a importância de “concebermos um plano estratégico no âmbito da cultura capaz de influir positivamente no desenvolvimento económico do concelho, de todo o concelho sublinhe-se, debaixo de todos os matizes e referências, dos quais se enumeram os pontos seguintes:
· Contribuir para a atracção de investimentos e criação de emprego;
· Captar públicos de todos os géneros, em todo o tempo, a todo o tempo;
· Fixar populações e incentivar a indústria do ócio;
· Inventariar, investigar, estudar e defender o património nas suas diversas vertentes;
· Dar ênfase à Convenção Europeia das Paisagens;
· Proceder-se à actualização da classificação de monumentos com interesse municipal, alargando-a a outras tipologias de monumentos, incluindo os naturais e, porque correm sérios riscos de desaparecer, os imateriais;
· Fomentar a aculturação, a formação do gosto, a criação artística e o apreço pelos criadores;
· Dar à Escola a possibilidade de tomar contacto real e continuado com criadores e as suas obras;
· Colocar ao alcance de toda a população equipamentos e estruturas de modo todos terem acesso a uma melhor qualidade de vida”.
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Como alguns se recordarão, entre as propostas para o desenvolvimento cultural que efectuámos em 2005, na área da museologia figuravam as seguintes, entre outras:
· Criação do Museu de Arqueologia Industrial com um núcleo em Tramagal;
· Centro de Interpretação de História da Indústria de Fundição, adstrito ao Museu;
· Museu ao Ar Livre, na zona da antiga UFA;
· Centro de Documentação Alfredo da Silva, adstrito ao Museu;
· Observatório da Terra do Homem, em Mouriscas;
· Centro de Artesanato, na freguesia do Pego;
· Centro de Restauro de Arte e Mobiliário, em Rio de Molinhos.
Naturalmente, nem todos estes equipamentos seriam museus puros. Havia associado a muitos deles a vertente do projecto de desenvolvimento económico, de fomento do turismo, da geração de emprego.
Não foi este o modelo seguido e o voto popular escolheu outro modelo.
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Ainda assim, no imenso vazio de ideias sobre cultura, que marcam os sucessivos mandatos, a criação deste museu – um museu – aparece como ideia a olhar com atenção.
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Contudo, uma vez mais, somos confrontados com a ausência de um estudo sobre a criação deste museu.
Desconhecemos o seu programa-base.
Desconhecemos a sua viabilidade económico-financeira.
Desconhecemos qualquer estudo ou projecto de investimento que o sustente.
Desconhecemos a forma de financiamento e se haverá necessidade de recurso ao crédito bancário para financiar a parte que o QREN não financia.
Desconhecemos qual o custo de oportunidade em obras para o concelho, em especial para as freguesias, uma vez que a taxa de absorção de investimento neste projecto será muito forte.
Desconhecemos se as instituições de ensino superior da região estão disponíveis para reorientar a sua oferta formativa para áreas de interesse profissional e económico em torno do futuro museu?
Desconhecemos se haverá parcerias público-privadas, bem como parcerias com outros espaços museológicos do mundo inteiro já firmadas?
Desconhecemos o impacto deste equipamento na elevação do nível cultural e educacional do concelho e da região.
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O que conhecemos é uma proposta de honorários e uma estimativa de custo da obra.
Uma proposta de honorários que é um ‘insulto’ à boa vontade e à dimensão do nosso Município.
Uma estimativa de custo que aponta para mais uma espécie de açude, em si mesmo um equipamento cujo proveito sócio-económico e mesmo viabilidade financeira e efeito indutor na economia regional está por fazer, numa altura em que o cenário da sua submersão pela nova barragem é uma realidade.
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O nosso voto favorável é um voto na ideia e não neste conceito que nos aparece apresentado, com dimensão gigantesca, com custos anunciados elevados, sem estudos, sem documentos prospectivos, apenas com a intenção de gastar o dinheiro público, nem que isso implique lançar mais impostos, taxas e tarifas sobre os munícipes.
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O nosso voto favorável é ainda um voto de exigência para que a maioria socialista explique aos partidos da oposição, nesta câmara municipal e na assembleia municipal, de modo mais detalhado, aquilo que pretende fazer e demonstrar a sua viabilidade com estudos.
O nosso voto favorável é um sinal de abertura e de não enquistamento, responsável e próprio de um partido responsável que deseja ser ouvido e contribuir para a criação de um futuro mais sustentável no concelho.
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É este o sentido do nosso voto. Um voto favorável sobre a ideia mas que reclama um trabalho de estudo, de aprofundamento, de redimensionamento, de renegociação da opção arquitectónica e do próprio museu, um voto que reclama ainda mais transparência e mais informação por parte da maioria socialista.Um voto favorável muito condicionado e muito condicional. Um voto que pode vir a não ser duradouro, caso não venhamos a ser esclarecidos e elucidados sobre a existência de um bom projecto em concreto.

1 comentário:

Os 40 ladrões disse...

Sobre este assunto é favor consultar o seguinte link:

http://arqueologia.informe.com/viewtopic.php?p=3215#3215