terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Nunca é demais referir

No último post, comecei a falar de eleições autárquicas. Decididamente, este dossier reentrou na agenda política. As eleições serão, sensivelmente, dentro de ano e meio (Setembro de 2009). Não parece haver – e não há – tempo a perder.
Nem eu tenho tempo a perder a dar respostas e remoques a quem não o merece. Escrevo sobre o que me apetece, quando me apetece, neste espaço que é meu e está identificado. Nunca me fiz passar por outrem. Infelizmente, alguns falsos paladinos da ética não são assim.
Vamos ao que interessa, sem mais delongas.
As eleições do Outono de 2009 serão importantes, como sempre o são as eleições autárquicas. Interessa perceber se o PS vai conseguir nova vitória ou se o PSD pode reganhar a autarquia que já liderou fugazmente entre 1990 e 1993. Tudo se resume, uma vez mais, a isto. Depois, haverá candidaturas para eleger alguém e outras simplesmente para marcar calendário.
Em quase 33 anos de poder local, o PS leva 29 de exercício de acção governativa municipal em Abrantes. É muita responsabilidade, num eleitorado tradicionalmente socialista e que não vê nunca grandes razões para dar o seu voto a outro lado. O cidadão até promete muito na campanha – tanto quanto os políticos – dizendo que quer correr com os que lá estão e que irão votar em nós.
Tal como os políticos, o cidadão também nem sempre cumpre com a sua palavra. É assim a democracia madura em Portugal.
Deste modo, será sempre, em qualquer circunstância, muito difícil vencer o PS em Abrantes. Por isso é que alguns apoiantes do PSD, cansados de estarem na oposição e desanimados por verem as oportunidades sistematicamente adiadas, acabam por se encostar ao PS, porque assim sempre ‘mamam nas tetas do poder’. Verdade nua e crua. Alguns até chegam a ser eleitos e a desempenhar cargos e funções em torno da máquina do poder. Para os mais fiéis militantes do PSD, são os oportunistas; para o cidadão, em geral, foram espertos e dado que PS e PSD são iguais, o importante é saber safar-se, cada um por si, da melhor forma possível. Até há quem venha do lado da CDU e chegue até ao poder, por esta via. É assim, também a democracia madura em Portugal, eivada de ‘chicos-espertos’ que pululam pela rua fora gritando de punho direito fechado nas eleições autárquicas e, nas legislativas, tantas vezes, de dedos em forma de vê ou punho esquerdo bem erguido.
Em Sardoal e Mação, por exemplo, acontece o mesmo, mas ao contrário. Há gente próxima do PS, da CDU ou do BE, por exemplo, mas que se encosta ao PSD, pelas mesmíssimas razões de serventia do poder em uso.
O poder local é um feudo, onde alguns senhores feudais, distribuindo algumas benesses, acabam por conquistar líderes de opinião e centros de decisão para o seu lado. E porque sabem que a carne é fraca exploram as suas tentações em proveito próprio, numa atitude de compreensível auto-defesa. É por isso que é muito difícil ganhar eleições autárquicas. É por isso que, regra geral, elas se ganham mais pela derrota por erosão, inépcia, crime ou abandono de quem lidera, do que pela conquista dura do voto junto dos eleitores por parte dos desafiadores. OK, já sei que estão a ver-me com o ego em grande. Pode ser verdade, porque acho que não sou inferior a quem governa o concelho, que merecia uma oportunidade, que o concelho poderia e deveria ter experimentado a mudança e não me foi concedida essa oportunidade e, por isso, estou a arranjar desculpas para justificar a minha derrota. Contudo, nunca fui doido e sempre soube que seria muito difícil vencer. Estive sempre lúcido e estiveram sempre lúcidos os que estiveram próximo de mim.
O poder ganha-se, portanto, regra geral, quando quem governa o deixa fugir.
Foi isso que aconteceu ao PSD em Abrantes mas não é ainda o momento de se fazer a história desse período, como já aqui tenho escrito em diversas ocasiões.
São do meu conhecimento (e existam documentos escritos e gravados) episódios que poderiam ser preciosos ao arquivo municipal. Contudo, poucos elementos escritos e gravados estão na minha posse. Sei, contudo, quem tem alguns. Se fossem tornados públicos, a história desse período de tempo seria reescrita e alguns ‘cordeirinhos’ passariam a ser vistos como lobos; ao contrário, alguns dos que foram diabolizados então tenderiam a ver aligeirada a pena popular e poderiam reganhar simpatias e deferências que perderam. Enfim, ainda não passou todo o tempo preciso para se ter a distância suficiente para analisar fria e racionalmente o que sucedeu. Mais a mais, eu não sou nem isento nem historiador.
Mas, em jeito de preparação das eleições de 2009, é preciso ser racional e frio. E prospectivar com alguns dados do passado e do presente.
O concelho de Abrantes, em minha opinião, perdeu mais do que ganhou com os governos locais socialistas. Parece-me hoje evidente – e penso que aos olhos da generalidade dos abrantinos também – que o modelo socialista de governação do concelho foi marcado pela realização de obra física, pela aplicação de dinheiros comunitários, nacionais e da banca (e algum de auto-financiamento, para ser rigoroso), pelo aumento de dimensão humana da autarquia, mas pela forte ausência de oportunidades verdadeiramente ganhas para o concelho em geral.
É certo que temos hoje melhores infraestruturas desportivas e mais gente a praticar desporto, mas estamos ainda longe – muito longe – de a prática desportiva ser generalizadamente proporcionada à totalidade da população. É uma prática desportiva elitista, que não é para todos, que premeia os atletas com talento e tende a esquecer quem está sem acessibilidades às infraestruturas e quem não tem grande jeito para praticar desporto, ainda que dele precise por razões de saúde.
Na cultura, o cenário é idêntico. Ponto final, parágrafo!
Do turismo, nem é bom falar.
Na economia produtiva, seja comércio, indústria ou serviços, muita parra e pouca uva. Não há uma linha de rumo perceptível, com resultados tangíveis de que nos possamos orgulhar. Há novas empresas – poucas – de onde sobressaem duas unidades industriais que considero estarem a fazer um belo percurso e o mérito de as ter trazido é de quem governa o concelho. Falo, nomeadamente, da Silicália e da Oke Tillner. Claro que há também as empresas que já eram de cá ou já cá estavam e outras que vieram (mas que se vêem tímidas para já), mas estou apenas a referir os novos investimentos, os que vieram de fora e singraram e se afirmaram no contexto sócio-económico local. Posso estar a ser injusto e até haver outros bons exemplos mas com a força e o crescimento destas duas unidades parece-me que não haverá. Não desejo diminuir nenhuma empresa existente. Todas fazem falta e quem nos dera que houvesse mais e mais pujantes. Seria bom para todos, para nós, para os nossos filhos, para os nossos netos, para evitar o êxodo demográfico, para nos dar força, para nos dar o vencimento no final de cada mês, para nos dar alegrias e restituir auto-estima. Em última análise, egoísta, é bom para a vida de cada um.
Mas falta fazer muito, muitíssimo mais. E não me parece que gastar 10 milhões de euros num museu seja assegurar o futuro do concelho. Haverá outras oportunidades, embora a vertente cultural não seja de menosprezar. Pelo contrário.
Não tenho, contudo, nenhum projecto a empreender, a protagonizar e por isso terei de aguardar pela apresentação de propostas dos vários candidatos e candidaturas. A seu tempo. Mas repito: não tenho nenhum projecto para protagonizar ou dele fazer parte, nas próximas eleições. Tentei fazê-lo, no momento em que considerei oportuno, quando decidi fazer essa tentativa e essa aposta. Os meus concidadãos rejeitaram as minhas ideias e não guardo daí, nesta altura, nenhuma espécie de ressentimento ou rancor. Fiquei triste na altura mas há males que vêm por bem. E assim foi no meu caso. Como sou uma pessoa positiva, segui em frente e mudei de rumo. Tudo tem o seu tempo.
Há pessoas que pensam que o meu afastamento é fingido e que, mais em cima das eleições, voltarei a estar disponível para concorrer. Há até quem pense (em voz alta) que sendo Maria do Céu Albuquerque eu estarei interessado em concorrer porque, em teoria, será mais fácil derrotar o PS. Há até quem congemine uma lista fabulosa (de fábula…) em que eu seria eleito a meses das eleições, novamente como dirigente do PSD local, para voltar a ser candidato. Quem me conhece bem sabe que não é assim. Quero observar, dar um apoio, dar o meu contributo cívico mas nada mais.
Vamos ser claros: a minha vontade não é condicionada pelas opções dos outros, sobretudo dos outros partidos políticos ou de quem é alheio à vida do meu partido e à minha vida pessoal, sobretudo esta última. Ao contrário, as minhas opções dependem de mim, da minha família e das decisões que tomamos, em conjunto, sobre o nosso futuro. Fiz uma opção profissional da qual não me arrependo, em nada. Passou pouco mais de um ano e não foi fácil impor-me profissionalmente. Não irei agora hipotecar uma carreira que consegui recomeçar com esforço em troca de uma ilusão. Descobri outras pontos de interesse: trabalho muito, gosto de trabalhar, estou mais tempo com a minha família ao fim-de-semana, encontrei um atractivo egoísta na minha Quinta da Ponte Velha. Para quê prescindir de tudo quanto me dá tanto prazer?
Portanto, eu não tenho vontade e, pelo que sei, o PSD procura - e bem - uma solução nova, forte, vencedora. Cá estarei para a apoiar, como espero que mereça.
Continuo atento ao que se passa e a querer ajudar o meu partido de sempre, confiante de que um dia chegará – em 2009 ou depois, não sei – em que os munícipes depositarão confiança no PSD a nível autárquico, se este partido continuar a apresentar boas propostas e bons candidatos, como tem conseguido fazer. Mas, para que isso aconteça, há um longo trabalho paralelo à escolha das equipas e das ideias que tem de ser feito, de desmistificação da falsa perfeição dos socialistas, que estão inseridos em todas as colectividades desportivas, culturais, recreativas, de solidariedade social. Isso requer tempo, um tempo que os militantes e dirigentes do PSD, pelo menos no tempo em que eu fui dirigente, não tiveram ou não demonstraram, salvo uma outra excepção.
Os socialistas de Abrantes sacrificam-se mais ou têm mais tempo disponível, por força das suas vidas profissionais, em geral, para as colectividades e, com isso, para se fazerem evidenciar na sociedade? Penso que terão um pouco mais de disponibilidade, em geral, mas admito que também possa haver gente que não é comodista nem conformista. Há excepções, mas muitos dos quadros do PS de Abrantes conhecidos e que estão à vista são trabalhadores do Estado, logo, terão tido um horário um pouco mais facilitado do que quem trabalha na vida das empresas. Sei que isto ofende quem trabalha para o Estado mas eu também já trabalhei durante 5 anos e sei bem que agora trabalho muito mais. Sem comparação, apesar de o Estado estar a mudar e haver hoje mais dedicação em muitas funções do Estado do que havia há uma década atrás.
Por isso, o trabalho a fazer nem é tanto de programa eleitoral ou de escolha de equipas, embora ambos os factores também sejam importantes. É, antes, de penetração social, de identificação com o eleitorado, de trabalho nas colectividades, de cheque passado para apoiar o desporto, a cultura e o folclore. É uma política de ‘compra’ em que quem o faz usa dinheiro, em geral ‘nosso’ e quem se deixa vender não o quer admitir. É uma luta desigual mas é a que existe.
Em conclusão, o trabalho não é fácil e a tentação de ser ‘treinador de bancada’ é ainda maior. Dou conselhos sem me pedirem e aconselho os meus companheiros a que façam o que eu não consegui fazer.
Definitivamente, as eleições autárquicas já mexem.

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